sábado, 22 de junho de 2013

O Padre-poeta

Padre Antônio Tomaz
Padre Antônio Tomaz  nasceu em Acaraú e fez seus primeiros estudos em Sobral. No Seminário da Praínha,  concluiu os cursos de Filosofia e Teologia, sendo ordenado padre em 1891. Como sacerdote, exerceu o seu ministério  em paróquias do interior cearense, principalmente em Acaraú, sua cidade natal. Desde cedo, sentia a necessidade de expressar em poesia sua visão do mundo. Escreveu dezenas de poesias, sem nenhuma intenção de publicá-las.  Mas a grandeza de seus versos não podia passar despercebida.  Seus amigos, então, resolveram  divulgá-los, através do Jornal A República. A consagração do Padre-poeta aconteceu em 1925, quando, numa pesquisa realizada pela revista Ceará Ilustrado, o Padre Antônio Tomaz foi escolhido como o Principe dos poetas cearenses  e classificado entre os maiores sonetistas brasileiros. Dentre os sonetos do Padre-poeta, selecionei para apresentar neste blog: Contraste, O Palhaço, A Meretriz.


CONTRASTE
“Quando partimos no verdor dos anos
Da vida pela estrada florescente,
As esperanças vão conosco à frente,
E vão ficando atrás os desenganos.

Rindo e cantando, céleres, ufanos,
Vamos marchando descuidosamente;
Eis que chega a velhice, de repente,
Desfazendo ilusões, matando enganos.

Então, nós enxergamos claramente
Como a existência é rápida e falaz,
E vemos que sucede, exatamente,

O contrário dos tempos de rapaz:
Os desenganos vão conosco à frente,
E as esperanças vão ficando atrás!”

O PALHAÇO
Ontem, viu-se-lhe em casa a esposa morta
E a filhinha mais nova, tão doente!
Hoje, o empresário vai bater-lhe à porta,
Que a platéia o reclama, impaciente.

Ao palco, em breve surge... pouco importa
O seu pesar àquela estranha gente...
E ao som das ovações que os ares corta,
Trejeita, canta e ri, nervosamente.

Aos aplausos da turba, ele trabalha
Para encontrar no manto em que se embuça
A cruciante angústia que o retalha.

No entanto, a dor cruel mais se lhe aguça
E enquanto o lábio trêmulo gargalha,
Dentro do peito o coração soluça.

A MERETRIZ
Essa mulher de face encaveirada,
Que vês tremendo em ânsias de fadiga,
Estendendo a quem passa a mão mirrada,
Foi meretriz, antes de ser mendiga.

Em breve fugiu-lhe a sorte airada,
A mocidade, a doce quadra amiga,
E ela se viu pobre e desgraçada
Antes de tempo, a tanto o vício obriga.
Ontem, do gozo e da volúpia ardente
Fosse a quem fosse dava a qualquer hora
O seio branco e o lábio sorridente

Hoje, triste sina, embalde chora,
Pedindo esmola àquela mesma gente
Que de seus beijos se fartara outrora.