sábado, 24 de novembro de 2018

Carta a uma jovem

Nicole Montinéri
Nicole Montinéri nasceu em 1957. Após anos de intensa busca, recebeu o dom máximo da vida: o despertar, que lhe ocorreu em 2006, por ocasião de uma grave doença. Como ela diz: “Foi  a partir do encontro com o que as pessoas chamam de morte que eu pude ver o que ensinam todos os sábios da humanidade, desde tempos imemoriais - atrás das aparências do universo se encontra a realidade de uma Consciência única e eterna”.
Toda a trajetória de Nicole Montinéri pelos caminhos da espiritualidade vem relatada em seu livro: “N´ayons pas peur de mourir” (Não tenhamos medo de morrer).
O texto que segue é a tradução de uma carta que ela escreveu a uma jovem, intitulado “Lettre à une jeune fille”


17 anos era a idade que eu tinha quando descobri Krishnamurti. A leitura de seus escritos teve um forte impacto em minha vida, esclarecendo uma realidade interior que eu pressentia ser minha vida autêntica, mas que ainda não ousara colocá-la em prática. A liberdade, dizia Krishnamurti, não está no fim do caminho, ela está no primeiro passo. A liberdade de ser si - mesmo.

Todos nós sofremos as influências familiares e sociais, que nos tornam uma personalidade condicionada. A maioria das pessoas se conforma com essa realidade, sem nunca questioná-la. Mas alguns sentem a necessidade de partir em busca de seu ser autêntico, a fim de descobrir o potencial de riqueza que lhes foi outorgado no início, mas que tudo na sociedade contribuiu para ocultar.

Não abandone sua busca; não faça como esses adultos que se satisfazem com uma personalidade de fachada. A parte mais autêntica de seu ser é intocável; ninguém pode prejudicá-la. Mas ela está oculta, soterrada nas profundezas, como um tesouro. Se você perseverar na sua busca, ela vai se revelar, desabrochar. Então tudo muda em você e na sua relação com o mundo. Você terá encontrado a paz, a simplicidade de ser na adesão ao que você é,  ao que há de único em você. Sua riqueza poderá, então, se manifestar.

Isto não significa que tudo será fácil; o mundo é assim mesmo: reflete nossa sociedade, a crueldade de certas pessoas, a perversidade dos poderosos... Mas eu sei que há uma Realidade e que cada um de nós pode contribuir para que ela se manifeste. Realidade de paz, de harmonia, de amor.

A transformação começa em si própria, pelo caminho do conhecimento de seu verdadeiro ser. Observe-se, observe o funcionamento de sua mente, tome consciência de suas reações, veja o que não é  você mesma nos seus pensamentos e comportamentos, o que é condicionado, influenciado pelos outros.

Seja autêntica e siga sempre em frente na busca do que você aspira. A vida lhe dará o que for necessário para crescer, mesmo que isso lhe pareça por vezes difícil. Você terá sua parte de provas e sofrimentos, mas o essencial  está na aceitação.

Viva sempre aspirando ser você mesma. Viva nessa busca desse seu lado autêntico e, aos poucos, você se tornará capaz de perceber o infinitamente belo, o infinitamente sutil da vida.

Tenha confiança.