domingo, 23 de outubro de 2016

Por Que Meditar

Bokar Rinpoche
Os homens são afligidos por sofrimentos, angústias e medos inumeráveis e são incapazes de evitá-los. A meditação tem por função eliminar esses sofrimentos e essas angústias.
 
 Pensamos, geralmente, que felicidade e sofrimento surgem de circunstâncias exteriores, mas felicidade e sofrimento não dependem das circunstâncias exteriores e sim da própria mente. Uma atitude de mente positiva engendra a felicidade, uma atitude negativa produz o sofrimento.  Como compreender esse engano, que nos faz procurar fora aquilo que podemos encontrar dentro?
 
Uma pessoa de rosto limpo e nítido, ao se olhar em um espelho, vê um rosto limpo e nítido. Aquele cujo rosto é sujo e maculado de lama vê no espelho um rosto sujo e maculado. Em verdade, o reflexo não tem existência, só o rosto existe. Esquecendo o rosto, tomamos seu reflexo por real. A natureza positiva ou negativa de nossa mente se reflete nas aparências exteriores que nossa própria mente envia. A manifestação exterior é uma resposta à qualidade de nosso mundo interior.

A felicidade que desejamos não virá da reestruturação do mundo que nos cerca, mas da reforma de nosso mundo interior. Enquanto não reconhecermos que felicidade e sofrimento têm sua origem em nossa própria mente, permanecemos impotentes para estabelecer um estado de felicidade autêntica, impotentes para evitar as contínuas ressurgências do sofrimento.
 
Se, ao descobrirmos no espelho a sujidade de nosso rosto, decidíssemos lavar o espelho, mesmo que esfregássemos fortemente, durante anos, com sabão e água em abundância, nada aconteceria; nem a mínima sujeira, nem a mínima mancha desapareceria do reflexo.

Eis por que o budismo e a meditação têm por primordial compreender que felicidade e sofrimento não dependem do mundo exterior, mas de nossa própria mente. Uma vez adquirida essa compreensão, podemos lavar nosso rosto: o reflexo surgirá limpo no espelho.
 
É preferível, para os principiantes, limitar-se a curtas sessões de dez ou quinze minutos. Mesmo que a meditação seja boa, devemos parar. Depois, se dispusermos de tempo necessário, faremos uma segunda sessão curta. Melhor é proceder por uma sucessão de curtas sessões, do que engajar-se numa longa sessão que, mesmo boa no início, corre o risco de resvalar para a dificuldade e cansar o meditador.
       
As pessoas que compreendem mal a meditação creem que todos os pensamentos devem cessar. Não podemos, de fato, estabelecer-nos num estado sem pensamentos. O fruto da meditação não é a ausência de pensamentos, mas o fato de que os pensamentos deixam de ser nocivos para nós. De inimigos, os pensamentos tornam-se amigos.
 
Quando não conhecemos a natureza da mente, vivemos na convicção de que os pensamentos existem realmente. Sendo tomados por reais, tornam-se causa de sofrimento.

Meditar alguns dias, alguns meses, até mesmo um ano, depois abandonar, não dará frutos. Um enfermo deve tomar seus medicamentos até a cura completa. Se ele para o tratamento, mesmo que este dure meses ou anos, o mal triunfará. Devemos prosseguir nossa meditação, até que tenhamos alcançado uma realização efetiva e estável. Regularidade e perseverança são duas condições necessárias para uma meditação proveitosa.

sábado, 15 de outubro de 2016

A Voz do Silêncio

H.P. Blavatsky

Ajuda a Natureza e coopera com ela, e ante ti ela abrirá, de par em par, os portais de suas câmaras secretas e desvendará ante tua vista os tesouros escondidos no mais profundo do seu seio puro e virgem. Não maculada pela mão da matéria, ela mostra seus tesouros tão só ao olho do Espírito – o olho que nunca se fecha, o olho para o qual não há véu algum em todos os seus reinos.

Silencia os teus pensamentos e fixa toda a tua atenção em teu Mestre, que ainda não vês, mas já sentes.

A mente é o grande assassino do Real. Que o discípulo mate o assassino. Mata em ti toda a memória de experiências passadas. Não olhes para trás ou estarás perdido. Longo e penoso é o caminho diante de ti, ó discípulo. Um simples pensamento sobre o passado que deixaste atrás te arrastará para baixo, e terás que começar de novo a subida.

Sê limpo de coração antes de empreenderes a viagem. Antes de dar o primeiro passo, aprende a discernir o real do falso, o fugaz do permanente. Aprende, sobretudo, a separar a erudição da cabeça, da Sabedoria da Alma. Mesmo a ignorância é preferível à erudição da cabeça sem a Sabedoria da Alma, para iluminar e guiar.

Evita o elogio, pois eles conduzem à auto-ilusão. Teu corpo não é o eu. Teu Eu em si é sem corpo, e não o afetam elogios nem censuras.

Sê humilde, se queres adquirir a Sabedoria. Sê mais humilde, ainda, quando houveres te assenhoreado da Sabedoria.

Quanto mais avançares, mais armadilhas teus pés encontrarão. A senda do progresso é iluminada por uma única chama: a chama da audácia ardente no coração. Quanto mais se ousar, mais se obterá. Quanto mais se temer, mais essa luz empalidecerá, – e só ela pode guiar.

Quando houveres chegado a este estado, os Portais que tens de conquistar na Senda se abrirão, de par em par, para deixar-te passar e nenhuma resistência terão para deter teu curso os poderes mais fortes da Natureza.

Sabe, ó Vencedor dos pecados, que tão logo o Swami tenha cruzado a sétima Senda, toda a Natureza vibra de reverente alegria e se faz submissa. A argêntea estrela cintila a boa nova às flores noturnas; o riacho sussurra a lenda aos calhaus; as escuras ondas do oceano a bramam aos rochedos envoltos de espumas; brisas impregnadas de aromas a cantam aos vales e altivos pinheiros murmuram misteriosamente: “Surgiu um Mestre, um Mestre Do Dia”.

domingo, 9 de outubro de 2016

A Busca Interior

Eva Pierrakos
A busca interior requer coragem, passa por regiões de trevas, conduz à maturidade – e o tesouro é sempre encontrado, o tesouro de seu Eu divino, sábio e amoroso.

Há todo um outro mundo além desse que você conhece, toca e vê. É somente explorando a si mesmo e penetrando em seu âmago que encontrará esse mundo e, então, ele se revelará na sua realidade e na sua glória suprema. Esse mundo existe dentro e ao redor de você e o inspirará a partir de sua própria sabedoria, à medida que você procurar alcançá-lo.

A experiência de Deus é a mais extraordinária de todas, porque contêm em si todas as experiências que se possam desejar. Quando você entra em contato com Deus no interior do eu, as respostas devem chegar e você as perceberá e compreenderá.

Se no mais diminuto dos átomos existe um poder capaz de liberar energias ilimitadas para construir ou para destruir, tão infinitamente maior é o poder da mente. Pondere sobre este fato tão significativo e ele lhe abrirá novas perspectivas.

Para atingir as esferas superiores da espiritualidade, precisamos aprender a nos tornar canais receptivos à consciência divina. Não podemos alcançar esse estado sem a capacidade de aquietar nossa mente exterior. Só assim abrir-se-á um canal através do qual sempre podemos entrar em contato com a voz de Deus dentro de nós.

Só sofremos porque, em vez de ver o pensamento tal como é, acreditamos que é verdadeiro. Se teme seus pensamentos é porque se identifica com eles. Reconheça-os, escute-os, seja polido e respeitoso com eles. "Sei que sois como sonhos, não vos reprovo, mas tão pouco me apego a vós". E retorne ao momento presente.

Não deposite sua felicidade nas coisas externas. É tornar a felicidade demasiado frágil. Sua alma é a única posse que jamais lhe será roubada. É, também, seu bem mais precioso, uma vez que é a fonte de todas as verdadeiras riquezas, a começar pelo poder de gerar o seu próprio mundo. Por sorte, seu bem mais precioso está inteiramente em seu poder.

sábado, 1 de outubro de 2016

O Fim do Sofrimento

Js.
"Prestai atenção a isto: quando olhais uma árvore, nunca o fazeis a não ser com a imagem que tendes dessa árvore. Nunca a olhais sem a imagem, sem pensamento, nunca a olhais simplesmente. E tenho certeza de que nunca olhastes vossa esposa ou marido dessa maneira, isto é, sem a imagem que tendes a respeito dela ou dele.

E quando olhais para a nuvem, para a ave, para a luz refletida na água, sem a imagem, estais então diretamente em contato com a coisa, não há espaço entre vós e a coisa que estais observando. Fazei-o uma vez e vereis o que acontece. O intervalo de tempo entre o observador e a coisa observada, a distância, o espaço, tudo passa por uma extraordinária mudança.

Da mesma maneira olhai o sofrimento, sem tratar de evitá-lo; ponde-vos inteiramente em contato com ele. E com ele só estareis em contato se lhe dispensardes toda a atenção e cuidado. E só podeis dispensar-lhe toda a atenção se vossa  mente estiver quieta.

Ao perceberdes este fato com o máximo de clareza – não como idéia, mas como uma coisa que apalpais, tocais, vedes – notareis que o medo, bem como o sofrimento chega ao seu fim, quando entrais em contato direto com ele."
(Krishnamurti)

Este texto de Krishnamurti me fez lembrar um fato que antecedeu à morte do Pe. Assis Portela. Ao ser visitado por uma pessoa da família, algumas horas antes de falecer, ele abriu os olhos e levantou o dedo polegar. O Pe. Assis estava em contato com a vizinhança da morte. E essa realidade, que tanto nos apavora, ao ser abordada assim, sem imagem, sem pensamento, sem resistência, passa por uma transformação radical, tão bem expressa por aquele dedo polegar levantado.

A mesma transformação, também, pode se operar em nossas experiências diárias, quando delas nos aproximamos com a mente silenciosa, em que não há espaço para pensamentos e imagens, esses remanescentes do passado, que turvam a percepção da realidade presente.

Em cada uma dessas experiências assim vividas, quaisquer que sejam elas, deveríamos também levantar o dedo polegar, como sinal de que o medo, bem como o sofrimento chegou ao seu fim.