quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Auto-sabotagem

Na doença auto-imune, o corpo agride a si mesmo e na auto-sabotagem é a mente que se auto-agride.
Tenho observado a auto-sabotagem em problemas de insônia. A pessoa quando vai dormir ouve uma voz interior a lhe dizer "Você não vai conseguir dormir".
A auto sabotagem remonta a problemas de infância, mas pode ser curada. A primeira coisa a fazer é tornar-se consciente do pensamento de auto-sabotagem e enfrentá-lo.
 Há uma técnica muito utilizada para a cura da auto-sabotagem; chama-se EFT (emotional freedom tapping); é considerada uma acupuntura sem agulhas. São pontos do corpo em que a pessoas vai batendo, ao mesmo tempo em que pronuncia as palavras: "Tenho um sabotador dentro de mim, mas eu me amo e me aceito completamente". Recomendo a pesquisa e aplicação dessa técnica, válida para qualquer problema.
Jackson César Buonocorenos
 Veja a abordagem do tema, na visão de um psicanalista.              

Conhecemos pessoas que quando conquistam o sucesso: um bom emprego, um relacionamento feliz, a compra do carro novo, a viagem dos sonhos, ou seja, alcançaram as pequenas e grandes vitórias. Mas no momento de usufruir tais conquistas, fazem de tudo para dar errado, se auto-sabotam pelo medo de ser feliz.
Em 1916, Freud escreveu um artigo de grande repercussão no mundo científico intitulado: “Os que Fracassam ao Triunfar”. Ele tratava de pessoas que possuíam medo de ter satisfação e para tanto, sentiam-se aliviadas quando o que estavam fazendo não dava nada certo. É como se alguém tivesse tudo para ser feliz e, de alguma forma, conseguisse arrumar um jeito para fugir da felicidade.

A auto-sabotagem pode se manifestar em todos os aspectos da vida:  namoro, casamento, educação dos filhos, escola, trabalho e novos projetos. Os psicoterapeutas são unânimes em afirmar que o processo de cura para este tipo de doença emocional passa pela tomada de consciência de que as pessoas não só estão se sabotando, mas também destruindo o seu futuro.

A origem da auto-sabotagem pode estar lá atrás: na infância, no núcleo familiar que é onde adquirimos referências e construímos nossa base de percepção e atuação no mundo, incluindo traumas, assimilação de traços da personalidade de quem convivemos, sentimentos de abandono, rejeição, culpa, entre outros anseios.

Esse comportamento pode ser tão grave ao ponto de provocar obesidade, depressão, cardiopatias, transtornos de ansiedade, pensamentos suicidas, diabetes e, em casos mais graves, automutilação que é quando a pessoa cria flagelos físicos em si mesma para se punir e liquidar com o sucesso e a felicidade em todos os planos da vida.

Não podemos ter vergonha de falar e lidar com esse sofrimento, pois se trata de uma doença que sente prazer pelo desprazer; significa que quanto mais a vida se torna difícil, mais a pessoa se satisfaz, chega a ter prazer em ser maltratada ou sentir dor.  É uma reação provocada pelo inconsciente que faz com que a pessoa sinta fascinação por tudo que lhe produz destrutividade, tornando-se um complexo de inferioridade crônica.

Não podemos perder a esperança, porque a auto-sabotagem é uma doença da alma que tem tratamento e cura, porém exige determinação e precisa de mudanças significativas de hábitos e atitudes que não basta apenas o desejo de mudar, de fazer algo diferente, se crenças e padrões continuam os mesmos, repetindo o mesmo comportamento e puxando o “próprio tapete”. Mas como disse Dostoievski: a maior felicidade é saber por que se é infeliz.
                                    
                                      Jackson César Buonocore é sociólogo e psicanalista

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Uma experiência fora do corpo

Dr. Eben Alexander
Dr. Eben Alexander é um médico neurocirurgião e cientista. Tendo concluído o seu curso na Universidade de Duke, em 1980, lecionou durante 15 anos na Faculdade de Medicina de Harvard. Em suas atividades como cientista, foi coautor de mais de 150 artigos, apresentando as conclusões de suas pesquisas em mais de 200 conferências ao redor do mundo.

Mas todo esse quadro de trabalho mudou radicalmente, quando, em novembro de 2008,  o Dr. Eben foi acometido de uma meningite bacteriana grave e  internado no mesmo Hospital em que já realizara muitas cirurgias e era conhecido por todos que ali trabalhavam.

Mesmo submetido aos mais poderosos antibióticos, a saúde do Dr. Eben se deteriorava a cada dia. Ele passou sete dias em estado de coma, durante os quais os médicos alertaram a família para a situação terminal do paciente.

Mas, para surpresa geral, no sétimo dia, o Dr. Eben abriu os olhos e passou a olhar, como um recém-nascido, para as pessoas que se encontravam no quarto. Ele estava curado.

Durante aqueles sete dias, seu corpo jazia no leito, em convulsão, mas ali não havia ninguém para sofrer, pois sua consciência empreendia uma impressionante jornada ao mundo espiritual, descrita por ele no livro “Uma prova do céu”.

No decorrer dessa experiência, o que mais lhe chamou a atenção foi a presença de uma menina que o acompanhava, mostrando-lhe as belezas do mundo espiritual. Disse-lhe ela: “Nós lhe mostraremos muitas coisas aqui, mas, no fim, você irá voltar.”  Essa menina ele a reconheceu como sendo sua irmã, falecida em tenra idade.

A mensagem mais significativa que ele ouviu e  o deixou transformado foi a seguinte: “Você é amado e valorizado imensamente, para sempre. Não há nada a temer” Essa mensagem, diz o Dr. Eben, poderia ser resumida numa frase: “ você é amado”  ou, numa única palavra: “Amor”. O amor, diz ele, é a base de tudo.

“Minha experiência mostrou que a morte não é o fim da consciência e que a existência humana continua no além túmulo. E, mais importante ainda, ela se perpetua sob o olhar de um Deus que nos ama e que se importa com cada um de nós.”

A partir dessa ocorrência, o Dr. Eben continuou o seu trabalho como cientista, mas com uma visão bem diferente; ele incorporou a espiritualidade ao exercício de sua profissão, como médico e cientista. Como ele diz “Eu precisava retomar o meu papel como cientista, mas também precisava abraçar meu papel como sujeito de uma jornada extraordinária, muito importante e muito real, para perto de Deus."

Uma experiência tão relevante não é apenas um evento pessoal, mas um legado para toda a humanidade. Nesse sentido, o Dr. Eben fundou a organização Eternea, com a finalidade de incentivar pesquisas sobre experiências espiritualmente transformadoras, assim como a relação entre a consciência e a realidade física. Pode-se ter acesso a esta organização através do site www.eternea.org



segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Matthieu Ricard: observar a raiva


J.S.
Matthieu Ricard nasceu na França, em 1946. Tem o doutorado em biologia pelo Instituto Pasteur. Ainda jovem, assistiu a uma série de documentários sobre os grandes mestres espirituais que tinham deixado o Tibete, após a cruel invasão da China. Aquelas cenas deixaram marcas indeléveis em sua alma. Resolve, então, viajar para a Índia, onde teve a sorte de conviver com grandes sábios tibetanos, dentre os quais Kangyur Rimpoche e Dilgo Khyentse Rimpoche. Dentre os seus livros, merece destaque “O Monge e o Filósofo”, em que mantém um diálogo com seu pai, o notável filósofo francês Jean-François Revel.
Matthieu Ricard é um membro ativo do Instituto “Mind and Life”, que realiza investigações científicas sobre “Treino da Mente e Plasticidade Mental”. Ele participou de um estudo produzido pela Universidade de Wisconsin–Madison sobre a felicidade, atingindo resultados muito além da média, depois de testes com centenas de outros voluntários. Em face disto, foi-lhe conferido a honraria de “O homem mais feliz do mundo”.
Atualmente, ele vive no mosteiro budista de Shechen no Nepal, onde dedica grande parte de seu tempo à meditação, às obras filantrópicas e ao trabalho para preservar a riqueza da cultura tibetana. Ele é o intérprete de Sua Santidade o Dalai-Lama para o francês e sua língua predileta é o tibetano. 
A felicidade deste homem pode se resumir nestas suas palavras: “Quando estou só, em meu retiro ou em outro lugar, cada instante que passo é um deleite.” 

O texto abaixo foi colhido de um de seus livros - “Felicidade” -  e aponta soluções para o problema que está na raiz da violência que impera em nossos dias: a raiva.


Matthieu Ricard
 Observar a raiva

Quando uma emoção dolorosa nos atinge, a coisa mais urgente a fazer é olhar para ela de frente e identificar os pensamentos que a provocaram e a alimentam. Então, fixando o nosso olhar interior na emoção em si, podemos gradualmente dissolvê-la, como a neve sob o sol.

Imagine que você está sendo dominado por um sentimento de raiva muito forte. Vamos observá-la com atenção: ela não é nada mais do que um pensamento. Quanto mais você olhar para a raiva dessa maneira, mais ela se evaporará diante dos seus olhos, como o gelo sob os raios do sol.

De onde vem a raiva? Como ela se desenvolve? Para onde ela vai, quando desaparece? O que podemos dizer com certeza é que ela nasce na mente, permanece na mente o tempo que durar e, por fim, é também na mente que ela se dissipa, como as ondas que surgem e se dissolvem no oceano.

Ao examinarmos a raiva, não encontramos nada que seja consistente ou substancial, nada que possa explicar a tirânica influência que ela exerce sobre nós. Ao percebermos que a raiva não tem qualquer substância em si, ela irá perder toda a sua força.

Quando um pensamento surge, reconheça que ele é, por natureza, vazio. Ele imediatamente perderá o poder de suscitar o pensamento seguinte e a cadeia de ilusão chegará ao fim. Reconheça essa vacuidade dos pensamentos e deixe que eles repousem um instante na mente relaxada.

É necessário reconhecer a natureza vazia da raiva, bem no momento em que ela emerge. Essa prática consiste, portanto, em concentrar a sua atenção na própria raiva, em vez de fixá-la sobre o seu objeto.

Em vez de prestar atenção no “alvo”, volte sua atenção para a emoção em si mesma. Você verá que a raiva não poderá se sustentar, e logo ficará sem força alguma. Reconhecer a emoção no exato momento em que ela surge, compreender que ela não é nada mais do que um pensamento, permitir que ela se dissipe de maneira a evitar reação em cadeia, são atitudes que estão no cerne da prática contemporânea budista.

“É hora de redirecionar o ódio para longe de seus alvos habituais, os nossos assim chamados inimigos, e voltá-lo contra ele mesmo. É o ódio o seu inimigo verdadeiro e a ele é que você deve destruir”. (Khyentse Rimpoche)

O ponto central da prática espiritual é obter o controle sobre a mente. O objetivo é tornar a mente flexível, estável, lúcida, vigilante e fazer dela uma ferramenta para a transformação interior.

A iluminação está ao nosso alcance, no sentido de que todos temos dentro de nós o potencial que constitui a nossa verdadeira natureza. O budismo diz que todos nós nascemos completos, já que cada ser tem dentro de si um tesouro que só nos pede para ser revelado. As qualidades de iluminação se manifestam ao final da longa transformação que constitui o caminho espiritual.

Tenzin Palmo, uma monja inglesa que passou muitos anos em retiro, escreveu: “As pessoas dizem que não têm tempo para a meditação. Não é verdade! Você pode meditar quando anda pelo corredor, quando espera que o sinal abra para você no trânsito, trabalhando no computador, quando está em uma fila. É preciso criar o hábito de estar no presente, sem os comentários mentais”.

Alcançar a felicidade duradoura, como modo de ser, é uma habilidade que se adquire. Isso requer esforço constante no treino da mente e no desenvolvimento de qualidades como paz interior, atenção plena e amor altruísta.
“Olhe para dentro de si: aí está a fonte de todo o bem”. (Marco Aurélio)

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Sabedoria de Salomão

Rei Salomão
Sabedoria é um dos livros sapienciais do Antigo Testamento. Segundo a tradição, o livro foi escrito pelo Rei Salomão, filho de Davi. Como rei de Israel, ele reinou durante 40 anos (966-926 a.C.)A sua grande obra foi a edificação do primeiro Templo de Jerusalém. 
Extraí algumas passagens desse livro que, escritas há milênios, continuam ainda hoje válidas como caminho de sabedoria.

Livro da Sabedoria

Supliquei e a inteligência me foi dada; invoquei e o  espírito da Sabedoria veio a mim. Eu a preferi a cetros e tronos e julguei, junto dela,  a riqueza como um nada. Não a equipararei à pedra mais preciosa, pois todo o ouro ao seu lado é um pouco de areia.   Junto dela, a prata vale quanto o barro. Amei-a mais que a saúde e a beleza e me propus tê-la como a luz,  pois seu brilho não conhece ocaso.

Com ela me vieram todos os bens, de suas mãos, riqueza incalculável. De todos eles gozei, pois é a Sabedoria quem os traz, mas ignorava que ela fosse a mãe de tudo. O que aprendi sem fraude, eu comunicarei sem ciúme, sua riqueza não escondo: é um tesouro inesgotável para os homens; os que a adquirem atraem a amizade de Deus. Tudo conheço, oculto ou manifesto, pois a Sabedora, artífice do mudo, me ensinou.

Elogio da Sabedoria

Ela é mais bela que o sol, supera todas as constelações; comparada à luz do dia, sai ganhando, pois a luz cede lugar à noite, ao passo que  sobre a Sabedoria  não prevalece o mal. Por mais perfeito que seja alguém entre os filhos dos homens, se lhe falta a Sabedoria que vem de ti, de nada valerá.

Vãos foram todos os homens que ignoraram a Deus e que, partindo dos bens visíveis, não foram capazes de conhecer Aquele que é, nem, considerando as obras, de reconhecer o Artífice. Mas foi o fogo, ou o vento, ou o ar sutil, ou a abóbada estrelada, ou a água impetuosa, ou os luzeiros do céu, príncipes do mundo, que eles consideraram como deuses!

Se fascinados por sua beleza, os tomaram por deuses, aprendam quanto lhes é superior o Senhor dessas coisas, pois foi a própria fonte da beleza que as criou. E se os assombrou sua força e atividade, calculem quanto mais poderoso é Aquele que as formou, pois a grandeza e a beleza das criaturas fazem, por analogia, contemplar seu autor.