sexta-feira, 9 de maio de 2014

A paz que excede toda a inteligência

Eckhart Tolle

Existem muitos relatos de pessoas que vivenciaram essa nova dimensão emergente da consciência, como resultado de uma perda trágica em determinado momento de sua vida.

Há quem tenha perdido todos os bens, os filhos ou o cônjuge, a posição social, a reputação ou as capacidades físicas. Em certos casos, em decorrência de desastres ou guerras; tudo isso se foi ao mesmo tempo e esses indivíduos se viram com “nada”.

Podemos chamar um quadro como esse de situação-limite. Não importa com que elementos essas pessoas estavam identificadas, o que lhes dava a percepção do ser, isso se acabou.

 Então, de repente e inexplicavelmente, a angústia e o medo intenso que elas sentiam desapareceram, dando lugar à sensação sagrada da presença, uma paz e uma serenidade profunda e uma completa libertação do medo.

Esse fenômeno deve ter sido familiar a São Paulo, que usou a expressão “a paz de Deus excede toda a inteligência”. Na verdade, é uma paz que não parece fazer sentido, e quem já passou por essa experiência se pergunta: diante disso, como é possível que eu sinta tanta paz?

Depois que compreendemos o que é o ego e como ele funciona, a resposta é simples. Quando as formas com as quais nos identificamos, que nos dão a presença do eu, desmoronam ou são removidas, o ego entra em colapso, uma vez que ele é a identificação com a forma. No momento em que não há mais nada com que possamos nos identificar, quem somos nós? Assim que as formas ao nosso redor morrem ou quando a morte se aproxima, nossa percepção da existência, do “eu sou”, fica livre das ligações com a forma: o espírito é liberado da sua prisão na matéria.

Passamos a compreender nossa identidade essencial como informe, como uma presença onipresente do Ser antes de todas as formas, de todas as identificações. Entendemos nossa verdadeira identidade como a consciência propriamente dita, em vez de algo ao qual a consciência se vinculara. Essa é a paz de Deus. A verdade suprema de quem nós somos não é “eu sou isso ou eu sou aquilo”, mas “eu sou”.

Nem todo mundo que vivencia uma grande perda passa por esse despertar, isto é, pelo processo de se desassociar da forma. Algumas pessoas criam de imediato uma forte imagem mental ou uma forma de pensamento em que se vêem como vitimas – das circunstâncias, de alguém, de um destino injusto ou de Deus. Assim, vinculam-se com intensidade a essa forma de pensamento e às emoções que ela origina, como raiva, ressentimento e auto-piedade, que assumem de modo instantâneo o lugar de todas as outras identificações que entraram em colapso, por causa da perda.

 Em outras palavras, o ego logo encontra uma nova forma. E o fato de que ela seja algo profundamente infeliz não o preocupa muito, desde que ele tenha uma nova identidade, boa ou má. Na verdade, esse novo ego será mais retraído, mais rígido e impenetrável do que o antigo.

Quando a perda trágica ocorre, nós ou resistimos a ela ou a aceitamos. Há pessoas que se tornam amargas ou muito ressentidas, enquanto outras se mostram mais solidárias, sábias e afetuosas. A resignação significa a aceitação interior do que aconteceu. Ficamos abertos à vida. 

A resistência é uma contração interior, um endurecimento da concha do ego. Permanecemos fechados. Seja qual for a ação que adotemos num estado de resistência interior (que podemos também chamar de negativismo), ela criará mais resistência externa, e o universo não estará do nosso lado.
A vida não nos beneficiará. Se as persianas estiverem fechadas, o sol não conseguirá entrar.

Quando nos submetemos internamente, ou seja, no momento em que nos entregamos, uma nova dimensão da consciência se abre. Caso uma ação seja possível ou necessária, essa atitude será alinhada com o todo e apoiada pela inteligência criativa, a consciência incondicional com a qual nos unificamos, num estado de receptividade interior. As circunstâncias e as pessoas então se tornam favoráveis, cooperativas. Coincidências acontecem. Se nenhuma ação for possível, repousaremos na paz e no silêncio interior que acompanham a resignação. Descansaremos em DEUS.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Khalil Gibran

Khalil Gibran
Khalil Gibran nasceu no Líbano em 1883 e, apesar de ter vivido apenas 48 anos, deixou uma extensa obra literária, conhecida em todo o mundo. Seus escritos primam pela beleza e sabedoria
Sempre senti afinidade com Khalil Gibran, pois além de ser compatriota de meu pai, ele me deu muita tranqüilidade por ocasião do falecimento da Celeste, minha esposa.

 Estava, então, lendo um de seus livros, “A Voz do Mestre” e me deparei com uma passagem que, em resumo, dizia: “A morte não significa aniquilamento, mas sim um portal através do qual as almas penetram valorosamente, quando abandonam a vida terrena e ingressam na luminosa região do nosso lar cósmico.” Essas palavras constituíram para mim um bálsamo derramado sobre as feridas daquela perda.

A obra mais conhecida de Khalil Gibran é o livro “O Profeta”, no qual são abordados diversos temas. Mas o que me despertou maior interesse foi o que fala das crianças. Khalil Gibran nos dá uma visão espiritual da educação, que ainda hoje seria de muita valia, se fosse colocada em prática pelos pais.

Vejamos uma parte do diálogo:

Uma mulher que carregava uma criança nos braços disse: "Fala-nos dos filhos."
E ele falou:
Vossos filhos não são vossos filhos.           
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.           
Vêm através de vós, mas não de vós.           
E embora vivam convosco, não vos pertencem.           
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,           
Porque eles têm seus próprios pensamentos.           
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas,           
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,           
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.           
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,           
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.

 Para concluir, transcrevo estas palavras, que bem demonstram o grau de sabedoria de Khalil Gibran:

“Procure o conselho dos mais velhos, pois seus olhos contemplaram as faces dos anos e seus ouvidos escutaram as vozes da vida.”