sábado, 22 de fevereiro de 2014

A Doutrina de Buda


A ilusão e a Iluminação originam-se na mente e tudo é criado pelas diferentes funções da mente. Nada existe no mundo que não seja criado pela mente.

A vida de ilusão começará a partir do momento em que houver o apego às coisas. Aquele que está seguindo o Nobre Caminho para a Iluminação não deve nutrir tristes recordações daquilo que passou, nem deve antegozar o futuro; deve, isto sim, com uma mente justa e tranqüila, acolher aquilo que vier.

O ouro puro é obtido pela fusão do minério e pela remoção da ganga impura. Se os homens fundissem o minério de suas mentes e removessem todas as impurezas da paixão mundana e do egoísmo, poderiam descobrir em si mesmos a pura natureza búdica.

Embora a natureza búdica exista em todos os homens, ela se acha profundamente encoberta pelo lodo das paixões humanas e permanece por longo tempo desconhecida. Eis por que o sofrimento é tão universal e eis por que há esta interminável repetição de vidas miseráveis.

Os homens devem abandonar, enquanto jovens e saudáveis, toda cobiça e apego aos negócios mundanos e buscar seriamente a Iluminação, pois não haverá nenhuma esperança nem felicidade, fora da Iluminação.

Todos os tesouros do mundo – todo o seu ouro, prata, honra –não se compara à sabedoria e à virtude. Se um homem puder controlar a mente, poderá encontrar o caminho da Iluminação e toda a sabedoria e virtude a ele virão com naturalidade.

Assim como as pedras preciosas são tiradas da terra, a virtude surge dos bons atos e a sabedoria nasce da mente pura e tranqüila. Para se andar com segurança nos labirintos da vida humana é necessário que se tenham como guias a luz da sabedoria e a virtude.

Quando chega a primavera e os pastos estão verdejantes, com abundância de capim, os fazendeiros aí voltam seus gados, mantendo estreita vigilância sobre eles. Assim deve ser com a mente: mesmo sob as melhores condições, a mente deve ser vigiada.

Aqueles que buscam a Iluminação devem ser cautelosos com seus primeiros passos. Não importa quão alta possa ser a aspiração de cada um, a Iluminação deve ser atingida passo a passo. Os passos do caminho da Iluminação devem ser tomados em nossa vida cotidiana, hoje, amanhã, depois, e assim por diante.

A verdadeira riqueza não é o ouro e sim a mente. Se alguém tiver os olhos bem abertos, poderá ver em tudo um ensinamento e, assim, suas oportunidades para a Iluminação são infindáveis.
Há um velho provérbio que diz: “Conserve a sua mente equilibrada. Se ela for equilibrada, todo o mundo também será equilibrado”.

Evitar todo o mal, procurar o bem, conservar a mente pura: eis a essência  do ensinamento de Buda.
Assim como um cavaleiro guarda o portão do seu castelo, deve-se proteger a mente dos perigos externos e internos; não se deve negligenciá-la nem por um momento sequer.

O sol faz brilhante o dia, a lua embeleza a noite, a disciplina aumenta a dignidade de um soldado e a tranqüila meditação distingue aquele que busca a Iluminação.

O segredo da saúde da mente e do corpo está em não lamentar o passado, em não se afligir com o futuro, em não antecipar preocupações, mas em viver sábia e seriamente o momento presente.

Os irmãos devem sempre ter em mente que, cedo ou tarde, serão obrigados a partir, como seus pais, desaparecendo deste mundo de nascimento e morte. Não devem, portanto, apegar-se às coisas desta vida, mas devem dirigir suas mentes para o mundo da Iluminação, em que nada desaparece.

É errado pensar que os infortúnios vêm do leste ou do oeste; eles se originam na própria mente. Portanto, é tolice proteger-se contra os infortúnios vindos de fora e deixar descontrolada a mente.

No caminho da Iluminação não há distinção de sexo. Se uma mulher tiver a mente para buscar a Iluminação, ela se tornará a heroína do Verdadeiro Caminho.

Assim como a brisa suave e as poucas flores dos galhos anunciam a chegada da primavera, a grama, as árvores, as montanhas, os rios e todas as outras coisas, começarão a palpitar com nova vida, quando um homem alcança a Iluminação.

Um palácio de ouro, mas manchado de sangue, não pode ser a morada de Buda. Mas um casebre, em que o luar entra através das fendas do teto, pode ser transformado em palácio, onde Buda poderá morar, se o dono tiver uma mente pura.

Buda espera a todos na outra praia, isto é, no seu mundo da Iluminação, onde não há ganância, nem ódio, nem sofrimento; é um mundo onde há apenas a luz da sabedoria e a chuva da compaixão.


In: Bukkyo Dendo Kyokai (Fundação para a propagação do Budismo).

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Olhar para dentro

Sogyal Rinpoche
A diferença que essa leve mudança de orientação pode fazer é enorme, e pode reverter aqueles desastres que ameaçam o mundo. Quando um número muito maior de pessoas conhecer a natureza de sua mente, conhecerá, também, a gloriosa natureza do mundo em que vive e lutará com urgência e coragem para preservá-lo.

Olhar para dentro exige de nós grande sutileza e coragem – nada menos que uma mudança completa em nossa atitude com relação à vida e à mente.     Estamos de tal modo viciados em olhar para fora de nós mesmos que perdemos, quase por completo, o acesso ao nosso ser interior.

Ficamos apavorados com a idéia de olhar para dentro, porque nossa cultura não nos dá a mais vaga idéia do que encontraremos. Poderá até pensar que, se o fizermos, correremos o risco de enlouquecer. Esse é um dos últimos e mais engenhosos estratagemas de nosso ego para evitar que descubramos nossa verdadeira natureza.
  
Assim, tornamos nossas vidas tão febris, que eliminamos delas o mais ligeiro risco de olhar para dentro de nós. Mesmo a idéia de meditação pode assustar as pessoas. Quando ouvem falar nas palavras “ausência de ego” ou “vacuidade”, elas pensam que experimentar esses estados equivale a ser lançado da escotilha de uma nave espacial e flutuar para sempre no vazio escuro e gelado do espaço.

Nada poderia estar mais distante da realidade. Mas, num mundo dedicado à distração, o silêncio e a quietude nos atemorizam. Protegemo-nos, então, com o barulho e a atividade frenética. Observar a natureza de nossa mente é a última coisa que ousaríamos fazer.
  
Às vezes, penso que não queremos fazer perguntas verdadeiras para saber quem somos, por medo de descobrir que existe uma outra realidade diferente desta. O que esta descoberta faria da maneira como vivemos até agora? Como nossos amigos e colegas reagiriam ao que agora sabemos? Que faríamos com esse novo saber?

Com o conhecimento vem a responsabilidade. Às vezes, mesmo quando a porta da cela se abre, o prisioneiro prefere não sair.
              
                                           In: "O Livro Tibetano do Viver e do Morrer".

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

MINHA BUSCA PELO DESPERTAR

Alsibar Barbosa
Alsibar Barbosa é um cearense, filho de Juazeiro do Norte, cuja infância foi marcada pelos rígidos preceitos da religião católica. Desde cedo lhe ensinaram a ver no Padre Cícero um Avatar do Sertão. Mas, ainda jovem, passou a questionar todas essas crenças e percorreu um caminho de sofrimentos,  dúvidas e crises existenciais. 

Começou, então, uma jornada de intensa busca sobre o verdadeiro significado da vida. As primeiras luzes lhe apareceram através do budismo, ao ler o livro “O Pensamento Vivo de Buda”.  Outro marco importante na sua vida foi a leitura do livro “Autobiografia de um Yogue”, de Yogananda.

Vieram depois as leituras sobre ocultismo, religiões orientais, psicologia transpessoal de Jung; lia tudo com grande voracidade e entusiasmo. Mas, ainda assim, toda essa busca não foi capaz de lhe dar a paz e a fortaleza interior de que tanto precisava.

Surgiram-lhe, então, as crises em todas as áreas de sua vida : saúde, profissional, pessoal e, por fim, existencial. Diz ele: "Toda minha ´fortaleza´ interna desabou, senti-me desestruturado, fragmentado e fragilizado. Fiquei entre a loucura, a depressão e o suicídio.”

Mas, em meio à tormenta, Krishnamurti foi para a ele uma mão amiga que lhe indicou o verdadeiro caminho ; compreendeu, então, que era inútil toda aquela busca, pois a chave para o despertar estava dentro dele.


Acompanhemos um pouco essa sua trajetória rumo ao despertar:
 
Um dia, de súbito,  a compreensão chispou em minha mente como um raio de luz, um  verdadeiro insight. E foi então que compreendi que a chave estava lá. Sempre esteve lá, mas não sei por que não conseguia vê-la, como se estivesse velada, na escuridão da minha ignorância. Lembrei-me, então, de um episódio que aconteceu comigo, uma vez, no natal:  eu estava na casa de um amigo e, de repente, faltou energia. Ele começou a procurar angustiado pela chave da porta, pois eu precisava ir para casa. Acendeu uma vela e saiu procurando pela chave em todos os lugares e, depois de muita procura, percebeu que ela já estava na porta; ela nunca tinha saído do lugar mais óbvio: a fechadura.

Vamos pensar numa ilustração muito conhecida, mas que cabe bem, no que estamos tentando explicar. Imagine um peixe que, de repente, ouve falar em um Deus chamado Oceano. É dito que ele é tão imenso, vasto e profundo, que é considerado Infinito. Ora, o peixe decide então procurar por esse Deus. Não seria uma tolice? O peixe já vive e respira nele e por mais que ele queira ver a extensão do Oceano nunca o verá. Precisa apenas perceber que o Oceano já vive nele e que ele vive no Oceano. Precisa compreender que não há nada a se buscar, nem nenhum lugar para se ir . Para encontrá-lo, basta compreender o fato óbvio : que ele já faz parte dele. O Oceano é tudo no universo aquático do pequeno peixe: está  acima, abaixo, dentro e fora dele.

Estamos tão dominados pela idéia do "fazer" que não conseguimos aceitar outra forma de se conceber as coisas, a vida, o Universo. Mas, sendo bem objetivo, não seria isso uma tolice? Observe as coisas simples do dia-a-dia. Nada é feito por nós. A grama cresce independente de nós.  O movimento dos astros, a vida de nossas células, tudo, tudo... existe e se mantém, não graças a nós, mas INDEPENDENTE e APESAR de nós. Quando o homem faz ou realiza algo no mundo, na verdade ele foi apenas INSTRUMENTO da ação de forças superiores. Na verdade, ela não foi feita por ele, mas através dele.

Continuo vivendo, fazendo quase "tudo" que fazia antes, mas tudo sob uma  perspectiva de impessoalidade: não sou Eu quem faz ou deixa de fazer. Se a ação está lá, eu a observo. Se a sensação está lá, eu simplesmente a  observo. Se ela não está - nada muda- a observação continua. Há apenas a OBSERVAÇÃO sem o OBSERVADOR. Aquele centro  que julga, compara, deseja, comenta, nomeia, altera, critica, está - na maior parte do tempo - AUSENTE.

Assim  é a chave do despertar - está sempre aqui. Na verdade, como Buda inisinuou, não há nenhuma "chave secreta". Basta abrir os olhos, acender a luz e ver; "a distância entre nós e o 'despertar' é apenas a de um pensamento"- diz-nos o sábio Mooji

Ao compreender isso, parei de buscar. E então... surge a dimensão onde as palavras não entram e as definições são impotentes. A busca terminou, e se você me perguntar: você encontrou? Não posso lhe responder. Esta pergunta é errada, pois pressupõe um "Eu" buscador (EGO) e um "Objeto" de busca (DEUS) . Há um estado em que esta noção dualística desaparece totalmente. Não só isso, toda noção de tempo e busca, também. E o que resta? Só experimentando para saber. Minha vida continua normal - mas há um movimento diferente. Uma nova energia, um sabor diferente em tudo que faço, pratico, vejo ou sinto. 

LIBERTAR-NOS DAS ILUSÕES CAUSADORAS DO SOFRIMENTO PSICOLÓGICO foi, e continua sendo, o objetivo primordial  de  todos os Avatares, Yogues, Iluminados e sábios que viveram sobre esta terra !
Então, o que está esperando?
MEDITE!