sábado, 18 de outubro de 2014

Consciência do "corpo interior".

Eckhart Tolle
Embora a identificação com o corpo seja uma das formas mais básicas do ego, o lado bom disso é que, na maioria das vezes, temos condições de superar essa questão.

Não fazemos isso tentando nos convencer de que não somos nosso corpo, e sim desviando a atenção da nossa aparência física e dos pensamentos sobre ela - beleza, feiura, força, fraqueza, gordura, magreza – para a sensação de energia vital interna.  Não importa o aspecto do corpo no plano exterior, pois, além disso, ele é um campo energético intensamente vivo.

Se você não tem familiaridade com a consciência do “corpo interior”, feche os olhos por um momento e descubra se existe vida dentro das suas mãos. Não pergunte á sua mente. Ela responderá: “não sinto nada.” Também é provável que diga: “dê-me algo mais interessante sobre o que pensar”. Então, em vez de dirigir a pergunta a ela, vá direto para suas mãos. Com isso quero dizer o seguinte: torne-se consciente do sentimento sutil de vida que há nelas.

Para percebê-lo, basta manter-se atento. Você poderá ter uma ligeira impressão de tremor no inicio e, depois uma sensação de energia vital. Caso se concentre em suas mãos por alguns instantes, a sensação dessa energia se tornará mais intensa.  Há pessoas que nem sequer precisam fechar os olhos. Elas são capazes de sentir suas “mãos interiores” ao mesmo tempo em que leem este texto. 

Em seguida, passe para os pés, fixe a atenção neles por cerca de um minuto e comece a sentir as mãos e os pés simultaneamente. Por fim, inclua outras partes do corpo – pernas, braços, abdômen, tórax, e assim por diante – até estar consciente do corpo inteiro como uma sensação global de energia vital.
O que chamo de “corpo interior” já não é mais o corpo, e sim energia vital, a ponte entre a forma e o informe. Adquira o habito de sentir o corpo interior sempre que for possível. Depois de um tempo, você não precisará mais fechar os olhos para isso.

Por exemplo, veja se é capaz de senti-lo sempre que estiver escutando alguém. Chega a ser um paradoxo: quando estamos em contato com o nosso corpo interior, não estamos mais identificados nem com o corpo nem com a mente. É o mesmo que dizer que não nos identificamos mais com a forma, que estamos nos afastando dessa situação e indo em direção ao sem forma, que podemos também chamar de Ser. Isso é a nossa identidade essencial.

A consciência do corpo não só nos ancora no momento presente, como é uma passagem para fora da prisão que é o ego. Além disso, fortalece o sistema imunológico e a capacidade que o corpo tem de curar a si mesmo.

In:  "O despertar de uma nova consciência"

sábado, 4 de outubro de 2014

Sumo dos textos (5)

Thich Nhat Hanh
          Como lidar com a raiva
A principal causa da raiva é a sua semente que existe dentro de nós mesmos. Se não houver sementes de raiva em nossa consciência armazenadora, esse sentimento não pode surgir.
  
Quando as chamas da raiva se acendem, a tendência é atacarmos quem regou as sementes desse sentimento que temos dentro de nós. É como encontrarmos nossa casa incendiada e, em vez de procurarmos apagar as chamas, sairmos em busca da pessoa que acreditamos ter ateado o fogo. 

Quando esse sentimento se manifesta, devemos nos voltar para dentro  de nós mesmos e usar a energia da atenção plena par abraçá-lo, suavizá-lo, iluminá-lo.

De acordo com o que foi ensinado pelo Buda, quando a raiva surge, temos que fechar os olhos e ouvidos, retornar para nós mesmos e procurar a fonte interior desse sentimento. O essencial é regarmos a semente da atenção plena e deixá-la surgir na nossa mente consciente.

Quando nosso estômago dói, não ficamos com raiva dele. No momento em que a mãe escuta o bebê chorando, ela deixa o que está fazendo, toma a criança nos braços e a acalenta. Depois procura descobrir o motivo do choro, se ele se deve a um desconforto físico ou emocional.

Temos que examinar a raiva a fundo, como faríamos com nosso próprio filho. Não devemos rejeitá-la nem odiá-la. A respiração consciente abranda e acalma a raiva e a atenção plena a penetra.

                                        In: “Ensinamentos sobre o amor



Sogyal Rinpoche
                O caminho para conhecer a mente
A meditação é o único caminho pelo qual podemos, gradualmente, compreender a natureza da mente.  

Aos poucos, começamos a perceber em nós uma presença calma, vasta como o céu, aquilo que Milarepa chama a "imortal e infinita natureza da mente". 

E quando essa nova consciência começa a tornar-se visível e quase indestrutível, ocorre o que os Upanixades chamam “uma virada na sede da consciência”, uma revelação profunda, pessoal e não-conceitual do que somos, por que estamos aqui e como devíamos agir, o que resulta, no final, em nada menos do que numa nova vida, num novo nascimento e quase no que se poderia chamar de uma ressurreição.
 In: O livro tibetano do viver e do morrer
 
                                       S ê   A t e n t o

Procura em ti a chama que está sempre a brilhar. Criaste labirintos dentro de ti e estes, por vezes, te distanciam da tua preciosidade... Não te percas de vista, sê atento. Sê atento para poderes vislumbrar tuas sementes, tuas chuvas fartas, a transformar a aridez do teu solo. Sê atento e verás que tudo que brilha fora, na realidade, está dentro de ti. 

Sê atento e sente; o ar que respiras é o que mantém tua vida e o que mantém tua ânsia de viver não é deste mundo, mas está aqui, moldando o teu destino. Deixa tua visão percorrer teu mundo interno e, lá, sente o que és verdadeiramente. É possível estar aqui, viver a tua escolha, mas não te esqueças que dentro de ti reside a essência, o sopro divino, e esta deverá receber teus cuidados, tua dedicação, para que assim possas percorrer por este mundo, vivê-lo intensamente e, ainda assim, não perder de vista a tua missão, o teu reencontro com o que é sagrado em ti. Sê atento, não estás aqui por acaso. 

A vida é mais que acordar e viver o dia a dia... É necessário senti-la e, através da percepção que te é dada, descobrir o que move o teu ser, o que determina os teus passos, a tua persistência em continuar... Sempre continuar. 

Sê atento; para cada causa existe um efeito. Nada está solto, tudo é uma continuidade. Portanto, transforma a tua continuidade em conchas de alegria e conhecimento. O melhor depende de ti.       (Autor desconhecido