sábado, 27 de junho de 2020

Morte - A grande aventura

Alice Baylei
As pessoas são propensas a esquecer que todas as noites, durante as horas de sono, morremos para o plano físico e estamos vivos e atuantes em algum outro lugar. Elas se esquecem de que já têm facilidade para abandonar o corpo físico.

Porque não podem ainda trazer de volta para a consciência do cérebro físico a lembrança dessa passagem e o subseqüente intervalo de vida ativa, deixam de relacionar morte e sono.

A morte, afinal, é apenas um intervalo mais longo na vida que funciona no plano físico; nós apenas “saímos de viagem” por um período maior, mas o processo do sono diário e o processo ocasional de morrer são idênticos, com a única diferença de que, no sono, o fio magnético ou corrente de energia, ao longo do qual corre a força da vida, é preservado intacto, e constitui o caminho de retorno ao corpo. Na morte, este fio de vida é partido ou interrompido. Quando isto acontece, a entidade consciente não pode retornar ao corpo físico denso e esse corpo, faltando o princípio de coesão, então se desintegra.

A inconsciência nos moribundos é apenas aparente. De 900 casos em 1000 há percepção cerebral, com total consciência dos acontecimentos. Mas existe uma total paralisia da vontade para expressar-se e completa incapacidade para gerar a energia que indicaria atividade.                 

Falo sobre a morte como alguém que conhece o assunto e posso dizer: não há morte, mas a entrada numa vida mais plena. Se as pessoas tivessem mais conhecimento, o nascimento seria a experiência que temeriam e não a morte, pois o nascimento coloca a alma em verdadeira prisão, enquanto a morte física é apenas o primeiro passo para a liberdade.

Poderia imaginar o dia em que o processo da morte, claramente reconhecido e benvindo pelo homem, pudesse ser descrito por ele nesta simples frase: “Chegou a hora em que a força atrativa da minha alma pede que eu abandone o meu corpo e o restitua ao lugar de onde veio”. Imaginem a transformação  na consciência humana quando a morte vier a ser considerada um ato simples e consciente de abandono da forma, temporariamente emprestada.

domingo, 7 de junho de 2020

Tudo é transitório

Swami Prajnanpad
Swami Prajnanpad (1891-1974) foi um dos grandes mestres da Índia. O que mais me impressiona nesse sábio é  sua insistência na importância da aceitação. "A verdade consiste em estar preparado para aceitar tudo o que acontece".  Não ao que gostaríamos que acontecesse, mas sim ao que está acontecendo, porque é aí que se encontra a nossa oportunidade de aprender o chamado da vida para evoluir. Há um livro em francês, cujo título sintetiza bem  essa visão de Prajnanpad: "Le Maître du Oui", O Mestre do Sim.
Seguem abaixo extratos dos ensinamentos básicos de Prajnanpad.

   Tudo é transitório. Tudo o que percebemos pelos sentidos, tudo o que a mente guarda, tudo é transitório, sem nenhuma exceção. Esses objetos transitórios, emoções, formas, etc. que mudam continuamente, são sem valor e duram apenas algum tempo. Se eles nos atraem, isso é uma prova de que são mais poderosos do que nós. Serei mesmo menor do que eles?

   Quando  os germes da emoção são destruídos na mente, um objeto exterior não pode   produzir nenhum efeito. Como se diz: uma palavra é proferida numa assembleia e ela vai ecoar no coração ao qual pertence. Deve-se reviver a experiência voltando-se ao passado, como se o mesmo acontecimento estivesse se produzindo agora. É a única maneira de se desfazer de emoções presas ao passado.

   A verdade consiste em estar preparado para aceitar tudo o que acontece. Por que pensar agora no que poderá acontecer no futuro? As coisas mudam a todo momento. É falso pensar de antemão em qualquer coisa que poderia acontecer. Sua doença apareceu, ela vai desaparecer. Ainda mais, o sofrimento provocado pela doença durará apenas o tempo necessário.Você não poderá se desfazer dela enquanto a experiência não estiver completa. Procure guardar esta verdade no espírito: si você viver uma experiência com todo o coração, ela logo terminará; do contrário, se arrastará por muito tempo.

   Tudo muda. Nada permanece por muito tempo no mesmo estado. O mesmo acontece com sua doença. Se o corpo deve fazer a experiência da doença, deixe-o fazer. Porque suportar um sofrimento mental além da dor física? Conserve a mente com saúde e a felicidade virá inevitavelmente.

   Aceita, aceita. A aceitação é a não recusa que aquilo que é seja. Aqui e agora , o que é é. Sobre o que é não há nenhuma possibilidade de intervir. Trata-se de uma adesão à realidade relativa, instante após instante. A aceitação não impede de agir. O princípio que deve sempre nos guiar é este: "Não o que deveria ser, mas o que é". Fazer desaparecer os males? Não temos nenhum poder. Mas acolher o sofrimento de uma maneira nova, esse poder nós temos. E esse poder nos mostrará que, se em vez de ser recusado, negado, o sofrimento é aceito, ele cessa de ser doloroso.

   A mente é a negação do que é; sempre outra coisa do que o que é: isso deveria ser, isso não deveria ser. Vá em frente corajosamente; como um herói, avance por essas terras desconhecidas da consciência, em seu interior. Se a consciência real estiver presente, como testemunha, como vigilância, você pode prosseguir sem correr nenhum risco.

   Lembre-se sempre desta verdade: eu posso tudo perder, porque o essencial não pode ser perdido; e é quando eu tiver perdido tudo que serei livre - livre de todas as identificações, de todos os apegos, de todas as limitações. 


"E agora, vou te revelar o segredo dos segredos: em todo este universo, não há nada que seja maior do que o homem." (Mahabharata)