quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Trajetória de uma vida a outra

Paco Rabanne
As minhas excursões extra corporais tinham despertado a Kundalini, seguida de toda uma transformação interna. Na época, não conhecia nada dessa Kundalini e desses chacras, tal como dos segredos da sabedoria hindu, mas não tardei a experimentar os sinais do despertar dessa força interior.

Cada homem, cada mulher tem em si o seu duplo feminino ou masculino. A unidade está oculta no fundo de nós mesmos. É por isso que o Alquimista nos diz: “Desce às tuas entranhas, como Orfeu aos infernos, para encontrar Eurídice; como Dante em busca de Beatriz, e tornar-te-ás  um ser completo, um Jano, um rei-rainha coroado; tornar-te-ás o andrógino sagrado e não serás mais que Um com Deus.  “Visita interiora terrae et invenies ocultum lapidem”. Explora o interior da terra e encontra a pedra oculta.

Se eu tivesse uma mensagem, seria esta: “Atenção, o que vêem aqui em baixo não é tudo. E o resto vos é acessível, com esforço, se souberem encontrar as chaves. As chaves não são inacessíveis; trazemo-las dentro de nós mesmos. “Explora as tuas entranhas e encontrarás a pedra oculta”.

O Conhecimento está oculto, semelhante à deusa egípcia Isis, que aparecia com o rosto escondido por um véu. Este véu é, em primeiro lugar, o mundo material, cujas aparências enganosas nos escondem o essencial.

No momento de sua encarnação, o nosso ser foi bruscamente cindido em dois, na dor. Ele, que era andrógino num plano vibratório, tornou-se homem ou mulher sobre a terra.

Dito de outro modo, este outro nós mesmos, que por vezes passamos uma vida inteira a procurar, está enterrado em nossas entranhas. Suplicamos o acaso de o pôr no nosso caminho, enquanto que basta descer em nós, pois a nossa metade dorme em nós, escondida no fígado, este órgão essencial. Enquanto não tivermos tomado consciência disso, a busca amorosa continuará decepcionante.

Hoje, a minha oração é raramente formulada. Ela consiste principalmente em criar o vazio interior, em impôr-me o silêncio total.

A meditação permite-nos aceder diretamente a Deus. Não há nenhuma necessidade de intermediário. Pelo amor e pela oração, nós nos comunicamos com Deus.

A grande força do Corão é que ele é um hino de amor do homem em direção a Deus, sem intermediário. O sufismo, esse ascetismo do Islão, desenvolveu particularmente essa noção de amor sagrado que permite, durante o decorrer de nossa vida terrestre, unirmo-nos ao divino.

sábado, 24 de dezembro de 2016

Dentro de você está a luz do mundo

Osho
Da próxima vez que você sofrer, não reclame.  Faça disso uma meditação e veja o que acontece: a energia que estava se deslocando para a dor, gerando sofrimento, é transformada e se torna consciência. É a mesma energia.  

Tudo o que você já acumulou é lixo, se puder chegar a conhecer o tesouro real que está escondido em seu interior.

Cresça cada vez mais em percepção, em consciência; torne-se cada vez mais alerta.

Observar é o único método. Chame-o de conscientização ou testemunhar - mas observe. Viva a vida com olho observador e tudo, mesmo a menor coisa, o leva à maior. Tudo o conduz a Deus.

Você não pode forçar um fenômeno como o da Iluminação. Tem de esperar por ele. Tudo o que você tem a fazer é aprender a esperar com amor. Acontecerá quando o momento certo chegar.

“Quem tiver ouvidos, que ouça! Quem tiver olhos, que veja!”.  Ouvir corretamente significa ouvir sem a mente. Olhar verdadeiramente significa olhar sem a mente, sem interpretar, sem julgar, sem condenar, sem avaliar.

Iluminar-se e continuar sendo o mesmo homem, isso é impossível.  A continuidade é quebrada; o velho homem simplesmente desaparece. Um homem totalmente novo surge.

Você tem de estar pronto para quando o desconhecido chegar. Caso contrário, ele poderá vir, passar, e você nem perceber.

No momento da morte, um homem que viveu corretamente, através do amor, sentirá o mais maravilhoso êxtase. Morrerá com o êxtase palpitando por todo o corpo. Irá encontrar-se com o Divino Amado.

Dentro de você está a luz do mundo - a única luz que pode iluminar o Caminho. Se você é incapaz de percebê-la em seu interior, é inútil procurá-la em outra parte.

domingo, 18 de dezembro de 2016

A prisão do pensamento

Eckhart Tolle
A maioria das pessoas passa a vida toda aprisionada nos limites dos próprios pensamentos. Mas em você existe uma dimensão de consciência bem mais profunda do que o pensamento. É a essência de quem você é. O amor, a alegria, a criatividade e a paz verdadeira só podem entrar em sua vida quando você atinge essa dimensão de consciência, livre de condicionamentos.

Pensar fragmenta a realidade, cortando-a em pequenos pedaços, em pequenos conceitos. A sabedoria não é um produto do pensamento; a sabedoria é um profundo conhecimento que vem do simples ato de dar total atenção a alguém ou a alguma coisa.

Qual é a ilusão básica? É a identificação com o pensamento. Despertar espiritualmente é despertar do sonho do pensamento.

O próximo passo na evolução humana é transcender o pensamento. Isso não significa que não devemos mais pensar, mas simplesmente que não devemos nos identificar com o pensamento.

A coisa mais importante que pode acontecer a você: a mudança do pensar para o estar presente, alerta e atento.

domingo, 11 de dezembro de 2016

O Fogo Liberador

Pierre Lévy
O autoconhecimento não tem nada de teórico, conceitual, discursivo. Não é externo, não o adquirimos de ninguém. Temos todos que descobri-lo em nós mesmos. Somos os únicos especialistas de nossas próprias vidas. É uma viagem empreendida hoje por um número cada vez maior de pessoas que souberam ouvir o apelo da sabedoria..

Você só poderá conquistar o sofrimento se dele parar de fugir. O sofrimento nasce porque imaginamos, tememos ou esperamos uma situação diferente da situação presente. Se aderíssemos às coisas tais como são, só haveria energia.

Quanto mais você for capaz de se amar, mais será feliz e melhor poderá amar o próximo. Você é o mais próximo de todos os seus próximos.

A sabedoria consiste em parar de projetar, ficar efetivamente presente, em vez de fabricar continuamente o mundo que corresponde a nosso pensamento, sofrendo assim suas conseqüências.

A “neurose” de uma pessoa é sempre uma limitação de sua força. Fabricamos para nós mesmos um mundo que nos impede de fruir e crescer. Somos nós que criamos as circunstâncias e as pessoas que viram nossos obstáculos.

Exercite estar presente por muito tempo, sem se deixar tomar pelo que você pensa. Aprenda, assim, a desenvolver o sexto sentido: o olho voltado para o interior.

Eis a condição humana: somos sozinhos, perdidos, temos dor e uma imensa necessidade de amor. Todo o resto é construção artificial.

A violência é sempre cometida na inconsciência. É por essa razão que todas as sabedorias, todas as espiritualidades insistem na presença, na consciência, na vigilância.

No momento em que nos conhecemos como centelha do fogo divino, passamos a nos amar. Não podemos nos conhecer sem nos amar.

Sempre que fica com raiva, você se irrita contra uma projeção de seu próprio ego.

Quanto mais transparentes somos para nós mesmos, mais transparente é o mundo. Quando nos conhecemos plenamente, tudo fica transparente.

Decida-se de vez a enfrentar o que o impede de viver plenamente. Guerreie por sua vida. Lute contra o seu grande medo. O que parece terrível para uns, para outros nada mais é que um incômodo passageiro. Mas para todos existe “um grande medo”, um minotauro, no centro de seu labirinto interior. Hoje é um bom dia para aceitar o combate, parar de fugir, lutar com o que mais o aterroriza.

O ego lança pensamentos e o espírito sai correndo atrás, como um cachorrinho. Fascinado, ele leva o pensamento a sério e é impelido a falar e agir em conseqüência.

Para libertar-se da escravidão do ego, viva cada segundo no plano do fluxo da experiência real, atento ao instante, vigilante, para que o espírito não se extravie nos pensamentos.

Você se evade no automatismo dos pensamentos, na ação, no divertimento...Mas, na verdade, você só tem uma urgência: a de se conhecer.

Só sofremos porque, em vez de ver o pensamento tal como é, acreditamos que é verdadeiro. Se teme seus pensamentos é porque se identifica com eles. Reconheça-os, escute-os, seja polido e respeitoso com eles. “Sei que sois como sonhos, não vos reprovo, mas tão pouco me apego a vós”. E retorne ao momento presente.

Não deposite sua felicidade nas coisas externas. É tornar a felicidade demasiado frágil. Sua alma é a única posse que jamais lhe será roubada. É, também, seu bem mais precioso, uma vez que é a fonte de todas as verdadeiras riquezas, a começar pelo poder de gerar o seu próprio mundo. Por sorte, seu bem mais precioso está inteiramente em seu poder!.

domingo, 4 de dezembro de 2016

A Busca

Paul Brunton
A busca é uma jornada de volta para casa. O Pai está esperando por seu filho. Ele o receberá, alimentará e o abençoará.

Há outro tipo de exploração além de atravessar desertos, penetrar selvas, galgar montanhas e cruzar continentes. É a que procura o interior misterioso da mente humana, escala os alcances mais elevados da consciência humana e depois volta para relatar rotas e descobertas aos outros, de modo que eles também, se quiserem, possam encontrar seu caminho.

É um caminho de felicidade radiante, para pessoas fortes e positivas. Sua exortação é: “Torne-se melhor do que você é”. Seu mandamento é: “Viva de um modo mais belo do que está vivendo”.

Os homens viajam para esquecer seus fardos, mas, a menos que o pensamento seja conquistado, não podem fugir de si mesmos.

O eu interior do homem tem a capacidade de lhe fazer suas próprias revelações. Depois de recebê-las, ele perceberá que está cada vez mais independente das que vêm de fora.

A verdade esconde-se sozinha dos que não estão prontos; não precisa ser escondida deles.

Se o reino dos céus está dentro de nós, qual a utilidade de criar uma instituição fora de nós?

Nosso ser interior é um mundo de luz, de alegria, de poder. Descobri-lo e mantermo-nos nele é sermos abençoados por essas coisas.

A Terra Santa, onde jorra leite e mel, está dentro de nós; mas a selva que temos de atravessar, antes de alcançá-la, também está dentro de nós.

A diferença entre o início e o fim do caminho é a diferença entre um escravo e um senhor.

Ir à Índia ou a qualquer outro lugar, em busca de iluminação espiritual, não é tão importante quanto ir ao interior de nós mesmos, descobrir quem somos.

Como é fraco e desamparado o homem que é apenas ele mesmo. Como é forte e amparado o homem que é ele mesmo e mais que ele mesmo. No primeiro, há apenas o pequeno ego como força motriz; no segundo, há também o infinito ser universal.

O amor que a pessoa quer e espera encontrar fora de si mesmo deve ser encontrado em seu interior. O verdadeiro ser amado não é uma pessoa, mas uma presença. Quando o amor genuíno o inunda, ele descobre que sua forma física é mera caricatura e que sua forma humana é um pálido reflexo.

Apesar de o movimento rumo à iluminação avançar por estágios, o momento real da iluminação vem abruptamente, com uma transcendência súbita da escuridão na qual vivem os homens.

domingo, 27 de novembro de 2016

A Revolução Silenciosa

Pierre Weil
Lembro-me muito bem que foi durante uma viagem a Belém que li e devorei o primeiro livro de Krishnamurti. Fiquei realmente impressionado com a clareza de seus argumentos irrefutáveis:  "Só através de uma consciência e um estado permanente de presença é que podemos despertar para uma outra dimensão, que está sempre aí, mas que não estamos vivenciando, em virtude dos condicionamentos negativos de nossa educação."

A experiência fundamental parte da meditação. Depois de relaxar, concentro-me sobre o ar que entra e sai de meu nariz. Se vierem pensamentos, e sempre vêm, tomo consciência deles, mas nunca luto contra eles. Eles expressam, em geral, problemas meus não resolvidos.

Em relação à meditação, observei o quanto de paciência se precisa para prosseguir, pois há uma constante queda no pensamento.
                   
Levanta sempre:

Se caires, levanta.
Ao levantar, saibas que cairás de novo.
Não desesperes, pois cada levantar
A um novo nível te levará.
E mais perto do Todo te sentirás
Até que um dia  N’Ele permanecerás.

domingo, 20 de novembro de 2016

Aos Pés do Mestre

Krishnamurti
Todos os dias tendes a oportunidade de auxiliar os outros a suportar a sua carga e de fazer as suas vidas mais fáceis e mais felizes.

Buscai a luz sempre e sempre; ela está perto de vós e dela sois uma centelha.

A felicidade existe na doação voluntária do que é nosso aos outros. Em dar consiste a alegria real da existência.

A vida só é digna de ser vivida se vos elevardes acima das limitações criadas por vós mesmos.

Pensai como executaríeis um trabalho, se soubésseis que o Mestre viria vê-lo imediatamente. É justamente nestas condições que deveis executar tudo.

Deus tanto é Sabedoria como Amor. Quanto mais sábio fordes, mais Ele se manifestará por vosso intermédio.

Vigiai os vossos pensamentos, pois eles são a fonte de tudo quanto em atos se transformam. Cada pensamento inútil corresponde a muita energia perdida.

Nada existe que o Deus interno não possa executar. Uma força existe que sempre pode ser sentida e vivida: a de vossa própria divindade.

A alegria é o vosso melhor médico: vivei na alegria.

Pensai cada dia em alguém que está imerso na tristeza e no sofrimento, necessitando de auxílio, e derramai sobre ele vossos pensamentos de amor.

Um só pensamento deveis alimentar: como servir melhor em cada minuto do dia.

Não ligueis importância ao que vos possa acontecer; sede fortes e calmos e utilizai o Nosso poder: o poder da mente.

Caminhai, crescei e tornai-vos um auxiliar, em vez de permanecerdes sempre precisando de auxílio.

domingo, 13 de novembro de 2016

As Maravilhas do Pai - Nosso

Js.
Na hora do dia em que você estiver mais disposto, reze um Pai-Nosso, tendo o cuidado de prestar atenção a cada palavra que pronunciar.  Esta oração contém coisas maravilhosas, entre as quais podemos destacar:

1. Deus é nosso Pai, a quem devemos pedir o perdão de nossas faltas e, também, pedir-lhe que nos livre do mal.

2. O mal é o desespero, a doença, o ódio, a tristeza, enfim, tudo o que é negativo em nossa vida.

3. O Pai-Nosso nos ensina a perdoar os outros e a tirar de nosso coração a mágoa e o ressentimento.

4. “O pão nosso de cada dia” não é apenas o pão material, mas, sobretudo, a sabedoria de viver o cotidiano com paciência, bondade, compreensão e aceitação de tudo aquilo que não podemos mudar.

5. O Pai-Nosso compreendido e vivido dessa maneira é uma fonte de bênção para a nossa caminhada na vida.


6.  Para Simone Weil, é impossível pronunciar o Pai-Nosso, uma vez que seja, e trazendo a cada palavra a plenitude da atenção, sem que uma mudança, talvez infinitesimal,  mas real, se opere na alma.

domingo, 6 de novembro de 2016

O Guerreiro

Victor Sanchez
O guerreiro é guerreiro porque está sempre na luta. Luta contra as próprias fraquezas e limitações. É uma luta pela liberdade, ciente de que esta começa dentro de cada um. É uma luta calada, suave e alegre. Qualquer coisa que se estiver fazendo, pode-se tentar fazê-la ao modo do guerreiro.
 
Pensar não é perceber. A substância do ego são os pensamentos. É por isso que parar o diálogo interno é, também, uma das portas para sair do ego.

As pessoas comuns percebem tão pouco que não fazem a diferença entre percepção e pensamento. Projetam seus pensamentos sobre a realidade exterior, substituindo a realidade pelo que pensam. O pensamento oriental se refere à realidade ordinária como “maya” (ilusão), como um véu que é preciso descerrar para ver a realidade.

A suspensão do pensamento é a porta aberta da percepção. O homem que não percebe está sempre lutando para lidar com uma realidade imaginária e recebe as conseqüências da inconseqüência entre o que pensa e o que é. Quem percebe pode verdadeiramente agir sobre a realidade e leva uma grande vantagem sobre seus semelhantes. Essa possibilidade, aberta para todos os seres humanos, de rasgar o véu dos pensamentos para debruçar-se sobre o mundo real, é poder e é liberdade. 

Quando o palavrório interno cessa, o mundo também tende a cessar de ser e parecer bem do jeito que nos dizíamos que era. E o mesmo acontece com a nossa própria pessoa.  Aí, então, matizes da realidade, que considerávamos estranho e impossível, tornam-se acessíveis, e essa é a outra  face da liberdade. Ela alude à nossa herança mágica, à possibilidade de mudar de um mundo que não escolhemos, para penetrarmos num mundo onde, o que antes eram apenas sonhos, agora pode realizar-se.

Extraído de  “Os Ensinamentos de Don Juan” -  Victor Sanchez

domingo, 23 de outubro de 2016

Por Que Meditar

Bokar Rinpoche
Os homens são afligidos por sofrimentos, angústias e medos inumeráveis e são incapazes de evitá-los. A meditação tem por função eliminar esses sofrimentos e essas angústias.
 
 Pensamos, geralmente, que felicidade e sofrimento surgem de circunstâncias exteriores, mas felicidade e sofrimento não dependem das circunstâncias exteriores e sim da própria mente. Uma atitude de mente positiva engendra a felicidade, uma atitude negativa produz o sofrimento.  Como compreender esse engano, que nos faz procurar fora aquilo que podemos encontrar dentro?
 
Uma pessoa de rosto limpo e nítido, ao se olhar em um espelho, vê um rosto limpo e nítido. Aquele cujo rosto é sujo e maculado de lama vê no espelho um rosto sujo e maculado. Em verdade, o reflexo não tem existência, só o rosto existe. Esquecendo o rosto, tomamos seu reflexo por real. A natureza positiva ou negativa de nossa mente se reflete nas aparências exteriores que nossa própria mente envia. A manifestação exterior é uma resposta à qualidade de nosso mundo interior.

A felicidade que desejamos não virá da reestruturação do mundo que nos cerca, mas da reforma de nosso mundo interior. Enquanto não reconhecermos que felicidade e sofrimento têm sua origem em nossa própria mente, permanecemos impotentes para estabelecer um estado de felicidade autêntica, impotentes para evitar as contínuas ressurgências do sofrimento.
 
Se, ao descobrirmos no espelho a sujidade de nosso rosto, decidíssemos lavar o espelho, mesmo que esfregássemos fortemente, durante anos, com sabão e água em abundância, nada aconteceria; nem a mínima sujeira, nem a mínima mancha desapareceria do reflexo.

Eis por que o budismo e a meditação têm por primordial compreender que felicidade e sofrimento não dependem do mundo exterior, mas de nossa própria mente. Uma vez adquirida essa compreensão, podemos lavar nosso rosto: o reflexo surgirá limpo no espelho.
 
É preferível, para os principiantes, limitar-se a curtas sessões de dez ou quinze minutos. Mesmo que a meditação seja boa, devemos parar. Depois, se dispusermos de tempo necessário, faremos uma segunda sessão curta. Melhor é proceder por uma sucessão de curtas sessões, do que engajar-se numa longa sessão que, mesmo boa no início, corre o risco de resvalar para a dificuldade e cansar o meditador.
       
As pessoas que compreendem mal a meditação creem que todos os pensamentos devem cessar. Não podemos, de fato, estabelecer-nos num estado sem pensamentos. O fruto da meditação não é a ausência de pensamentos, mas o fato de que os pensamentos deixam de ser nocivos para nós. De inimigos, os pensamentos tornam-se amigos.
 
Quando não conhecemos a natureza da mente, vivemos na convicção de que os pensamentos existem realmente. Sendo tomados por reais, tornam-se causa de sofrimento.

Meditar alguns dias, alguns meses, até mesmo um ano, depois abandonar, não dará frutos. Um enfermo deve tomar seus medicamentos até a cura completa. Se ele para o tratamento, mesmo que este dure meses ou anos, o mal triunfará. Devemos prosseguir nossa meditação, até que tenhamos alcançado uma realização efetiva e estável. Regularidade e perseverança são duas condições necessárias para uma meditação proveitosa.

sábado, 15 de outubro de 2016

A Voz do Silêncio

H.P. Blavatsky

Ajuda a Natureza e coopera com ela, e ante ti ela abrirá, de par em par, os portais de suas câmaras secretas e desvendará ante tua vista os tesouros escondidos no mais profundo do seu seio puro e virgem. Não maculada pela mão da matéria, ela mostra seus tesouros tão só ao olho do Espírito – o olho que nunca se fecha, o olho para o qual não há véu algum em todos os seus reinos.

Silencia os teus pensamentos e fixa toda a tua atenção em teu Mestre, que ainda não vês, mas já sentes.

A mente é o grande assassino do Real. Que o discípulo mate o assassino. Mata em ti toda a memória de experiências passadas. Não olhes para trás ou estarás perdido. Longo e penoso é o caminho diante de ti, ó discípulo. Um simples pensamento sobre o passado que deixaste atrás te arrastará para baixo, e terás que começar de novo a subida.

Sê limpo de coração antes de empreenderes a viagem. Antes de dar o primeiro passo, aprende a discernir o real do falso, o fugaz do permanente. Aprende, sobretudo, a separar a erudição da cabeça, da Sabedoria da Alma. Mesmo a ignorância é preferível à erudição da cabeça sem a Sabedoria da Alma, para iluminar e guiar.

Evita o elogio, pois eles conduzem à auto-ilusão. Teu corpo não é o eu. Teu Eu em si é sem corpo, e não o afetam elogios nem censuras.

Sê humilde, se queres adquirir a Sabedoria. Sê mais humilde, ainda, quando houveres te assenhoreado da Sabedoria.

Quanto mais avançares, mais armadilhas teus pés encontrarão. A senda do progresso é iluminada por uma única chama: a chama da audácia ardente no coração. Quanto mais se ousar, mais se obterá. Quanto mais se temer, mais essa luz empalidecerá, – e só ela pode guiar.

Quando houveres chegado a este estado, os Portais que tens de conquistar na Senda se abrirão, de par em par, para deixar-te passar e nenhuma resistência terão para deter teu curso os poderes mais fortes da Natureza.

Sabe, ó Vencedor dos pecados, que tão logo o Swami tenha cruzado a sétima Senda, toda a Natureza vibra de reverente alegria e se faz submissa. A argêntea estrela cintila a boa nova às flores noturnas; o riacho sussurra a lenda aos calhaus; as escuras ondas do oceano a bramam aos rochedos envoltos de espumas; brisas impregnadas de aromas a cantam aos vales e altivos pinheiros murmuram misteriosamente: “Surgiu um Mestre, um Mestre Do Dia”.

domingo, 9 de outubro de 2016

A Busca Interior

Eva Pierrakos
A busca interior requer coragem, passa por regiões de trevas, conduz à maturidade – e o tesouro é sempre encontrado, o tesouro de seu Eu divino, sábio e amoroso.

Há todo um outro mundo além desse que você conhece, toca e vê. É somente explorando a si mesmo e penetrando em seu âmago que encontrará esse mundo e, então, ele se revelará na sua realidade e na sua glória suprema. Esse mundo existe dentro e ao redor de você e o inspirará a partir de sua própria sabedoria, à medida que você procurar alcançá-lo.

A experiência de Deus é a mais extraordinária de todas, porque contêm em si todas as experiências que se possam desejar. Quando você entra em contato com Deus no interior do eu, as respostas devem chegar e você as perceberá e compreenderá.

Se no mais diminuto dos átomos existe um poder capaz de liberar energias ilimitadas para construir ou para destruir, tão infinitamente maior é o poder da mente. Pondere sobre este fato tão significativo e ele lhe abrirá novas perspectivas.

Para atingir as esferas superiores da espiritualidade, precisamos aprender a nos tornar canais receptivos à consciência divina. Não podemos alcançar esse estado sem a capacidade de aquietar nossa mente exterior. Só assim abrir-se-á um canal através do qual sempre podemos entrar em contato com a voz de Deus dentro de nós.

Só sofremos porque, em vez de ver o pensamento tal como é, acreditamos que é verdadeiro. Se teme seus pensamentos é porque se identifica com eles. Reconheça-os, escute-os, seja polido e respeitoso com eles. "Sei que sois como sonhos, não vos reprovo, mas tão pouco me apego a vós". E retorne ao momento presente.

Não deposite sua felicidade nas coisas externas. É tornar a felicidade demasiado frágil. Sua alma é a única posse que jamais lhe será roubada. É, também, seu bem mais precioso, uma vez que é a fonte de todas as verdadeiras riquezas, a começar pelo poder de gerar o seu próprio mundo. Por sorte, seu bem mais precioso está inteiramente em seu poder.

sábado, 1 de outubro de 2016

O Fim do Sofrimento

Js.
"Prestai atenção a isto: quando olhais uma árvore, nunca o fazeis a não ser com a imagem que tendes dessa árvore. Nunca a olhais sem a imagem, sem pensamento, nunca a olhais simplesmente. E tenho certeza de que nunca olhastes vossa esposa ou marido dessa maneira, isto é, sem a imagem que tendes a respeito dela ou dele.

E quando olhais para a nuvem, para a ave, para a luz refletida na água, sem a imagem, estais então diretamente em contato com a coisa, não há espaço entre vós e a coisa que estais observando. Fazei-o uma vez e vereis o que acontece. O intervalo de tempo entre o observador e a coisa observada, a distância, o espaço, tudo passa por uma extraordinária mudança.

Da mesma maneira olhai o sofrimento, sem tratar de evitá-lo; ponde-vos inteiramente em contato com ele. E com ele só estareis em contato se lhe dispensardes toda a atenção e cuidado. E só podeis dispensar-lhe toda a atenção se vossa  mente estiver quieta.

Ao perceberdes este fato com o máximo de clareza – não como idéia, mas como uma coisa que apalpais, tocais, vedes – notareis que o medo, bem como o sofrimento chega ao seu fim, quando entrais em contato direto com ele."
(Krishnamurti)

Este texto de Krishnamurti me fez lembrar um fato que antecedeu à morte do Pe. Assis Portela. Ao ser visitado por uma pessoa da família, algumas horas antes de falecer, ele abriu os olhos e levantou o dedo polegar. O Pe. Assis estava em contato com a vizinhança da morte. E essa realidade, que tanto nos apavora, ao ser abordada assim, sem imagem, sem pensamento, sem resistência, passa por uma transformação radical, tão bem expressa por aquele dedo polegar levantado.

A mesma transformação, também, pode se operar em nossas experiências diárias, quando delas nos aproximamos com a mente silenciosa, em que não há espaço para pensamentos e imagens, esses remanescentes do passado, que turvam a percepção da realidade presente.

Em cada uma dessas experiências assim vividas, quaisquer que sejam elas, deveríamos também levantar o dedo polegar, como sinal de que o medo, bem como o sofrimento chegou ao seu fim.

sábado, 24 de setembro de 2016

As Polaridades da Vida

Robert Happé
Esse é um mundo de polaridades, e elas precisam ser equilibradas. Equilibrar consiste em nos mantermos nem muito à direita, nem muito à esquerda, mas bem no centro, conscientes do positivo e do negativo. O caminho para adquirir maestria sobre as energias é permanecermos bem no meio das alegrias e dores da vida, no meio do amor e da raiva, da tristeza e do medo. Desse modo, tornamo-nos mestres no campo dessas energias polarizadas.

A energia move-se, continuamente, entre os aspectos positivos e negativos da experiência. Assim, quando ficamos fixados em um pólo, a falta de movimento, por si só, causa muito desconforto. Não é preciso ficar triste por mais de uma fração de segundo, quando percebemos que, onde há tristeza, a alegria também está presente, em função de ambas pertencerem, intrinsecamente, à mesma experiência.

Precisamos ser corajosos o suficiente para entrar profundamente em contato com o aspecto negativo de nossas experiências. Aí, sim, antes que percebamos, somos elevados para a polaridade positiva.

A essência básica de nosso planeta é a polaridade; observe mais atentamente a natureza e perceba as polaridades que regem tudo o que existe. Quando você começa a reconhecer este fato e o aceita dentro de sua própria vida, aí você tem a chance de se movimentar livremente com o fluxo.

É ótimo mover-se através dessas fases de tristeza e alegria e vice-versa. O movimento é fundamental para o nosso desenvolvimento. Esteja disposto a aceitar as polaridades de todas as coisas e, por favor, lembre-se de que você é capaz de lidar com tudo o que estiver acontecendo.

Cada homem é, também, uma mulher e cada mulher é, também, um homem. Essa é outra polaridade que não tem sido bem compreendida. Uma pessoa de fato equilibrada é igualmente masculina e feminina; forte e capaz de ser firme e, ao mesmo tempo, gentil, receptiva e nutridora. Assim, familiarize-se com as energias que são condizentes com o corpo que você ocupa nesse momento e descubra as energias opostas que, também, fazem parte de você.

A maioria das almas, quando escolhe as lições que acompanham o corpo masculino ou feminino, fica com eles por uma série de vidas, até que chegue o momento de adquirir maestria na polaridade oposta. Assim, quando uma alma vai do feminino para o masculino, é muito natural que sinta de forma mais dominante a polaridade feminina dentro de um corpo masculino. Muitos se sentem desconfortáveis e até desejam uma mudança de corpo. O mesmo se aplica para a alma que vem de uma série de encarnações masculinas e passa, em seguida, para uma feminina.

Se houvesse mais clareza no entendimento desse fato, poderíamos ajudar e guiar essas almas, incentivando-as a aceitar a experiência que atraíram, ao invés de julgá-las por não se comportarem de acordo com as expectativas e normas estabelecidas. 

          
Nada vem sozinho. A alegria vem junto com a tristeza, assim como cada moeda tem cara e coroa e cada dia, luz e escuridão. Precisamos compreender essas polaridades e saber que elas se pertencem mutuamente, como o ganho e a perda, o prazer e a dor, pertencem à mesma experiência.

Às vezes nos sentimos com raiva ou ciúme, ou cheios de julgamentos; em vez de reagir, precisamos perceber o que acontece como realmente é – uma polaridade – solicitando-nos que a equilibremos. Mova-se, então, para fora dessas vibrações, usando sua percepção consciente. Essa é a dança das polaridades na nossa existência tridimensional, o passaporte para o infinito de nossas possibilidades.

Quando soltamos a necessidade de controlar e não mais tememos a fusão com todas as polaridades, as dolorosas e as alegres, conscientemente nos tornamos cheios de amor. E, quando sintonizados com o poder do amor, quando nos permitimos ser esse amor, isso é a conquista máxima para cada um de nós.

In: Consciência é a Resposta - Robert Happé

sábado, 3 de setembro de 2016

Krishnamurti

Krishnamurti

Todos os nossos problemas são criados pelo pensamento e a mente é treinada para resolver os problemas com mais pensamento. Assim, o pensamento cria o problema e depois tenta resolvê-lo.

Tudo o que nasce do pensamento é condicionado, produto do tempo e da memória; por conseguinte, não é o real.

Não existe medo de espécie alguma em face do momento real e vivo. Esta é uma coisa extraordinária para você descobrir. O pensamento no que aconteceu ou poderá acontecer é desatenção e a desatenção gera o medo.

Tudo está em você. Em você se encontra o Supremo, o Imenso, se você souber olhar. Devemos olhar essa vida, que é imensa e ilimitada, com olhos que estejam somente a observar.

Para que precisamos de outras pessoas, se o tesouro está todo inteiro dentro de nós mesmos?  O importante é que você mesmo descubra as coisas, a fim de ser livre e não um ente humano de segunda mão.

Para entrardes em relação direta com alguma coisa, não deve existir nenhuma imagem entre vós e a coisa que observais. A imagem é a palavra, a memória do que foi ontem.

A única coisa capaz de operar transformação é a vigilância cotidiana. O que põe fim ao sofrimento é a observação atenta a tudo o que fazeis. O ato de observar produz tremenda energia, enquanto a desatenção é perda de energia.

É dificílimo, neste mundo, a mente ser livre. No momento em que fordes livres, sereis uma ameaça à sociedade, à religião organizada, a todas as coisas malsãs existentes ao redor de vós.

Se tendes em vossa vida a meditação, essa coisa maravilhosa, tendes tudo. Se não há meditação, nenhuma possibilidade temos de ultrapassar os limites do pensamento, da mente, do cérebro.

Eu digo que é possível a mente ficar livre de qualquer condicionamento. Quando digo que é possível é porque isso é um fato para mim.

O conhecerdes a vós mesmo é a mais difícil tarefa que vos podeis atribuir. Podeis ir até à lua, fazer tudo quanto é possível fazer na vida, mas se não vos conhecerdes, sereis uma entidade vazia, embotada.

A observação de vós mesmo é de absoluta necessidade. O mal é a total falta de autoconhecimento. Conhecer a si próprio é pôr fim ao sofrimento.

Se o corpo sente dor, prestai atenção a essa dor, observai-a. Não deixeis o pensamento interferir nela. Quando vos vedes diretamente em presença de alguma coisa, não há medo. Só quando surge o pensamento é que há medo.

Uma das coisas mais difíceis é olhar, observar. Olhar uma coisa sem nenhuma imagem dessa coisa. A imagem cria distância entre o observador e a coisa observada e nessa distância acha-se todo o conflito humano.

A morte deve ser um fato extraordinário. Assim como é a vida, com sua exuberância, sua riqueza, sua variedade e plenitude, assim deve ser a morte. Mas, para compreender tão vasta questão, a mente deve estar livre do temor.

sábado, 27 de agosto de 2016

O Poder do Agora

Eckhart Tolle
Todas as coisas realmente importantes, como a beleza, o amor, a alegria e a paz interior, surgem de um ponto além da mente. É quando começamos a acordar.

Sempre que houver um espaço no fluxo dos pensamentos, podem ocorrer lampejos de amor e alegria, ou breves instantes de uma paz profunda. O amor, a alegria e a paz não conseguem florescer, a menos que tenhamos nos livrado do domínio da mente.

Faça do Agora o foco principal da sua vida. Se antes você se fixava no tempo e fazia rápidas visitas ao Agora, inverta essa lógica, fixando-se no Agora e fazendo rápidas visitas ao passado e ao futuro, quando precisar lidar com os aspectos práticos da vida.

O medo psicológico é sempre de alguma coisa que poderá acontecer; não de alguma coisa que está acontecendo neste momento. Você está aqui e agora, ao passo que a sua mente está no futuro. Essa situação cria um espaço de angústia. Podemos sempre lidar com uma situação no momento em que ela se apresenta, mas não podemos lidar com algo que é apenas uma projeção mental. Não podemos lidar com o futuro.

O medo será uma companhia constante para qualquer pessoa identificada com a mente e, por conseguinte, desconectada do seu verdadeiro poder, o eu profundo enraizado no Ser. O número de pessoas que conseguiram alcançar o ponto além da mente ainda é extremamente pequeno, o que nos leva a presumir que, virtualmente, todas as pessoas que você encontra vivem em estado permanente de medo.

Identificar-se com a mente dá a ela mais energia, enquanto observar a mente retira a sua energia. A energia retirada da mente se transforma em presença.

Se você alguma vez esteve numa situação de emergência, de vida ou morte, saberá que isso não foi um problema.. A mente não teve tempo para se distrair e transformar a situação em problema. Numa emergência de verdade, a mente para. Ficamos absolutamente presentes no Agora, e algo infinitamente maior e mais poderoso passa a dominar.

Sempre que acontecer uma desgraça ou alguma coisa ruim em sua vida, saiba que existe um outro lado e que você está a apenas um passo de distância de algo inacreditável: uma completa transformação alquímica da base de metal da dor e do sofrimento em ouro. Esse passo simples é chamado de entrega.

Se você tem uma doença grave, use-a para alcançar a iluminação. Use qualquer coisa ruim que acontecer em sua vida para alcançar a iluminação. Retire o tempo da doença. Não dê a ela nenhum passado ou futuro. Deixe-a forçar você para a percepção intensa do momento presente. E veja o que acontece. Torne-se um alquimista. Transforme o metal em ouro, o sofrimento em consciência, a felicidade em iluminação.

A entrega não transforma aquilo que é; a entrega transforma você. Quando você estiver transformado, todo o seu mundo fica transformado, porque o mundo é somente um reflexo.

“Seja como um servo esperando pelo retorno do seu senhor”, diz Jesus. O servo desconhece a que horas o senhor vai chegar. Então fica acordado, vigilante, para não perder a chegada do patrão. Em outra parábola, Jesus fala das cinco mulheres descuidadas (inconscientes) que não tinham levado azeite suficiente (consciência) para manter as lâmpadas acesas (ficar presente) e, assim, perderam a chegada do esposo (o Agora) e não participaram das bodas (iluminação). Essas parábolas não são sobre o fim do mundo, mas sobre o fim do tempo psicológico. Elas apontam para a possibilidade de se viver num estado inteiramente novo de consciência.

sábado, 2 de julho de 2016

Corporificando a Cosciência

Aidda Pustilnik e Theda Basso
Aidda Pustilnik é psicóloga e psicoterapeuta. Em parceria com a psicóloga argentina Theda Basso, criou a Metodologia  "Dinâmica  Energética do Psiquismo" - DEP, uma escola que trabalha com o desenvolvimento pessoal, oferecendo aos alunos um caminho para que possam expressar o Ser que cada um é. Em um de seus livros, "Corporificando a Consciência",  Aidda e Theda abordam o tema que é a essência de sua mensagem:  A Consciência que somos, mas que ainda se encontra inconsciente em nós mesmos, necessita emergir através de nossa experiência e se fortalecer,  a fim de tornar-se sustentável em sua manifestação. 

 Corporificando a Consciência

Quando o ego se entrega ao propósito do Ser, o indivíduo se transforma numa “espécie de supercondutor”, de resistência quase nula, que transmite toda a presença da Consciência que ele pode suportar, sem distorções. Não há limites para a expansão da Consciência, cujo fim se encontra no fundir-se outra vez à Consciência Universal.

Somos Consciência que está inconsciente em nós mesmos, como fonte de todas as nossas possibilidades; para manifestar-se, necessita emergir através de nossa experiência. O que está oculto vira à luz, na medida em que formos capazes de sustentar sua manifestação. O conceito "Inconsciente Emergente" expressa a compreensão desse substrato oculto de nossas possibilidades.

Jesus de Nazaré preparou-se por trinta anos para poder manifestar a Energia Crística, passando a ser Jesus Cristo. Foram necessários trinta anos de preparação para que Ele pudesse sustentar a manifestação dessa qualidade, a força da Consciência que existia nele.

Nos Evangelhos de Jesus Cristo, sempre está presente uma expressão que diz: “Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça”. É preciso ouvir a própria essência, a nossa natureza verdadeira. Assumir o Ser que somos pelo treinamento de “escuta” de nós mesmos e de sua prática. Para a “escuta do Ser”, precisamos utilizar um estado expandido de consciência, por meio do qual podemos intuir o significado e o caminho de nossas vidas. Fazer o caminho do desenvolvimento da consciência, manifestando em si a Consciência, é fazer o “caminho do herói”, ou seja, o caminho de si mesmo. É um despertar permanente.

Os bloqueios corporais, emocionais e mesmo espirituais, são impedimentos para que as possibilidades, que estão no substrato profundo, o Divino em cada um de nós, se revelem em nosso modo de ser e de viver. Quando todo o substrato inconsciente tiver emergido, se é que isso possa acontecer, somente existirá consciência e o resultado será Deus.

O termo Inconsciente Emergente expressa o fato de possuirmos um substrato, no qual estão inscritas nossas possibilidades; mas estas só emergirão na medida em que nosso eu suporte a sua manifestação. Todos os grandes mestres do conhecimento tiveram um tempo de preparação para poder manifestar suas qualidades mais desenvolvidas e mais sutis. Não somos exceção a essa regra.

Nelson Mandela disse: “Nosso medo mais profundo não é de sermos inadequados, mas de sermos poderosos além da medida. É nossa Luz e não nossa Escuridão, que mais nos assusta. Nós nos perguntamos: quem sou Eu para ser brilhante, atraente, talentoso, fabuloso? Na verdade, quem é você para não ser? Você é uma criança do Espírito. Você, pretendendo ser pequeno, não serve ao mundo. Não tem nada de iluminado no ato de se encolher para que os outros não se sintam inseguros ao seu redor. Nascemos para manifestar a glória do Espírito que está dentro de nós. E à medida que deixamos nossa Luz brilhar, damos permissão para outros fazerem o mesmo. À medida que liberamos nosso medo, nossa presença libera outros”.

O avatar Sathya Sai Baba, ao dar a bênção a seus devotos, no seu Ashram, em Putaparti, sul da Índia, não permitia a ninguém tocá-lo nesse momento, porque sabia que se alguém o tocasse, no mesmo instante queimar-se-ia, em função da força de Luz que se manifestava  através dele.

Somos Consciência em processo de manifestação, através do desenvolvimento. Tudo o que existe é Consciência, ainda que se manifeste de formas diversas, desde as mais densas até as mais sutis.