sábado, 24 de novembro de 2018

Carta a uma jovem

Nicole Montinéri
Nicole Montinéri nasceu em 1957. Após anos de intensa busca, recebeu o dom máximo da vida: o despertar, que lhe ocorreu em 2006, por ocasião de uma grave doença. Como ela diz: “Foi  a partir do encontro com o que as pessoas chamam de morte que eu pude ver o que ensinam todos os sábios da humanidade, desde tempos imemoriais - atrás das aparências do universo se encontra a realidade de uma Consciência única e eterna”.
Toda a trajetória de Nicole Montinéri pelos caminhos da espiritualidade vem relatada em seu livro: “N´ayons pas peur de mourir” (Não tenhamos medo de morrer).
O texto que segue é a tradução de uma carta que ela escreveu a uma jovem, intitulado “Lettre à une jeune fille”


17 anos era a idade que eu tinha quando descobri Krishnamurti. A leitura de seus escritos teve um forte impacto em minha vida, esclarecendo uma realidade interior que eu pressentia ser minha vida autêntica, mas que ainda não ousara colocá-la em prática. A liberdade, dizia Krishnamurti, não está no fim do caminho, ela está no primeiro passo. A liberdade de ser si - mesmo.

Todos nós sofremos as influências familiares e sociais, que nos tornam uma personalidade condicionada. A maioria das pessoas se conforma com essa realidade, sem nunca questioná-la. Mas alguns sentem a necessidade de partir em busca de seu ser autêntico, a fim de descobrir o potencial de riqueza que lhes foi outorgado no início, mas que tudo na sociedade contribuiu para ocultar.

Não abandone sua busca; não faça como esses adultos que se satisfazem com uma personalidade de fachada. A parte mais autêntica de seu ser é intocável; ninguém pode prejudicá-la. Mas ela está oculta, soterrada nas profundezas, como um tesouro. Se você perseverar na sua busca, ela vai se revelar, desabrochar. Então tudo muda em você e na sua relação com o mundo. Você terá encontrado a paz, a simplicidade de ser na adesão ao que você é,  ao que há de único em você. Sua riqueza poderá, então, se manifestar.

Isto não significa que tudo será fácil; o mundo é assim mesmo: reflete nossa sociedade, a crueldade de certas pessoas, a perversidade dos poderosos... Mas eu sei que há uma Realidade e que cada um de nós pode contribuir para que ela se manifeste. Realidade de paz, de harmonia, de amor.

A transformação começa em si própria, pelo caminho do conhecimento de seu verdadeiro ser. Observe-se, observe o funcionamento de sua mente, tome consciência de suas reações, veja o que não é  você mesma nos seus pensamentos e comportamentos, o que é condicionado, influenciado pelos outros.

Seja autêntica e siga sempre em frente na busca do que você aspira. A vida lhe dará o que for necessário para crescer, mesmo que isso lhe pareça por vezes difícil. Você terá sua parte de provas e sofrimentos, mas o essencial  está na aceitação.

Viva sempre aspirando ser você mesma. Viva nessa busca desse seu lado autêntico e, aos poucos, você se tornará capaz de perceber o infinitamente belo, o infinitamente sutil da vida.

Tenha confiança.

sábado, 29 de setembro de 2018

O conhecimento silencioso

Wayne Dyer
Ontem, enquanto escrevia este livro aqui em Maui, vivenciei um saber que tentarei explicar a vocês. 

Uma japonesa fora resgatada das ondas. Seu corpo estava inchado, devido à ingestão excessiva de  água salgada. Ajoelhei-me ao seu lado, junto a outras pessoas, tentando reanimar seu coração por meio de procedimentos de ressuscitação cardiopulmonar, enquanto muitos de seus amigos japoneses choravam de angústia, ao mesmo tempo em que a vã tentativa de ressuscitação prosseguia. 

De repente, tive uma calma percepção do espírito dessa mulher flutuando acima de nossos esforços para salvá-la. Enquanto observava a cena de salvamento na praia, senti a presença de uma bem-aventurada e serena energia e soube, de um modo inexplicável, que ela não seria reanimada e que não estava mais ligada ao corpo que tantas pessoas bem intencionadas, inclusive eu, tentavam trazer de volta à vida. 

Esse saber calmo me fez levantar, juntar as mãos e dizer uma prece silenciosa por ela. Éramos de partes diferentes do mundo e nem mesmo compartilhávamos o mesmo idioma, mas me sentia conectado a ela. Sentia-me sereno com o conhecimento de que seu espírito e o meu estavam de algum modo conectados pelo mistério da natureza transitória e efêmera de nossas vidas físicas. 

Enquanto me afastava, a dor da morte não estava dominando meus pensamentos. Em vez disso, eu sabia e sentia que a partida do espírito dessa mulher do que era agora um corpo sem vida e inchado fazia parte da perfeita ordem divina. Eu não tinha como prová-lo, não possuía provas científicas. Eu não achava isso - sabia isso. Esse é um exemplo do que quero dizer com conhecimento silencioso. Ainda sinto sua presença enquanto escrevo, 24 horas depois.
 
Em "O Poder do Silêncio", Carlos Castañeda descreve o conhecimento silencioso como "algo que todos nós temos, algo que tem conhecimento completo de tudo, mas não consegue pensar, falar do que sabe. O homem renunciou ao poder silencioso pelo mundo da razão."

sábado, 21 de julho de 2018

Conhecimento e Sabedoria

Eckhart Tolle
Eckhart Tolle foi convidado a uma palestra para os funcionários do Google sobre  a diferença entre informação, conhecimento e sabedoria. De início, ele ressaltou sua admiração com o que viu. Ficou admirado com a estrutura da empresa, a forma como as coisas eram ali organizadas, as pequenas salas destinadas a momentos de silêncio e meditação. Enfim, percebeu mais abertura nas pessoas que ali trabalhavam, muito menos ego do que em outras empresas. Mas fez uma alerta para o perigo em que as pessoas incorrem por demasiadas informações e conhecimentos, em detrimento de algo que é o essencial da vida.

Conhecimento e Sabedoria

Há um perigo que o excesso de informação e conhecimento venha a obscurecer algo que é essencial para uma vida humana: a paz interior e a quietude.

Toda informação e conhecimento são experimentados em você como pensamento. A mente pensante  sempre foi predominante por milhares de anos nos seres humanos. Mas agora, com a incrível revolução tecnológica da informação, essa predominância se tornou ainda mais poderosa.

Tudo isso não é em si uma coisa ruim, mas se torna ruim e autodestrutiva se ela é tudo o que você experimenta dentro de sua consciência, porque então você vai derivar sua identidade dos pensamentos existentes em sua cabeça. Sua identidade é baseada na identificação com os pensamentos.

Todos os ensinamentos espirituais apontam para a possibilidade de se encontrar algo em si que é mais profundo do que o pensar - um espaço de paz e quietude que está sempre lá. Deve haver em sua consciência um equilíbrio entre usar sua mente para absorver informações e aquilo que é mais profundo do que o pensamento.

Em vez de trazer para aqui novos conhecimentos, eu gostaria de sugerir que cada um experimentasse  em si mesmo aquele lugar que eu chamo de "uma presença", onde se pode estar alerta, consciente, mas não pensando. E cada pessoa criativa tem acesso a esse reino, que é mais profundo que o conhecimento analítico. Mas não é apenas o lugar onde a criatividade surge; é também o lugar que dá sentido à sua vida, um lugar de paz, onde você não está sobrecarregado todo o tempo pelo ruído mental desnecessário.

Então, onde está esse lugar. Se ele está em todos, como percebê-lo dentro de mim?  Essa é realmente a questão. Posso apenas sugerir alguns pontos de entrada para esse estado de consciência.

Um ponto de entrada simples - e é por isso que meu primeiro livro é chamado "O Poder do Agora" - é a percepção de que toda a nossa vida consiste no momento presente e apenas no momento presente.

A maioria das pessoas não consegue captar essa verdade de que sua vida inteira se desenrola no momento presente e vive como se o oposto é que fosse a verdade. E isso acontece por causa da identificação excessiva com o pensamento. Mas se você se conscientizar dessa verdade, surge em você um estado de ser mais alerta e mais atento, ao qual se pode chamar de "a presença do poder deste momento".

Além das percepções externas, como o ambiente onde você está, o momento presente consiste também no campo de energia no interior de seu corpo, que faz você sentir vida em cada membro do corpo. Portanto, há percepções sensoriais externas e há o sentimento de vivacidade dentro de seu corpo. Se você está totalmente no pensar, não pode sentir nada disso, pois apenas está vivo na parte superior da casa, a sua cabeça. Você não habita a casa inteira.

Mas isso não  é tudo; estamos apenas entrando no momento presente. Se você for ainda mais fundo no momento presente, o que irá encontrar é o segredo mais incrível da vida humana, que é o fato de que, no fundo de tudo, você é consciência. Há uma presença que você É e sem a qual não poderia perceber nada. É essa consciência que Jesus chamou "a luz do mundo". Quando Deus diz, no Antigo Testamento, "Eu sou o que sou", é a identidade essencial de todos os seres.

Assim, quando falamos de momento presente, falamos dos diferentes níveis; desde as percepções sensoriais, até o sentimento de vitalidade do corpo e até à percepção de que, em última instância, o que chamamos de o momento presente e a luz da consciência são o mesmo.

Essa consciência você pode senti-la agora como a presença que você é, além da presença física. A essa realização eu chamo de Despertar. É esse o lugar da quietude, fonte da criatividade, a inteligência não-conceitual e inteligência primordial. E se você tocar isso em si mesmo, gradualmente poderá integrá-la em sua vida diária e, então, viver a partir desse lugar, a fonte. Você se tornará um ser humano  mais produtivo e mais pacífico, pois o conflito é criado apenas por aqueles que não conhecem esse nível em si mesmos. Eles não sabem quem são na sua essência.

Então, isso é basicamente a essência da espiritualidade, que é muito simples, mas que não é ensinada nas escolas. Não se trata de uma doutrinação ou crença, mas de uma experiência, uma realização. Deveria ser o assunto número 1 na escola: "Quem sou eu?". Todo o restante é fácil quando se tem isso.

quarta-feira, 13 de junho de 2018

O homem é simplesmente Deus


O s h o

O homem parece finito, muito pequeno, como uma gota de orvalho. Mas ele contém em si todos os oceanos, todos os céus. Se você olhar de fora, ele é muito pequeno, minúsculo: só poeira, nada mais - poeira sobre poeira. Mas, se você olhar a partir de dentro, de seu centro, ele é todo o universo.

Esta é a diferença entre ciência e religião: a ciência vê o homem de fora e não encontra nada espiritual, nada divino, apenas fisiologia, química, biologia - outro tipo de animal.

Por isso os cientistas estudam os animais para compreender o homem. Os animais são mais simples, mais fáceis de manipular; assim os cientistas insistem em pesquisar os ratos.

E não importa o que concluam, eles continuam insistindo que é o mesmo caso da raça humana. Esta é um pouco mais complexa, claro, mas basicamente igual. A ciência reduziu os homens aos ratos. E o homem só pode ser compreendido agora com o estudo dos ratos ou dos cães.

Mas, na verdade, o homem só pode ser compreendido se forem compreendidos os Budas, os Cristos, os Krishnas. Lembre-se sempre de que isto é fundamental: você não pode compreender o superior estudando o inferior, mas pode compreender o inferior estudando o superior. O superior contém o inferior, mas o inferior não contém o superior.

O único modo de compreender o homem não é externo, não é pela observação, mas pela meditação. É preciso entrar em sua interioridade, em sua subjetividade. Posicionando-se lá, você conhece a maior das maravilhas e o maior dos deslumbramentos: o homem é simplesmente Deus.

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Além do ego: nossa verdadeira identidade.

Eckhart Tolle
Quando o ego está em guerra, saiba que isso não passa de uma ilusão que está lutando para sobreviver. Essa ilusão pensa ser nós. A princípio, não é fácil estarmos lá como testemunhas, no estado de presença. No entanto, depois que sentimos o gosto dessa experiência, nosso poder de atingir o estado de presença começa a crescer e o ego perde o domínio que tem sobre nós. E, assim, chega à nossa vida um poder que é muito maior do que o ego, maior do que a mente. Tudo de que precisamos para nos livrar do ego é estarmos conscientes dele, uma vez que ele e a consciência são incompatíveis.

A consciência é o poder oculto dentro do momento presente. É por isso que podemos chamá-la de presença. O propósito supremo da existência humana, isto é, de cada um de nós, é trazer esse poder ao mundo. E é também por isso que nossa libertação do ego não pode ser transformada numa meta a ser atingida em algum ponto no futuro. Somente a presença é capaz de nos libertar dele, pois só podemos estar presentes agora - e não ontem nem amanhã. Apenas ela consegue desfazer o passado em nós e assim transformar nosso estado de consciência.

A compreensão da espiritualidade é ver com clareza que o que nós percebemos, vivenciamos, pensamos ou sentimos não é, em última análise, quem somos,  pois todas essas coisas são e se acabam continuamente.

O que permanece é a luz da consciência, sob a qual percepções, sensações, pensamentos e sentimentos vêm e vão. Isso é o Ser, o mais profundo e verdadeiro eu. Quando sabemos que somos isso, qualquer coisa que ocorra na nossa vida deixa de ter importância absoluta, para adquirir importância apenas relativa. Respeitamos os acontecimentos, mas eles perdem sua seriedade plena, seu peso.

A única coisa que faz diferença realmente é isto: podemos sentir nosso Ser essencial, o "eu sou", como o pano de fundo da nossa vida o tempo todo? Para ser mais exato, conseguimos sentir o "eu sou" que somos neste momento? Somos capazes de sentir nossa identidade essencial como consciência propriamente dita? Ou estamos nos perdendo no que acontece, na mente, no mundo?

sábado, 31 de março de 2018

O mestre e o peregrino

Js.
Tenho um acervo de textos em francês e resolvi colocá-los no meu blog, precedidos de uma tradução sumária, visando compartilhar a mensagem com aqueles que não sabem ler a língua francesa. O primeiro desses textos se intitula “O mestre e o peregrino”. Trata-se de um peregrino que ouviu falar de uma montanha mágica, de cujo cume se podia ver o mundo inteiro e desfrutar de Luz e Amor. De imediato, se dirige para lá e encontra um velho sábio que lhe anima a dar início à caminhada.

O peregrino começa, então, a subir a montanha, mas, depois de muito esforço, lhe vem a dúvida se tal lugar existe, pois só vê imensas árvores e espessa vegetação. No decorrer do percurso encontra outros cinco sábios e todos lhe dizem que o almejado cume existe. O peregrino, já exausto e sem nada vislumbrar, encontra o sétimo sábio e lhe diz: “Eu vou desistir; o que me disseram aqueles sábios não é verdade; já fiz tudo o que podia e não consigo ver nada.” O sábio então lhe responde: “Levanta os olhos e tu perceberás o que procuras”.

O peregrino, que até então andava olhando para o chão, ergue os olhos e, sentindo uma grande força e coragem, percorre os poucos metros que lhe faltavam para atingir o cume da montanha. Descobre, então, a Luz, o Amor e uma beleza indescritível.

E o autor conclui: Se lhe contamos isso foi para lhe dizer: Coragem, o cume existe verdadeiramente. Ele é a realização de seu ideal, de sua Paz, de seu Amor. Tudo o que você deseja, no mais profundo de seu ser, se encontra no alto da montanha. Não faça como o peregrino, levante a cabeça para o Amor e a Paz que ali existem.

Toda essa história sobre a montanha mágica, onde se encontra o sumo da felicidade, nada mais é do que uma alusão ao despertar da Consciência,  autêntica fonte da Paz, do Amor e da Sabedoria com que o Criador agraciou o rei da criação. Quando você atingir o cume de sua consciência, terá tudo isso à sua disposição.

 Le maître et le pèlerin

Nous allons vous raconter l’histoire du maître et du pèlerin. Un pèlerin a entendu parler d’une immense montagne, du sommet de laquelle on voit le monde entier et la Lumière, et où l’on arrive réellement à ressentir l’Amour. Il se dirige donc vers cette montagne magique.

 Au pied de la montagne, il rencontre un vieux sage et lui demande : "As-tu entendu parler du sommet de la montagne, ce sommet d’où l’on voit tout? Certains disent que si on y accède on comprend tout, on perçoit l’Amour, on est dans la Lumière!"

Le sage répond : "Certes, j’en ai entendu parler! Le pèlerin lui demande alors: "Peux-tu me dire par où il faut passer?. Je ne vois autour de moi que des grands arbres et une épaisse végétation, mais je ne vois même pas le chemin!". Le sage lui dit alors: "Enfonce-toi un peu dans cette nature et tu le découvriras."

Le pèlerin s’approche et découvre, effectivement, un chemin bordé d’immenses arbres. Il commence à le gravir, mais il ne perçoit absolument pas le haut de la montagne, car les arbres le lui cachent. Il marche encore et encore et il commence à se demander s’il y a vraiment un sommet. Il se dit cependant: le sage m’a dit qu’il existe, mais je ne vois que des arbres et un chemin qui serpente!

Au bout d’un certain temps, il aperçoit un autre sage et lui demande: "As-tu vu le sommet? Existe-t-il vraiment? Je ne vois que des arbres et un chemin qui serpente." Le sage lui répond : "Si tu as le courage d’avancer encore et encore, tu atteindras le sommet d’où tu peux percevoir le monde, d’où tu peux percevoir la Lumière, où tu peux vivre l’Amour."

Le pèlerin persiste dans sa montée avec courage, espoir et volonté. Il marche encore et encore et n’aperçoit toujours pas son but. Il monte encore et trouve un autre sage. Il lui dit: "Tu es le troisième sage que je rencontre. Les deux autres m’ont dit que le sommet existe bien, mais je ne le vois toujours pas! Je commence à douter! Tu vas aussi me dire qu’il y a un sommet où l’on voit le monde, où l’on perçoit la Lumière et où l’on peut ressentir l’Amour Universel? " Le sage sourit alors et lui dit: "Oui, continue à monter et tu le trouveras."

Le pèlerin continue. Il monte et commence à être très fatigué. Des doutes terribles l’assaillent, car il ne voit toujours pas le sommet. Il continue, car il croit malgré tout le troisième sage.

Puis il croise un quatrième sage qui lui dit: "Effectivement, le sommet que tu cherches existe! Continue ton chemin! Il faut que tu aies du courage et de la persévérance, car la route pour l’atteindre est longue!" Le pèlerin continue. Plus il monte, plus son doute grandit, car le sommet est toujours invisible. Il se dit: Cela valait-il la peine que je vive toutes ces difficultés, toutes ces souffrances, alors que je ne le discerne toujours pas? C’est peut-être une illusion, peut-être les sages m’ont-ils menti?

Il monte encore... entre-temps, deux autres sages lui affirment encore la même chose. Il arrive près du septième sage et lui dit: "Je veux redescendre, car je ne trouve toujours pas le sommet! Je suis maintenant sûr que les autres sages m’ont menti! Depuis le temps que je chemine, depuis le temps que je souffre, depuis le temps que j’espère, je ne vois toujours pas le sommet! Existe-t-il véritablement?". Et le sage lui dit: "Lève donc les yeux et maintenant tu pourras l’apercevoir!"

Le pèlerin lève les yeux. Il l’aperçoit, en effet, et constate: "Jusqu’à maintenant, je suis toujours monté, la tête baissée. Je ne regardais pas le ciel, mais mes pieds! Si j’avais seulement eu la conscience de lever les yeux vers le ciel, il y a longtemps que j’aurais aperçu le sommet et que je ne me serais pas découragé".

Alors avec une volonté, un courage et une force illimités, qu’il n’avait encore jamais eus, le pèlerin franchit les derniers mètres avant d’atteindre son but.

Que découvre-t-il là-haut? Non seulement son propre courage, sa propre volonté, sa propre foi, mais il découvre aussi tout l’Amour qu’il a en lui. Ses yeux se portent vers l’extérieur et il découvre le monde à perte de vue, avec ses souffrances, son ignorance, ses joies, avec sa lumière, et il se dit: "De là où je me trouve, je ne vois que ce qui est beau! Tout ce qui n’est pas Lumière se trouve en bas. 

Maintenant que j’ai franchi le sommet, je ne pourrai plus voir que la Lumière, que l’Amour, et désormais mon cœur s’ouvrira toujours à cette Lumière et à cet Amour! Je peux redescendre, car ce que j’ai acquis en montant aussi haut est définitif et me permettra de vivre comme je n’ai jamais vécu, de comprendre non seulement la vie, mais aussi les hommes. Je sais que, dorénavant, je pourrai vivre heureux; je sais aussi que je pourrai me placer au bas de la montagne et dire aux pèlerins: "Le sommet existe vraiment, soyez courageux, cheminez et vous verrez la Lumière, vous verrez l’Amour et vous verrez le monde!

Si nous vous avons raconté cela, c’est pour vous dire: Courage! Ce sommet existe vraiment. C’est le sommet de votre idéal, de votre Amour, de votre Paix. Tout ce que vous désirez, au plus profond de votre être, se trouve en haut de la montagne. Chaque jour, continuez inlassablement le chemin. Ne faites pas comme le pèlerin, ne regardez pas vos pieds, levez la tête vers la Lumière, vers l’Amour Universel ! Vous pourrez ainsi apercevoir le sommet, vous saurez que vous êtes sur la bonne route, vous saurez que, très bientôt, vous pourrez acquérir l’Amour et la Paix qui s’y trouvent! Vous atteindrez le sommet de votre conscience. Chacun d’entre vous est capable de l’atteindre.

sábado, 24 de março de 2018

A chave para viver em equilíbrio

O s h o

A maioria de nós vive a vida inteira como sonâmbulos, nunca realmente atentos ao que estamos fazendo, nunca alertas ao que acontece à nossa volta e nem sequer conscientes do que motiva nossos atos ou palavras.

A consciência é a chave para encontrar nossa bússola interior, para sermos pessoas centradas e livres em todos os aspectos da vida.

Consciência é a capacidade de permanecer desperto e presente no momento. Uma vez que aprendemos a identificar e a compreender o que significa essa capacidade, passamos a ter em mãos a chave do domínio sobre nós mesmos em praticamente todas as áreas da vida.

NÃO IDENTIFICAÇÃO

Faça disso a sua chave: na próxima vez que a raiva vier, apenas observe-a. Não diga: "Eu estou com raiva". Diga: "A raiva está aqui e eu a estou vendo". E veja a diferença!

A diferença é muito grande. De repente, você está fora do controle da raiva. E você pode dizer: "Eu sou apenas um observador, não tenho raiva", você está fora.

 Quando a tristeza vem, sente-se ao lado, olhe para ela e diga: "Eu sou o observador, não tenho tristeza", e veja a diferença. Imediatamente você corta a própria raiz da tristeza. Ela não se alimenta mais, ela vai morrer de fome.

 Nós alimentamos as emoções quando nos identificamos com elas. A religiosidade pode ser reduzida a uma única coisa: a não-identificação.

domingo, 18 de março de 2018

A essência dos ensinamentos de Buda

Thich Nhat Hang
As coisas não continuam iguais durante dois momentos consecutivos; portanto, não existe nada que possa ser considerado como um eu permanente. Antes de você entrar na sala onde está agora, você era diferente tanto física como mentalmente. 

Ao saber que a pessoa que amamos é impermanente, daremos mais valor a ela. A impermanência nos ensina a valorizar cada momento de nossa vida, bem como todas as coisas que estão ao nosso redor e dentro de nós.

Buda, Jesus e todos os outros grandes Mestres não morreram. O Buda não pode estar confinado a 2.600 anos. A flor não está limitada à sua breve manifestação. Tudo se manifesta por meio de imagens. Se ficarmos presos às imagens, sempre teremos medo de perder as manifestações específicas.
 
Você não precisa morrer para entrar no Nirvana, nem no reino de Deus. Você só precisa ter um contato profundo com o momento presente, agora mesmo. Nossos conceitos sobre as coisas nos impedem de entrar em contato com as coisas. Um ser verdadeiro é uma coisa muito diferente de um conceito. Observe profundamente para ser capaz de vencer a distância que existe entre seu conceito da realidade e a realidade em si.

A meditação é uma ferramenta que nos ajuda a eliminar os conceitos. A atenção plena nos ajuda a resgatar o paraíso que julgávamos perdido. Um buda é alguém que vive em paz, alegria e liberdade; alguém que não tem medo nem está apegado a nada. 

Durante os últimos meses de vida do Buda, ele sempre ensinava “Refugiem-se em si mesmos e não em outras coisas. Não saiam buscando coisas que estão longe. Tudo o que precisam está em seus próprios corações. Sejam como ilhas em si mesmos”

Todas as vezes que damos um passo consciente, temos a oportunidade de sair da terra da tristeza para a terra da alegria. O Reino de Deus é uma semente dentro de nós. Pratiquem a travessia para a outra margem sempre que sentirem necessidade.

O primeiro e principal fator do despertar é a atenção plena, o que significa “recordar-se”, não esquecer onde estamos, o que estamos fazendo. A atenção plena sempre surge dentro do contexto do relacionamento com nós mesmos, com as outras pessoas e com as coisas. Quando estamos treinados pela prática, cada vez que inspiramos e expiramos, a atenção plena surge, o que transforma a respiração em causa e condição para o aparecimento da atenção plena.

O despertar está sempre disponível, ao nosso alcance. Só precisa de condições favoráveis. O sol está lá, mesmo quando escondido pelas nuvens. Para transformar o inferno no paraíso, precisamos mudar a mentalidade na qual nos baseamos. Imaginem mil pessoas que não tenham percepções errôneas, raiva nem inveja, mas que tenham amor, compreensão e felicidade. Se essas pessoas se juntam, formando uma comunidade, será um paraíso. As mentes das pessoas é que são a base do paraíso.  Com sua mente iludida, você transforma a sua vida em inferno, mas com a mente verdadeira, você cria o paraíso.

Precisamos de locais onde possamos nos sentar, respirar calmamente, olhar para dentro de nós e também escutar. Quando temos dificuldades em casa, precisamos de um quarto, onde possamos nos refugiar. Também necessitamos de parques e outros locais tranquilos para praticar a meditação andando, a sós ou em companhia de outras pessoas.

Precisamos do sofrimento para conseguir enxergar o caminho. A origem da dor, a cessação do sofrimento e o caminho que leva à cessação do sofrimento são todos encontrados no âmago do sofrimento. Se tivermos medo de entrar em contato com o nosso sofrimento, não conseguiremos percorrer o caminho da paz, da alegria e da liberação.

Não fuja. Entre em contato com o seu sofrimento e abrace-o. Faça as pazes com ele. O Buda disse: “No instante em que você sabe como o seu sofrimento surgiu, já está a caminho de se libertar dele”. Se você tem consciência do que acontece, e como isso chegou a acontecer, já está a caminho da libertação.

sábado, 10 de março de 2018

A Paz é o Caminho




 A Paz é o Caminho

Você e eu vivemos em um estado que não é plenamente humano. Ser plenamente humano significa estar assentado no infinito potencial criativo da vida. Quando não estamos assentados nesse potencial, nós nos esquecemos de quem somos. Forças externas nos jogam de um lado para outro. Refugiamo-nos em várias distrações que compensam debilmente o imenso poder e autoridade que perdemos.

A percepção encerra profundidade. Quanto mais fundo você vai, mais a realidade muda. A realidade depende de seu estado de consciência. À medida que a sua percepção se aprofunda, mais poder ela adquire. Esse poder pode modificar o mundo interior e o exterior. Não existem fatos que não possam ser influenciados pela percepção. Em última análise, a sua percepção cria tudo que você experimenta.

As pessoas com objetivos religiosos vêm descobrindo novas maneiras de pensar em Deus; examinaram a física quântica para explicar a realidade de uma forma que torna os milagres e a existência da alma ainda mais verossímeis do que eram na religião tradicional. O espírito retornou, não como a obediência cega a um cânon, e sim como uma exploração pessoal da consciência. O caminho é percorrido de olhos abertos e com a mente expandida, em vez de uma rígida fidelidade ao dogma. Deus mostra o caminho através da consciência, porque Ele é consciência. Você não pode escapar de um ponto fundamental: em qualquer estágio da evolução pessoal, está vendo a realidade como você mesmo.

O conflito que obtém todas as manchetes é a guerra internacional, mas a guerra interior, que tem lugar no íntimo de cada pessoa, é na verdade mais importante. É a semente que dá origem a todos os outros conflitos.A guerra começa em cada ser humano e só aí pode terminar.

Existe uma lei espiritual que afirma que precisamos celebrar nossas perdas, porque somente o irreal pode ser perdido e quando ele se vai, o real permanece.

Observe um desconhecido em algum momento do dia. Diga em silêncio para si mesmo: Essa pessoa é exatamente como eu sou. Como eu, ela sente alegria e tristeza, medo e amor. Como eu, ela tem pessoas na sua vida que se importam com ela e a amam. Como eu, a vida dessa pessoa é impermanente e um dia chegará ao fim. A paz dessa pessoa é tão importante quanto a minha paz. Desejo paz, alegria e amor na vida dela e na de todos os seres.

sexta-feira, 2 de março de 2018

Trazendo a mente para casa

Sogyal Rinpoche
Sogyal Rinpoche nasceu no Tibete em 1947. Desde a infância,  recebeu os ensinamentos de Jamyang Khyentse, um dos mais respeitados mestres espirituais do Tibete.  Depois da ocupação do Tibete pelos chineses, ele foi para o exílio.  Concluiu seus estudos na Universidade de Nova Delhi.  
Mas seu objetivo era levar para o Ocidente a visão budista da vida. Na Universidade de Cambridge,  dedicou-se à tradução dos principais livros de sabedoria do Tibete. Dentre todo esse trabalho desenvolvido por Sogyal Rinpoche, vale salientar  a publicação de “O Livro Tibetano do Viver e do Morrer”, traduzidp em 31 linguas, com mais de 2 milhões de cópias já impressas.

Trazendo a mente para casa

Só podemos começar a ter vislumbres sobre a natureza da mente e a repousar nela quando aquietamos a turbulência dos pensamentos e emoções.Se a mente não é condicionada, aparece espontaneamente imbuída de uma felicidade sublime, assim como a água se mostra transparente e límpida, quando não é agitada.

A própria natureza da mente é tal que, se você a deixa em estado natural, ela encontrará sua verdadeira natureza, que é bem-aventurança e claridade.
Não há substituto para a prática regular da meditação, porque apenas através da prática real começaremos a experimentar a tranquilidade da natureza de nossa mente, sendo assim capazes de sustentar essa experiência na vida de todo dia. Integrar meditação na ação é o ponto central da própria meditação.

Quando você retorna à vida de todo dia, deixe que a sabedoria que a meditação lhe trouxe penetrar na sua experiência cotidiana. A meditação desperta em você a percepção de como a natureza de tudo é ilusória, semelhante ao sonho; mantenha essa experiência durante o dia. O milagre da meditação é a transformação sutil que acontece não apenas na mente e emoções, mas também no corpo. E é muito curativa.

Cientistas e médicos descobriram que, quando se está em boa disposição de espírito, até mesmo as células do seu corpo estão mais felizes, e quando sua mente está num estado negativo, suas células podem se tornar malignas. O estado geral de sua saúde tem muito a ver com o estado da sua mente.

Você pode transformar o mais comum dos quartos num espaço íntimo sagrado, onde todos os dias você irá encontrar-se com o seu verdadeiro eu, na feliz e alegre cerimônia de um velho amigo  que acolhe outro.Aos poucos, você se transformará no mestre de sua própria bem-aventurança, o alquimista de sua própria alegria, alguém que vive sempre na presença de seu próprio eu verdadeiro.

A dádiva de aprender a meditar é o maior presente  que você possa se dar nesta vida. Porque é apenas através da meditação que você pode empreender a jornada para descobrir sua verdadeira natureza e, assim, encontrar a estabilidade e a confiança de que necessitará para viver e morrer bem. A meditação é caminho para a iluminação.

A meditação é o único caminho pelo qual podemos, gradualmente, compreender a natureza da mente.  Aos poucos, começamos a perceber em nós uma presença calma, vasta como o céu, aquilo que Milarepa chama a imortal e infinita natureza da mente. E quando essa nova consciência começa a tornar-se visível e quase indestrutível, ocorre o que os Upanixades chamam “uma virada na sede da consciência”, uma revelação profunda, pessoal e não-conceitual do que somos, por que estamos aqui e como devíamos agir, o que resulta no final em nada menos do que numa nova vida, num novo nascimento e quase no que se poderia chamar de uma ressurreição.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Auto-sabotagem

Na doença auto-imune, o corpo agride a si mesmo e na auto-sabotagem é a mente que se auto-agride.
Tenho observado a auto-sabotagem em problemas de insônia. A pessoa quando vai dormir ouve uma voz interior a lhe dizer "Você não vai conseguir dormir".
A auto sabotagem remonta a problemas de infância, mas pode ser curada. A primeira coisa a fazer é tornar-se consciente do pensamento de auto-sabotagem e enfrentá-lo.
 Há uma técnica muito utilizada para a cura da auto-sabotagem; chama-se EFT (emotional freedom tapping); é considerada uma acupuntura sem agulhas. São pontos do corpo em que a pessoas vai batendo, ao mesmo tempo em que pronuncia as palavras: "Tenho um sabotador dentro de mim, mas eu me amo e me aceito completamente". Recomendo a pesquisa e aplicação dessa técnica, válida para qualquer problema.
Jackson César Buonocorenos
 Veja a abordagem do tema, na visão de um psicanalista.              

Conhecemos pessoas que quando conquistam o sucesso: um bom emprego, um relacionamento feliz, a compra do carro novo, a viagem dos sonhos, ou seja, alcançaram as pequenas e grandes vitórias. Mas no momento de usufruir tais conquistas, fazem de tudo para dar errado, se auto-sabotam pelo medo de ser feliz.
Em 1916, Freud escreveu um artigo de grande repercussão no mundo científico intitulado: “Os que Fracassam ao Triunfar”. Ele tratava de pessoas que possuíam medo de ter satisfação e para tanto, sentiam-se aliviadas quando o que estavam fazendo não dava nada certo. É como se alguém tivesse tudo para ser feliz e, de alguma forma, conseguisse arrumar um jeito para fugir da felicidade.

A auto-sabotagem pode se manifestar em todos os aspectos da vida:  namoro, casamento, educação dos filhos, escola, trabalho e novos projetos. Os psicoterapeutas são unânimes em afirmar que o processo de cura para este tipo de doença emocional passa pela tomada de consciência de que as pessoas não só estão se sabotando, mas também destruindo o seu futuro.

A origem da auto-sabotagem pode estar lá atrás: na infância, no núcleo familiar que é onde adquirimos referências e construímos nossa base de percepção e atuação no mundo, incluindo traumas, assimilação de traços da personalidade de quem convivemos, sentimentos de abandono, rejeição, culpa, entre outros anseios.

Esse comportamento pode ser tão grave ao ponto de provocar obesidade, depressão, cardiopatias, transtornos de ansiedade, pensamentos suicidas, diabetes e, em casos mais graves, automutilação que é quando a pessoa cria flagelos físicos em si mesma para se punir e liquidar com o sucesso e a felicidade em todos os planos da vida.

Não podemos ter vergonha de falar e lidar com esse sofrimento, pois se trata de uma doença que sente prazer pelo desprazer; significa que quanto mais a vida se torna difícil, mais a pessoa se satisfaz, chega a ter prazer em ser maltratada ou sentir dor.  É uma reação provocada pelo inconsciente que faz com que a pessoa sinta fascinação por tudo que lhe produz destrutividade, tornando-se um complexo de inferioridade crônica.

Não podemos perder a esperança, porque a auto-sabotagem é uma doença da alma que tem tratamento e cura, porém exige determinação e precisa de mudanças significativas de hábitos e atitudes que não basta apenas o desejo de mudar, de fazer algo diferente, se crenças e padrões continuam os mesmos, repetindo o mesmo comportamento e puxando o “próprio tapete”. Mas como disse Dostoievski: a maior felicidade é saber por que se é infeliz.
                                    
                                      Jackson César Buonocore é sociólogo e psicanalista