sábado, 28 de outubro de 2017

O Poder da Suavidade

                                                                        Paulo Coelho

O viajante caminhava pela estrada, quando observou o pequeno rio que começava tímido por entre as pedras. Foi seguindo-o por muito tempo. Aos poucos, ele foi tomando volume e se tornando um rio maior. O viajante continuou a segui-lo.

Bem mais adiante, o que era um pequeno rio se dividiu em dezenas de cachoeiras, num espetáculo de águas cantantes.

A música das águas atraiu mais o viajante, que se aproximou e foi descendo pelas pedras, ao lado de uma das cachoeiras. Descobriu, finalmente, uma gruta.

A natureza criara, com paciência caprichosa, formas na gruta. Ele a foi adentrando, admirando sempre mais as pedras gastas pelo tempo.

De repente, descobriu uma placa. Alguém estivera ali antes dele. Com a lanterna, iluminou os versos que nela estavam escritos.

Eram versos do grande escritor Tagore, prêmio Nobel de literatura de 1913:
"Não foi o martelo que deixou perfeitas estas pedras, mas a água, com sua doçura, sua dança, e sua canção.
Onde a dureza só faz destruir, a suavidade consegue esculpir."

sábado, 21 de outubro de 2017

Eu me lembro!

                                                                Casimiro de Abreu

Eu me lembro! eu me lembro! - Era pequeno 
E brincava na praia; o mar bramia
E erguendo o dorso altivo, sacudia
A branca escuma para o céu sereno.

 
E eu disse a minha mãe nesse momento:
"Que dura orquestra! Que furor insano!
Que pode haver maior que o oceano,
Ou que seja mais forte do que o vento?!"

 
Minha mãe a sorrir olhou pr´os céus
E respondeu: - Um Ser que nós não vemos.
"É maior do que o mar que nós tememos,
Mais forte que o tufão! Meu filho, é  Deus!"

sábado, 14 de outubro de 2017

Psicologia do autoconhecimento

Plena Atenção é a atitude de estarmos despertos, bem  atentos ao momento que estamos vivendo; o que significa mantermo-nos vigilantes com relação a tudo o que pensamos ou fazemos.

As pessoas, habitualmente, não vivem seus atos no presente, mas vivem no passado ou no futuro. Parecendo fazer qualquer coisa aqui, nesse mesmo momento estão distantes nos seus pensamentos, perdidas nas lembranças do passado ou arrastadas por seus desejos e especulações sobre o futuro. Somos, portanto, criaturas do passado, produto de nossas emoções, experiências, registros do que foi. E, assim, não vemos o que é real, verdadeiro e novo.
  
Onde estará o que é real e verdadeiro? Decerto que estará aqui e agora, na nossa frente, mas não percebemos esta realidade, não temos a consciência dela.  A vida verdadeira é o momento presente e não as lembranças de um passado que passou, nem os sonhos de um futuro que ainda não chegou. Aquele que vive no momento presente vive a vida real e é o mais feliz dos seres.
  
Pela simples observação de como surgem e passam os pensamentos e as emoções, ganhamos tranquilidade e compreensão, isto é, sabedoria. Nossa mente evita ser observada porque está habituada a ficar solta, pulando de galho em galho, como um macaco na selva.
  
Na vida cotidiana, por exemplo, suponhamos que, por falta de plena atenção, estejamos coléricos, dominados pelo ódio. Resulta curioso e paradoxal que a pessoa colérica não tenha realmente consciência de que está colérica. Porém, no momento em que se torna consciente da presença desse estado em sua mente, começa a apaziguar-se.

Quanto mais contemplamos o surgir e o desaparecer dos pensamentos, mais conscientes nos tornamos de sua existência e de sua natureza específica. A influência dominadora que o pensamento exerce sobre nós torna-se cada vez mais fraca e de escravos de nossos pensamentos, passamos a ser senhores. Muitas coisas poderão ser compreendidas pela mente capaz de permanecer atenta por longo período de tempo. A consciência atingirá níveis mais elevados e a visão intuitiva desenvolvida nos possibilitará esclarecimentos, impossíveis de alcançar pela função intelectual costumeira.
 
O importante na meditação de Plena Atenção é desenvolver, em todos os momentos, a vigilância e consciência de nossas emoções, palavras e pensamentos. Pela maior capacidade de observação, a tranquilidade interior se desenvolve e a consciência mais lúcida torna o homem mais senhor de si. Isto é possível, mesmo para pessoas de muito trabalho e responsabilidade, que dizem não ter tempo para meditar. Observar e estar atento ao momento presente é meditação, seja na leitura de um livro, seja na realização das diferentes atividades diárias.

In:  Budismo: psicologia do autoconhecimento.
               George da Silva e Rita Homenko

sábado, 7 de outubro de 2017

Como acabar com a dor

Rosa Maria Rezende


Um discípulo perguntou ao Mestre:

"Mestre, o que devo fazer com a dor?” 

E o Mestre respondeu: “Filho, se você ficar com a dor, ela acaba com você; se você fugir dela, ela corre atrás de você, pega-o e também acaba com você”. 

 Mas, Mestre,o que faço então?  

“Siga o Caminho do Meio, filho. Não fuja, nem fique. Mas abrace a dor”.


Essa resposta é realmente paradoxal! Abraçar a dor afasta você de ficar lutando ou fugindo da dor. Abraçar a dor envolve a “arte da aceitação”, implica na possibilidade de mergulhar profundamente dentro de si mesmo.


O que importa é perceber o tamanho de sua dor. Ao percebê-la e aceitá-la, você a dissolve. A melhor forma de acabar com a dor é viver a dor.