domingo, 23 de novembro de 2014

Manoel de Barros

Manoel de Barros
O poeta Manoel de Barros faleceu em 13 de novembro de 2014, aos 97 anos de idade. Nasceu em Cuiabá e passou sua infância em Corumbá, em meio à natureza exuberante do Pantanal. Nos últimos anos, residia em Campo Grande com a esposa. 
O que mais me atrai nos poemas de Manoel de Barros é sua paixão pela natureza; tudo despertava nele encantamento: os pássaros, as aves, os rios. Dizia ele: “Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim esse atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso.”
Em homenagem ao poeta, transcrevo abaixo um de seus poemas: Gratitude das Aves e dos Lírios.

                               Gratitude das Aves e dos Lírios


Sempre que a gratuidade pousa em minhas palavras,
elas são abençoadas por pássaros e por lírios.
Os pássaros conduzem o homem para o azul,
para as águas, para as árvores e para o amor.

Ser escolhido por um pássaro para ser a árvore dele:
eis o orgulho de uma árvore.
Ser ferido de silêncio pelo voo dos pássaros:
eis o esplendor do silêncio.
Ser escolhido pelas garças para ser o rio delas:
eis a vaidade dos rios.
Por outro lado, o orgulho dos brejos é o de serem escolhidos
por lírios, que lhes entregarão a inocência.

Sei, entrementes, que a ciência faz cópia de ovelhas,
que a ciência produz seres em vidros.
Louvo a ciência por seus benefícios à humanidade,
mas  não concordo que a ciência não se aplique em produzir
Encantamentos.

Por quê não medir, por exemplo, a extensão do exílio das cigarras?
Por quê não medir a relação de amor que os pássaros têm com as brisas da manhã?
Por quê não medir a amorosa penetração das chuvas no dentro da terra?

Eu queria aprofundar o que não sei, como fazem os cientistas,
 mas só na área dos encantamentos.
Queria que um ferrolho fechasse o meu silêncio, para eu sentir melhor as coisas incriadas.
Queria poder ouvir as conchas, quando elas se desprendem da existência.
Queria descobrir por quê os pássaros escolhem a amplidão para viver,
enquanto os homens escolhem ficar encerrados em suas paredes.

Sou leso em tratagem com máquina; mas inventei, para meu gasto,
um Aferidor de Encantamentos.
Queria medir os encantos que existem nas coisas sem importância.
Eu descobri que o sol, o mar, as árvores e os arrebois são mais enriquecidos pelos pássaros do que pelos homens.

Eu descobri, com o meu Aferidor de Encantamentos, que as violetas e as rosas e as acácias são mais filiadas dos pássaros do que os cientistas.
Porque eu entendo, desde a minha pobre percepção, que o vencedor, no fim das contas, é aquele que atinge o inútil dos pássaros e dos lírios do campo.
Ah, que estas palavras gratuitas possam agora servir de abrigo para todos os pássaros do mundo!



sábado, 15 de novembro de 2014

Por que meditar

Bokar Rinpoche

Bokar Rinpoje é um  sábio budista, nascido no Tibete em 1940. Como tantos outros sábios, em 1959 ele teve que abandonar o Tibete, ocupada então pelos chineses. Em 1980, inicia suas viagens pelo Ocidente, onde instala centros de meditação, sobretudo na França. Bokar é autor de vários livros, dentre os quais se destaca   “Meditação - Conselhos aos Principiantes”. Bokar mostra que o sofrimento e a felicidade não dependem de fatores externos , mas da própria mente. Ele oferece maneiras de evitar o sofrimento e desenvolver felicidade e paz.

                 Meditação - Conselho aos principiantes

Os homens são afligidos por sofrimentos, angústias e medos inumeráveis e são incapazes de evitá-los. A meditação tem por função eliminar esses sofrimentos e essas angústias.

Pensamos, geralmente, que felicidade e sofrimento surgem de circunstâncias exteriores. O ponto de vista budista considera, ao contrário, que felicidade e sofrimento não dependem fundamentalmente das circunstâncias exteriores, mas da própria mente. Uma atitude de mente positiva engendra a felicidade, uma atitude negativa produz o sofrimento.

Como compreender esse engano que nos faz procurar fora aquilo que podemos encontrar dentro? Uma pessoa de rosto limpo e nítido, ao se olhar em um espelho vê um rosto limpo e nítido. Aquele cujo rosto é sujo e maculado de lama vê no espelho um rosto sujo e maculado. Em verdade, o reflexo não tem existência; só o rosto existe. Esquecendo o rosto, tomamos seu reflexo por real. A natureza positiva ou negativa de nossa mente se reflete nas aparências exteriores que nossa própria mente nos envia. A manifestação exterior é uma resposta à qualidade de nosso mundo interior.

A felicidade que desejamos não virá da reestruturação do mundo que nos cerca, mas da reforma de nosso mundo interior. O indesejável sofrimento só cessará na medida em que não embotarmos nossa mente com todos os tipos de negatividades. Enquanto não reconhecermos que felicidade e sofrimento têm sua origem em nossa própria mente, permanecemos impotentes para estabelecer um estado de felicidade autêntica, impotentes para evitar as contínuas ressurgências do sofrimento. Qualquer que seja nossa esperança, ela é sempre decepcionada.

 Se, ao descobrirmos no espelho a sujidade de nosso rosto, decidíssemos lavar o espelho, mesmo que esfregássemos fortemente durante anos com sabão e água em abundância, nada aconteceria; nem a mínima sujeira, nem a mínima mancha desapareceria do reflexo. Por falta de orientarmos nossos esforços para o objeto justo, eles permanecem perfeitamente vãos. Eis por que o budismo e a meditação têm por primordial compreender que felicidade e sofrimento não dependem fundamentalmente do mundo exterior, mas de nossa própria mente. Na falta dessa compreensão, nunca nos voltaríamos para o interior e continuaríamos a investir nossa energia e nossas esperanças numa vã busca exterior. Uma vez adquirida essa compreensão, podemos lavar nosso rosto: o reflexo surgirá limpo no espelho.

   É preferível, para os principiantes, limitar-se a curtas sessões de dez ou quinze minutos. Mesmo que a meditação seja boa, devemos parar. Depois, se dispusermos de tempo necessário, faremos uma segunda sessão curta, após uma pausa. Melhor é proceder por uma sucessão de curtas sessões, do que engajar-se numa longa sessão que, mesmo boa no início, corre o risco de resvalar para a dificuldade e cansar o meditador.

   Os principiantes, sem saber com exatidão o que é a meditação, criam a expectativa de uma calma perfeita, totalmente livre dos pensamentos. Temem sua vinda e, quando estes surgem, desolam-se por sua incapacidade de meditar. Temer os pensamentos, irritar-se ou inquietar-se com seu aparecimento, crer que a falta de pensamentos é uma boa coisa em si, são erros que conduzem a um estado de frustração e culpa inúteis. A mente de um não-meditador, de um principiante e de um meditador confirmado, é atravessada por pensamentos. Mas, a maneira de abordá-los varia de modo considerável de um para o outro.

Alguém que não pratica a meditação é, em sua relação com os pensamentos, semelhante a um cego, o rosto voltado para uma estrada longínqua. O cego é incapaz de ver se automóveis passam ou não na estrada. Da mesma forma, a pessoa comum, embora experimentando um sentimento vago de desconforto e mal estar interiores, não está consciente da torrente de pensamentos que, no entanto, escoa sem interrupção.

Ao começarmos a meditar, descobrimos os olhos para ver, mas gostaríamos que não passasse nenhum automóvel na estrada. Vem um primeiro automóvel, nossa atenção decepciona-se. Um segundo, nova decepção. Um terceiro,  irritamo-nos, etc. A esperança ingênua de uma estrada vazia é incessantemente enganada. Estamos ao mesmo tempo conscientes e infelizes com a sucessão dos veículos. Cada automóvel que passa é uma nova dificuldade. Revoltamo-nos contra um estado de coisas inevitável. Quando encaramos a meditação como um espaço desprovido de pensamentos, cada pensamento que se apresenta contradiz com evidência esse esquema preconcebido; estamos em situação de fracasso quase permanente.

Quando, ao contrário, compreendemos bem em que consiste a meditação, vemos desfilar os automóveis,  mas sem revolta nem recusa, sem ter decidido que a estrada deveria estar vazia. Não esperamos a ausência de veículos, assim como não nos apavoramos com sua presença. Os automóveis passam e os deixamos passar; eles não são nem nocivos, nem benéficos. Se os pensamentos se elevam, deixamos que passem  naturalmente, sem nos ligarmos a eles nem condená-los.  Uma abordagem sã dos pensamentos condiciona uma boa meditação. As pessoas que compreendem mal a meditação creem que todos os pensamentos devem cessar. Não podemos, de fato, estabelecer-nos num estado sem pensamentos. O fruto da meditação não é a ausência de pensamentos, mas o fato de que os pensamentos cessam de ser nocivos para nós. De inimigos, os pensamentos tornam-se amigos.  

Meditar alguns dias, alguns meses, até mesmo um ano, depois abandonar, também não dará frutos. Um enfermo deve tomar seus medicamentos até a cura completa. Se ele para o tratamento, mesmo que este dure meses ou anos, o mal triunfará. Devemos prosseguir nossa meditação, até que tenhamos alcançado uma realização efetiva e estável. Regularidade e perseverança são duas condições necessárias para uma meditação proveitosa.

domingo, 2 de novembro de 2014

Uma lenda hindu



Js.
Uma antiga lenda hindu conta que houve um tempo em que todos os homens eram deuses. Mas eles abusaram de tal maneira de sua divindade que Brahma, o mestre dos deuses, resolveu retirar-lhes o poder divino e de escondê-lo em um lugar impossível de alcançá-lo. Mas o grande problema era encontrar um lugar seguro para esse poder divino. 

Os deuses menores convocados para uma reunião, a fim de resolver o problema, propuseram o seguinte: “Enterremos a divindade nas profundezas da terra”. Mas Brahma respondeu: “Não, isto não é suficiente, pois o homem cavará a terra e a encontrará”. Então, os deuses replicaram: “Nesse caso, lancemos a divindade no mais profundo dos oceanos”. Mas Brahma não aceitou a nova proposta dizendo que, mais cedo ou mais tarde, o homem explorará as profundezas de todos os oceanos e certamente que um dia a encontrarão e tomarão posse do tesouro.  Então, os deuses menores concluíram: Sendo assim, não sabemos onde escondê-la, já que parece não existir na terra ou no mar um lugar que o homem não possa um dia descobrir. 

Então Brahma disse: "Eis o que faremos da divindade do homem; nós a esconderemos no mais profundo dele mesmo, em seu coração, pois este é o lugar que ele jamais pensará em encontrá-la." 

A lenda diz que, desde esse tempo, o homem percorreu a terra, explorou a lua, escalou as mais altas montanhas, mergulhou nas profundezas dos oceanos, penetrou na terra, sempre à procura de alguma coisa que se encontra nele.

Esta lenda contém lições de sabedoria. Em primeiro lugar, ela nos mostra como sempre foi difícil para o ser humano se voltar para dentro de si mesmo. Somos seduzidos desde cedo pelo progresso da tecnologia e nossa vida é quase toda dedicada ao fazer. Vivemos na periferia da vida e poucos são aqueles que descobrem a sua mais profunda essência: o Ser, que é a nossa verdadeira natureza.

O maior obstáculo para vivenciar essa realidade é a identificação com a mente. Os pensamentos nos tornam pessoas sempre ausentes, de modo que não encontramos a área de serenidade interior, que é inseparável do Ser.

Mas o “paraíso perdido” pode ser recuperado e isto é o que tem acontecido com milhares de pessoas, tanto no passado como nos tempos atuais.  

No século IV, Santo Agostinho conhecia esta verdade: “Os homens seguem-se maravilhados com as grandes alturas das montanhas, com as gigantescas ondas do mar, com as amplas corredeiras dos rios, os vastos limites dos oceanos, as trajetórias das estrelas, e passam por si próprios sem maravilhar-se.”
Essa maravilha de que fala Santo Agostinho é a centelha divina presente em cada ser humano, o tesouro escondido que precisa ser descoberto.

Ramana Maharshi, um grande sábio indiano, aconselhava às pessoas que anseiam por descobrir essa Realidade interior a fazerem a si mesmas, nos momentos de quietude, a seguinte pergunta: “Quem sou eu?”. Não vale a resposta que a mente possa lhe dar. Você não é sua história de vida, seu nome, sua profissão, suas posses. Tudo isso são agregados acumulados pelo tempo. A revelação deve acontecer quando a pessoa está num estado de tranquilidade e receptivo para receber a resposta que vem do seu próprio interior. Um requisito básico para essa experiência é a humildade, que nos mantém pacientes e persistentes. Devemos esperar humildemente por esta revelação do Infinito, que está dentro de cada um de nós.

Neste sentido é que devem ser compreendidas as palavras de Jesus: “Graças te dou, ó Pai, Senhor dos céus e da terra, pois escondeste estas coisas dos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos.”

Quando temos a sorte de descobrir a “boa nova” da presença divina em nós, percebemos quão alienados da verdade está o nosso mundo e compreendemos, então, a veracidade da lenda:  “Eis o que faremos da divindade do homem; nós a esconderemos no mais profundo dele mesmo, em seu coração, pois este é o lugar que ele jamais pensará em encontrá-la.”

sábado, 18 de outubro de 2014

Consciência do "corpo interior".

Eckhart Tolle
Embora a identificação com o corpo seja uma das formas mais básicas do ego, o lado bom disso é que, na maioria das vezes, temos condições de superar essa questão.

Não fazemos isso tentando nos convencer de que não somos nosso corpo, e sim desviando a atenção da nossa aparência física e dos pensamentos sobre ela - beleza, feiura, força, fraqueza, gordura, magreza – para a sensação de energia vital interna.  Não importa o aspecto do corpo no plano exterior, pois, além disso, ele é um campo energético intensamente vivo.

Se você não tem familiaridade com a consciência do “corpo interior”, feche os olhos por um momento e descubra se existe vida dentro das suas mãos. Não pergunte á sua mente. Ela responderá: “não sinto nada.” Também é provável que diga: “dê-me algo mais interessante sobre o que pensar”. Então, em vez de dirigir a pergunta a ela, vá direto para suas mãos. Com isso quero dizer o seguinte: torne-se consciente do sentimento sutil de vida que há nelas.

Para percebê-lo, basta manter-se atento. Você poderá ter uma ligeira impressão de tremor no inicio e, depois uma sensação de energia vital. Caso se concentre em suas mãos por alguns instantes, a sensação dessa energia se tornará mais intensa.  Há pessoas que nem sequer precisam fechar os olhos. Elas são capazes de sentir suas “mãos interiores” ao mesmo tempo em que leem este texto. 

Em seguida, passe para os pés, fixe a atenção neles por cerca de um minuto e comece a sentir as mãos e os pés simultaneamente. Por fim, inclua outras partes do corpo – pernas, braços, abdômen, tórax, e assim por diante – até estar consciente do corpo inteiro como uma sensação global de energia vital.
O que chamo de “corpo interior” já não é mais o corpo, e sim energia vital, a ponte entre a forma e o informe. Adquira o habito de sentir o corpo interior sempre que for possível. Depois de um tempo, você não precisará mais fechar os olhos para isso.

Por exemplo, veja se é capaz de senti-lo sempre que estiver escutando alguém. Chega a ser um paradoxo: quando estamos em contato com o nosso corpo interior, não estamos mais identificados nem com o corpo nem com a mente. É o mesmo que dizer que não nos identificamos mais com a forma, que estamos nos afastando dessa situação e indo em direção ao sem forma, que podemos também chamar de Ser. Isso é a nossa identidade essencial.

A consciência do corpo não só nos ancora no momento presente, como é uma passagem para fora da prisão que é o ego. Além disso, fortalece o sistema imunológico e a capacidade que o corpo tem de curar a si mesmo.

In:  "O despertar de uma nova consciência"

sábado, 4 de outubro de 2014

Sumo dos textos (5)

Thich Nhat Hanh
          Como lidar com a raiva
A principal causa da raiva é a sua semente que existe dentro de nós mesmos. Se não houver sementes de raiva em nossa consciência armazenadora, esse sentimento não pode surgir.
  
Quando as chamas da raiva se acendem, a tendência é atacarmos quem regou as sementes desse sentimento que temos dentro de nós. É como encontrarmos nossa casa incendiada e, em vez de procurarmos apagar as chamas, sairmos em busca da pessoa que acreditamos ter ateado o fogo. 

Quando esse sentimento se manifesta, devemos nos voltar para dentro  de nós mesmos e usar a energia da atenção plena par abraçá-lo, suavizá-lo, iluminá-lo.

De acordo com o que foi ensinado pelo Buda, quando a raiva surge, temos que fechar os olhos e ouvidos, retornar para nós mesmos e procurar a fonte interior desse sentimento. O essencial é regarmos a semente da atenção plena e deixá-la surgir na nossa mente consciente.

Quando nosso estômago dói, não ficamos com raiva dele. No momento em que a mãe escuta o bebê chorando, ela deixa o que está fazendo, toma a criança nos braços e a acalenta. Depois procura descobrir o motivo do choro, se ele se deve a um desconforto físico ou emocional.

Temos que examinar a raiva a fundo, como faríamos com nosso próprio filho. Não devemos rejeitá-la nem odiá-la. A respiração consciente abranda e acalma a raiva e a atenção plena a penetra.

                                        In: “Ensinamentos sobre o amor



Sogyal Rinpoche
                O caminho para conhecer a mente
A meditação é o único caminho pelo qual podemos, gradualmente, compreender a natureza da mente.  

Aos poucos, começamos a perceber em nós uma presença calma, vasta como o céu, aquilo que Milarepa chama a "imortal e infinita natureza da mente". 

E quando essa nova consciência começa a tornar-se visível e quase indestrutível, ocorre o que os Upanixades chamam “uma virada na sede da consciência”, uma revelação profunda, pessoal e não-conceitual do que somos, por que estamos aqui e como devíamos agir, o que resulta, no final, em nada menos do que numa nova vida, num novo nascimento e quase no que se poderia chamar de uma ressurreição.
 In: O livro tibetano do viver e do morrer
 
                                       S ê   A t e n t o

Procura em ti a chama que está sempre a brilhar. Criaste labirintos dentro de ti e estes, por vezes, te distanciam da tua preciosidade... Não te percas de vista, sê atento. Sê atento para poderes vislumbrar tuas sementes, tuas chuvas fartas, a transformar a aridez do teu solo. Sê atento e verás que tudo que brilha fora, na realidade, está dentro de ti. 

Sê atento e sente; o ar que respiras é o que mantém tua vida e o que mantém tua ânsia de viver não é deste mundo, mas está aqui, moldando o teu destino. Deixa tua visão percorrer teu mundo interno e, lá, sente o que és verdadeiramente. É possível estar aqui, viver a tua escolha, mas não te esqueças que dentro de ti reside a essência, o sopro divino, e esta deverá receber teus cuidados, tua dedicação, para que assim possas percorrer por este mundo, vivê-lo intensamente e, ainda assim, não perder de vista a tua missão, o teu reencontro com o que é sagrado em ti. Sê atento, não estás aqui por acaso. 

A vida é mais que acordar e viver o dia a dia... É necessário senti-la e, através da percepção que te é dada, descobrir o que move o teu ser, o que determina os teus passos, a tua persistência em continuar... Sempre continuar. 

Sê atento; para cada causa existe um efeito. Nada está solto, tudo é uma continuidade. Portanto, transforma a tua continuidade em conchas de alegria e conhecimento. O melhor depende de ti.       (Autor desconhecido

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Sumo dos textos (4)

Elisabeth Cavalcante
                          SILENCIANDO A MENTE

Como manter sob controle o turbilhão de pensamentos que povoam a mente o tempo todo? A única ferramenta capaz de nos auxiliar é a meditação. E quando digo meditação, isto significa simplesmente manter-se alerta, totalmente no aqui e agora. 

Se conseguir manter a atenção sobre seus pensamentos, ainda que por alguns minutos ao dia, você verá que, aos poucos, eles vão perdendo força, até que, repentinamente, acontece o que chamamos não-mente, ou seja, a ausência de pensamentos, o silêncio, o vazio, onde habita a dimensão divina de nosso ser.

Quanto mais tempo conseguirmos permanecer no silêncio, mais chances teremos de "ouvir" a voz que se esconde em nosso interior. A intuição, este poderoso guia que sempre nos leva aos caminhos mais adequados à nossa evolução, se manifesta mais fortemente nos momentos em que conseguimos manter a mente em repouso.



Ingrid Bacci
                              RESPIRE  E  RELAXE

Como você respira?

1. Conte as suas respirações por um minuto, sem alterar o modo como habitualmente respira. Quantas foram? A maioria das pessoas respira mais ou menos de onze a trinta vezes por minuto. Quando seu corpo respira de maneira plenamente relaxada, o número costuma situar-se entre quatro a dez respirações por minuto. Todavia, se o seu ritmo não é tão lento, não se alarme. Você apenas descobriu que seus hábitos respiratórios estão com muita probabilidade contribuindo para a sua dor. Munido desse novo conhecimento, você poderá desenvolver hábitos respiratórios que reduzirão a dor e o farão sentir-se melhor.

2. Repare se respira pelo peito ou pela barriga. Se você for um “respirador de peito”, o seu peito se moverá mais do que a barriga durante a inspiração. Depois que você aprender a respirar profunda e livremente, o seu peito só se moverá um pouco e sua barriga se projetará mais durante a inspiração, recuando na expiração.

3. Você costuma reter o fôlego? Muitas pessoas retêm a respiração com frequência e sem ter consciência disso, não apenas em situações de grande stress, mas durante as atividades mais simples.

4. A sua respiração é ruidosa? A respiração diafragmática não é ruidosa. Quanto mais profunda e livre for a sua respiração, mais silenciosa será. A respiração tende a tornar-se mais silenciosa à medida que passa a exigir menos esforço. A facilidade da respiração é um indício claro de que você está respirando bem.

Princípios para desenvolver a Respiração Diafragmática:

1. Observe e aceite. Comece a observar a sua respiração, sem julgamentos. Não tente alterá-la. Apenas observe o que de fato está acontecendo em seu corpo e, em especial, em sua respiração. Se fizer isso, a respiração se modifica por si mesma. A sua respiração irá gradualmente melhorando, tornando-se mais profunda, livre e fácil; basta que você a observe com curiosidade intensa e desprendida.

2. Tente sentir o corpo. Sentir é o mesmo que relaxar; quanto mais você sente o corpo com inteira aceitação, mais o funcionamento dele melhora automaticamente.

Infelizmente, o stress crônico reduz a nossa capacidade de sentir, porque injeta tensão em nosso corpo. Quanto maior a tensão, menor a sensação.

3. Imagine que os seus tecidos são maleáveis.  Músculos tensos são rígidos e duros; músculos relaxados são flexíveis e maleáveis.

4. Seja carinhoso com o seu corpo. O seu corpo é parte de você. Pense nele como uma criança sensível que precisa de amor e atenção. Ele merece ser ouvido e tem muito a nos ensinar.

5. Trabalhe com a respiração, diariamente. Considerando-se que você está tentando modificar hábitos antigos, que resultam em dor crônica, precisa de paciência e persistência. Os hábitos só mudam com a prática regular.

In: "Livre-se facilmente da dor crônica"

sábado, 23 de agosto de 2014

O despertar de uma nova consciência

Eckhart Tolle
"O despertar de uma nova consciência” é um livro que vale a pena ser lido. Eckhart Tolle nos ensina a importância de estarmos conscientes, em vez de vivermos na identificação com os pensamentos. Estarmos presentes em tudo o que  realizamos é a melhor maneira de praticarmos a espiritualidade.
Eckhart Tolle é um autêntico sábio, enviado à terra para projetar luz sobre a obscuridade dos tempos atuais.

            Seguem algumas passagens mais relevantes do livro
Sempre que não encobrimos o mundo com palavras e rótulos, retorna à nossa vida a sensação do milagre, que foi perdida muito tempo atrás, quando a humanidade, em vez de usar o pensamento, deixou-se possuir por ele.
                           
O Ser deve ser sentido. Não pode ser pensado. O ego não o conhece porque ele se compõe apenas de pensamento. “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o Reino dos Céus”, disse Jesus. O que significa “humildes de espírito?”. Nenhuma bagagem interior, nenhuma identificação. Nenhuma relação com coisas e com conceitos mentais. E o que é o “Reino dos Céus?”. A simples, porém profunda alegria do Ser, que está presente, quando abandonamos as identificações e nos tornamos “humildes de espírito”.

 O ego é, invariavelmente, a identificação com a forma. As formas não são apenas objetos materiais e corpos físicos. Mais essenciais do que essas formas externas são as formas de pensamento que surgem de modo contínuo no campo da consciência. Elas são formações energéticas, mais sutis e menos densas do que a matéria física, porém são formas de qualquer maneira.

Descartes deu expressão a esse erro fundamental (o esquecimento do Ser pela identificação com a forma) através da máxima: ”Penso, logo existo”. Essa foi a resposta que ele encontrou para a pergunta: “Há alguma coisa que eu possa saber com certeza absoluta?”. Descartes compreendeu que o fato de estar sempre pensando estava além de toda a dúvida; assim, igualou o pensamento ao Ser. Em vez da verdade suprema, ele havia detectado a origem do ego, mas não sabia disso.
 
 Passaram-se quase 300 anos, antes que outro renomado filósofo francês visse algo naquela afirmação que Descartes não havia percebido. Seu nome era Jean-Paul Sartre. Ele refletiu muito sobre a afirmação de Descartes e, de repente, compreendeu algo. Em suas próprias palavras: “A consciência que afirma ‘eu sou’ não é a consciência que pensa”. O que ele quer dizer com isso?. Quando estamos conscientes de que estamos pensando, essa consciência não parte do pensamento. É uma dimensão diferente de consciência.

Se não houvesse nada além do pensamento em nós, nem sequer saberíamos que pensamos. Seríamos como alguém que está sonhando e não sabe que está fazendo isto. Estaríamos identificados com cada pensamento, assim como aquele que sonha está identificado com cada imagem do sonho.
 
A consciência é o poder oculto dentro do momento presente. É por isso que podemos chamá-la de presença. O propósito supremo da existência humana é trazer esse poder ao mundo.
                
Depois que compreendemos que todas as estruturas (formas) são efêmeras, a paz surge dentro de nós. Isso acontece porque o reconhecimento da impermanência de todas as formas nos desperta para a dimensão do que não tem forma no nosso interior, o que está além da morte. Jesus chama isso de “vida eterna”.
 
A causa primeira da infelicidade nunca é a situação, mas os pensamentos sobre ela. Portanto, tome consciência dos pensamentos que estão lhe ocorrendo. Separe-os da situação, que é sempre neutra – ela é como é. Encarar os fatos é sempre fortalecedor. Tome consciência de que, na maioria das vezes, o que você pensa é o que cria suas emoções – observe a ligação entre eles. Em vez de ser seus pensamentos e suas emoções, seja a consciência por trás deles.