sábado, 29 de julho de 2017

A Arte de Amar

Erich Fromm
O amor de uma mãe por seu filho tem um duplo aspecto: o primeiro é o cuidado visando à preservação da vida do filho. O outro aspecto vai mais longe do que a simples preservação. É a atitude que infunde no filho o amor à vida, que lhe dá o sentimento de que é bom viver.

Há um simbolismo bíblico que expressa bem estes dois aspectos do amor materno. É o seguinte: A terra prometida (a terra é sempre o símbolo materno) é descrita como aquela em que “corre leite e mel”. O leite é o símbolo do primeiro aspecto do amor, o do cuidado. O mel simboliza a doçura da vida, o amor por ela e a felicidade de estar vivo.
  
Muitas mães são capazes de dar “leite”, mas só a minoria é, também, capaz de dar “mel”. A fim de ser capaz de dar “mel”, a mãe não só deve ser capaz de ser uma “boa mãe”, mas ainda ser uma pessoa feliz - e este alvo não é alcançado por muitas.
  
O amor da mãe pela vida é tão contagioso quanto o é a sua ansiedade. Ambas as atitudes têm profundo efeito sobre a personalidade do filho. Podemos mesmo distinguir entre crianças - e adultos- os que só receberam “leite” e aqueles que tiveram “leite e mel”.

sábado, 22 de julho de 2017

O Corpo de Dor

Eckhart Tolle
No caso da maioria das pessoas, quase todos os pensamentos costumam ser involuntários, automáticos, repetitivos. Num sentido estrito, não pensamos – o pensamento acontece em nós. Para essas pessoas, a afirmação “eu penso” é tão falsa quanto “eu faço a digestão” ou “eu faço meu sangue circular”. A digestão acontece, a circulação acontece, o pensamento acontece.

As pessoas vivem possuídas pelo pensamento, pela mente. E, uma vez que a mente é condicionada pelo passado, então somos forçados a reinterpretá-lo sem parar.

Embora o corpo seja muito inteligente, ele não consegue diferenciar uma situação real de um pensamento. Por isso, reage a todo pensamento como se fosse a realidade. Para o corpo, um pensamento preocupante, assustador, corresponde a “Eu estou em perigo”, e ele responde à altura, embora a pessoa que esteja pensando isso possa estar numa cama quente e confortável.

Por causa da tendência humana de perpetuar emoções antigas, quase todo mundo carrega no seu corpo energético um acúmulo de antigas dores emocionais, que eu chamo de “corpo de dor”. Toda emoção negativa que não é plenamente enfrentada nem considerada pelo que ela é, no momento em que se manifesta, não se dissipa por inteiro. Deixa atrás de si um traço remanescente de dor.

O ego não é apenas a mente não observada, a voz na cabeça que finge ser nós, mas também as emoções não observadas que constituem as reações do corpo ao que essa voz diz. A voz na cabeça (os pensamentos) conta ao corpo uma história em que ele acredita e à qual reage. Essas reações são as emoções. Estas, por sua vez, devolvem energia para os pensamentos que as criaram originalmente. Esse é o círculo vicioso entre emoções e pensamentos.

É nossa presença consciente que rompe a identificação com o corpo de dor. Assim que desfazemos sua ligação com nosso pensamento, ele começa a perder energia. A energia que estava presa no corpo de dor muda sua freqüência vibracional e é convertida em presença. Dessa maneira, o corpo de dor se torna combustível para a consciência. É por isso que muitas das pessoas mais sábias e iluminadas do planeta já tiveram um corpo de dor bastante pesado.

Uma pergunta que as pessoas costumam fazer é: “De quanto tempo precisamos para nos libertar do corpo de dor?”. Não é o corpo de dor, e sim a identificação com ele que causa o sofrimento. É essa identificação que nos leva a reviver o passado vezes sem conta e nos mantém no estado de inconsciência. Assim, uma pergunta mais importante a fazer seria esta: “De quanto tempo necessitamos para nos libertar da identificação com o corpo de dor?”.  A resposta a essa pergunta é: não demora tempo nenhum. Sempre que o corpo de dor estiver em atividade, temos que estar cientes de que o que estamos sentindo é o corpo de dor em nós. Esse reconhecimento é tudo que precisamos para interromper a identificação com ele. E quando essa identificação cessa, a transmutação tem início.

domingo, 16 de julho de 2017

Androginia

Js.
A palavra andrógino se origina de duas palavras gregas: andros e gynos, significando respectivamente homem e mulher. Estudos psicológicos demonstram que todo ser humano é andrógino, isto é, traz em si as energias masculinas e femininas. Jung denominou de anima a energia feminina presente no homem e animus a energia masculina existente na mulher. Segundo o Gênesis (cap. 1,) o homem original, Adão, era tanto macho quanto fêmea. “Criou-os macho e fêmea. Abençoou-os e deu-lhes o nome de Homem” Mas, somente em pessoas espiritualmente desenvolvidas essas polaridades se unem, sem mais precisarmos projetar uma metade nossas em um parceiro humano. Sempre que um homem ou uma mulher nos fascina, podemos ter a certeza de que um componente projetado pelo inconsciente está em ação. Os grandes sábios da humanidade eram andróginos. Jesus Cristo, Buda, Ramana Maharsh e centenas de outros que já estiveram entre nós, deram demonstração de firmeza, autoridade (qualidades masculinas), mas eram eram ao mesmo tempo bondosos, compassivos e plenos de amor. (qualidades femininas). Essa integração do masculino e feminino em uma única pessoa, com suas energias circulando em uma única corrente de vida, implica uma profunda evolução do ser humano de volta às suas origens.

Paco Rabane
Cada homem e cada mulher tem em si o seu duplo feminino ou masculino. A unidade está oculta no fundo de nós mesmos. É por isso que o Alquimista nos diz: “Desce às tuas entranhas, como Orfeu aos infernos, para encontrar Eurídice; como Dante em busca de Beatriz, e tornar-te-ás um ser completo, um Jano, um rei-rainha coroado; tornar-te-às o andrógino sagrado e não serás mais que Um com Deus. “Visita interiora terrae et invenies ocultum lapidem.” Explora o interior da terra e encontra a pedra oculta.

Se eu tivesse uma mensagem, seria esta: “Atenção, o que veem aqui em baixo não é tudo. E o resto vos é acessível, com esforço, se souberem encontrar as chaves. As chaves não são inacessíveis; trazemo-las dentro de nós mesmos. “Explora as tuas entranhas e encontrarás a pedra oculta”. No momento de sua encarnação, o nosso ser foi bruscamente cindido em dois, na dor. Ele, que era andrógino num plano vibratório, tornou-se homem ou mulher sobre a terra. Dito de outra maneira, este outro nós mesmos, que por vezes passamos uma vida inteira a procurar, está enterrado em nossas entranhas. Enquanto não tivermos tomado consciência disso, a busca amorosa continuará decepcionante. (In: Trajetória de uma vida a outra – (Paco Rabane)

Esse trabalho de encontrar o masculino e o feminino que vivem dentro de nós e de fazer amor com eles, retira nossas projeções, sem que elas tenham de passar por affairs românticos, e permite que a energia psíquica se acumule e se torne, no momento certo, pronto para a transformação. Ao negar aos nossos monstros acesso à consciência, impedimos a passagem da energia vital, instintiva e em estado bruto, que se encontra trancada dentro de deles. No princípio da criação, o masculino e o feminino estavam juntos. Separaram-se e o homem incompleto procura o seu equilíbrio nas relações sexuais, sem saber que a unidade está na sua consciência. (In: Pelo Caminho da Dor – Sukie Colegrave)

A
Chris Griscom
o avançarmos para estados superiores de consciência, todos nós, mais cedo ou mais tarde, experienciamos o fato de sermos andróginos, de estarmos imbuídos de energias masculina e feminina. Entrar em contato com a mulher interior é um meio poderosíssimo de eliminar a projeção que você faz na mulher exterior. Tendo estabelecido contato com a mulher interior, ela se transforma em essência viva, uma parte viva de você, cuja energia pode ajudá-lo em qualquer hora. (In: A Energia Sexual – Chris Griscom)

sábado, 8 de julho de 2017

Consciência é a resposta

Robert Happé

A razão pela qual a maioria das pessoas não consegue entender os outros está ligada à falta de compreensão de si mesmas. Quando passamos a entender a nós mesmos, torna-se simples entender os demais.

Uma das Leis Cósmicas mais importantes é o conhecimento de que todo ser vivo possui a força e o poder de magnetizar para si tudo o que é necessário para seu desenvolvimento e crescimento. Essa é uma Lei que merece toda a atenção, porque significa que, qualquer situação ou pessoa que encontramos, fomos nós que atraímos, em função da necessidade dessa experiência para o nosso desenvolvimento.                 

Não estamos sós. Existe um incrível e poderoso vórtice de energia em torno e dentro de nós, chamado Deus, Divino, Cristo, ou simplesmente Vida. Entregue-se à nova consciência, que aguarda sua acolhida para manifestar-se em novas visões. Prepare-se para a transformação e, certamente, ela virá. Gaste mais tempo com você mesmo e apenas observe o que acontece, sem críticas ou julgamentos. Aí, então, aceite. Equilibre tudo e crie a paz.

Os pensamentos que percorrem a sua mente não são você. Você é aquele que está consciente desses pensamentos. É de extrema importância, então, observar os pensamentos, porque isto nos ajuda no aprendizado de nos tornarmos conscientes.

A realidade é que as experiências trazem lições e nós atraímos as experiências em função de nossa necessidade de aprender sobre nós mesmos. E quando evitamos essas experiências, estamos rejeitando a possibilidade de aprendizado e ficamos atraindo o mesmo tipo de experiência, de novo e de novo.

Assim como descobrimos o funcionamento da eletricidade ao obtermos a luz, ligando o polo positivo ao negativo, da mesma forma precisamos proceder para ganhar consciência. Ao nos tornarmos conscientes dos aspectos positivos e negativos da experiência, reunindo-os, “acendemos” nossa consciência e começamos a entender as ocorrências de nossa vida, a partir de uma perspectiva mais ampliada de visão e descobrimos, então, que sempre podemos fazer uma escolha.

Na realidade, tudo é sagrado. Todos e quaisquer lugares da Terra, toda forma de vida, visível ou invisível, tudo expressa preciosidade, tudo é divino.

Em nosso mundo convivem, lado a lado, dois tipos diferentes de pessoas. Podemos descrevê-las como sendo as que despertaram e as que estão adormecidas ou, dito de outro modo, os que adquiriram percepção consciente da realidade e os que continuam dirigidos pelos valores do ego.

Somente o medo nos impede de conhecer nossos próprios poderes. Quando você se dá conta disso, você conscientemente decide assumir o comando de sua própria vida, confiar no seu próprio ser, o qual possui tudo o que é necessário para ir ao encontro dos desafios que chegam, de momento a momento, nesta vida que você escolheu viver.

sábado, 1 de julho de 2017

Entrega ao Deus Interior

Eva Pierrakos
A busca espiritual não é mais província exclusiva de monges solitários. Inúmeras pessoas comuns embarcaram numa jornada para conhecer a si mesmas e aprender de que modo cumular suas vidas de bens de dentro para fora.

A estada de alguém num corpo humano é uma jornada. Trata-se de um movimento de fluxo constante. A pessoa atravessa diferentes paisagens, entre as quais a paisagem do Eu superior, que é belo e irradia luz. Mas, se a tarefa que cada qual deve cumprir é abandonada, a pessoa não terá a experiência dessa paisagem e se detém nas paisagens de outros aspectos da consciência, que ainda não se integraram ao eu real.

Nunca é demais chamar-lhes a atenção para que vocês se dediquem à descoberta do inconsciente; familiarizem-se com ele, tornem-no consciente na meditação, nas orações, com todo o empenho de vocês. Poucas pessoas têm a posse real de seu verdadeiro ser; a maioria não se conhece e se acham perdidas quanto a si mesmas, pois não pisam em terra firme.

O único lugar em que Deus pode ser encontrado é dentro de vocês e a experiência interior de Deus é a maior das experiências, porque traz em si tudo o que há de desejável.

Não tenham medo do seu eu mais profundo. Fugir dele é trágico, pois impõem a si mesmos muito sofrimento desnecessário. Nada gera tanto sofrimento quanto fugir do eu. Vocês nada têm a temer, absolutamente nada.

Olhem sempre para dentro de si mesmos profundamente, sem atitudes defensivas, sem angústia. Quanto mais fizerem isto, mais preparados estarão para fazer contato com os outros.

Esta é a batalha trágica da humanidade: por um lado, vocês estão perturbados, em função da insegurança da existência. Percebem o desperdício da sua vida, enquanto aderem exclusivamente ao eu exterior, aos valores exteriores. Por outro lado, fazem tudo para conservar a própria infelicidade. Procuram reforçar a identidade com o ego: mais atividades exteriores, mais crenças e válvulas de escape exteriores.

O universo traz em si o bem ilimitado, disponível a vocês, se estiverem abertos a isso. Quando o verdadeiro eu está bloqueado, as portas para o seu universo estão fechadas. Algo em vocês barra a passagem.

Se as pessoas soubessem que trazem em si mesmas algo no fundo do coração, algo que é infinitamente superior ao ego-eu, teriam a oportunidade, por meio da experimentação e da exploração, de procurar a comunicação com esse núcleo. Tornar-se-iam capazes de chegar ao seu verdadeiro ser interior, fonte de sabedoria.