segunda-feira, 29 de abril de 2019

Krishnamurti - A essência do seu pensamento

Krishnamurti

É uma coisa extraordinária o autoconhecimento. O caminho da realidade, daquela imensidão desconhecida, não passa pela porta de uma igreja nem por livro nenhum, mas apenas pela porta do autoconhecimento.

Esse aprender acerca de si próprio é uma atividade fascinante, portadora de grande alegria. É só em silêncio que se aprende e o Amor é o silêncio absoluto.

A separação entre o observador e a coisa observada é a palavra, a imagem, a memória - o espaço onde se verifica todo o conflito.

Meditação é aquele estado de percepção em que existe atenção para cada pensamento e cada sentimento e, em virtude dessa atenção, há silêncio e nesse silêncio, sem o procurarmos, pode apresentar-se o Desconhecido.

Para que precisamos de outras pessoas, se o tesouro está todo inteiro em nós mesmos? 
Por “sensibilidade” entendo a capacidade de percepção, a capacidade de ouvir, ver, sentir.

Devemos olhar essa vida, que é imensa e ilimitada, com olhos que estejam somente a observar. Os fatos não exigem opiniões, juízos; exigem apenas que os observemos. O que põe termo ao sofrimento é a observação atenta a tudo o que fazeis.

Não existe medo de espécie alguma em face do momento real e vivo. Esta é uma coisa extraordinária para a própria pessoa descobrir. O pensamento é desatenção e esta é que gera o medo.

Experiência, conhecimento, memória, pensamento, ação. É assim que somos programados. Todos os nossos problemas são criados pelo pensamento e a mente é treinada para resolver os problemas com mais pensamento. Assim, o pensamento cria o problema e, depois, tenta resolvê-lo.

Quando vedes com a memória - com a mente - vedes o que existiu e não o que realmente existe. O  medo não existe quando o olho. Só  quando   fujo - como costumo fazer - só então há medo. Observando objetivamente a dor, será possível pôr-nos fora de seu alcance.

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Lágrimas de Compaixão

Pierre Weil
Pierre Weil (1924-2008) é um Educador e Psicólogo francês que desde cedo passou a residir no Brasil. Escreveu cerca de 40 livros e o enfoque principal de  todo o seu trabalho é a Paz.

Em 1987 fundou a UNIPAZ, Universidade Holística internacional, sediada em Brasília e da qual foi o reitor. Seu objetivo era difundir a cultura da Paz.

Em "Lágrimas da Compaixão" ele fala de sua profunda transformação ocorrida durante um retiro de três anos com monges tibetanos. O texto abaixo apresenta alguns tópicos do livro.

                                    Lágrimas de Compaixão

Progressivamente, despertei de um estado de ignorância. A existência revelou-me o seu verdadeiro sentido e mudei totalmente de rumo: encontrei o caminho que leva à paz e à serenidade. A descrença e a dúvida transformaram-se numa certeza inabalável. Não precisei mais de crença. Pude afirmar: eu sei.

Eu não precisava mais crer, eu sabia. Consegui pela experiência e vivência direta de outras dimensões do espírito substituir a crença, a fé ou a dúvida pela certeza do saber.   A grande finalidade de minha existência: alcançar o estado transpessoal permanente, a iluminação. E isto ainda nesta existência.
 
Há certas vivências que foram decisivas para a descoberta de como o estado de vigília se parece com um sonho. Talvez a mais importante delas foi quando, num sonho lúcido, de conteúdo sexual, consegui a continuidade da Consciência entre os dois estados.

Esse sonho lúcido ocorreu na época do final do retiro, em 25 de maio de 1985. “Estou num hotel. A camareira se despe diante de mim, tira a blusa, e eu fico excitado. Beijo-lhe os seios e não me lembro de mais nada, a não ser da reflexão que fiz de que eu estava apegado ao pensamento onírico do seio, uma vez que não havia seio algum”.

Embora breve, essa experiência teve o efeito de uma  luz fulgurante, mostrando-me num relance, e de modo definitivo, todo o processo do apego. Durante o próprio sonho, fiquei perfeitamente consciente de que eu estava me apegando à imagem de um seio e que era essa imagem que provocava o prazer em mim, e não a percepção de um seio verdadeiro.

Ficou evidente, também, que essa imagem era uma memória sincrética de muitos seios que experimentei no passado, e o próprio prazer também era causado pela lembrança de prazeres anteriores.
Logo, o apego era ao mesmo tempo lembrança de uma imagem, mas também, ao próprio prazer vivido no passado e reativado no plano psicofisiológico durante o sonho, pois fiquei excitado mesmo nesse plano.

Graças ao processo de continuidade da consciência, quando passei ao estado de vigília, diante da constatação da ausência de um seio real palpável, ficou evidente que o apego ou desejo de eternizar a experiência independe da existência de um seio real.

Então, também ficou evidente que, se houvesse um seio real na minha frente, eu não estaria sendo excitado por esse seio, mas pela lembrança de imagens passadas associadas a prazeres sexuais passados. Em outras palavras, eu estaria projetando no seio real apenas um sonho.

A afirmação oriental de que tudo é ilusão não significa que não exista nada na nossa frente, mas que há algo diferente do que percebemos, por causa de nossa projeção de memórias e emoções passadas. É nesse sentido que se pode afirmar que cada um de nós cria a sua própria realidade, o seu mundo particular, muito diferente do que está realmente na nossa frente.

Contam que um dia o grande sábio do Tibete, Milarepa, perdeu a filha. Ele caiu em pranto, na frente de seus discípulos. Surpresos, eles perguntam como é que ele pregava que tudo era ilusão e agora chorava por ter perdido uma ilusão. “É verdade, tudo é ilusão mesmo. Só que minha filha era uma ilusão muito querida”, foi a resposta do Mestre.

Quando os mestres tibetanos dizem que Tudo se parece com um sonho, isso quer dizer que eu sonho, que eu projeto os meus pensamentos sobre os objetos, os quais jamais correspondem a esses pensamentos. Os pensamentos são do passado, como memória, ou do futuro, como imaginação. Logo, passado e futuro são apenas pensamentos.

Hoje posso dizer que, sem nenhuma relação sexual, vivi um dos períodos mais felizes e harmoniosos de minha vida. Passei três anos com a energia mobilizada nos Chakras ou Centros Superiores do meu ser, incluindo o coração.

Estou num dos períodos mais calmos da minha existência. Vivendo só, a chama da minha fogosidade está em estado de vaga-lume. Não creio que seja incapacidade, mas uma sublimação da energia sexual em níveis de amor universal. Continuo aberto para um relacionamento. Mas teria de ser com alguém a fim de, como eu, viver um com o outro numa profunda e harmoniosa relação evolutiva. Estou aberto ao que o Eterno me reserva.

Swami Muktananda, entre todos os mestres que me influenciaram, foi quem mais contribuiu diretamente para as minhas experiências interiores. Até hoje tenho por ele uma afeição e uma gratidão ilimitada.