domingo, 14 de novembro de 2021

Meditar é regressar ao lar

Paule Lebrun
Você está passeando no campo um domingo pela manhã. Como é belo! há flores. E de repente, decorridos dez minutos, você percebe que nada viu, nada sentiu, nada entendeu. Você estava completamente absorvido pelo discurso interior.

Se você volta ao momento presente, percebe, então, a carícia do vento sobre sua pele, escuta o grito das crianças, toma consciência do amarelo das laranjeiras no campo. Esse incessante discurso interior constitui o principal obstáculo ao conhecimento e à realização de si mesmo.

Chega-se a esquecer que nossa natureza de base é o silêncio interior e que, quando tocamos as praias desse silêncio, sentimos ao mesmo tempo o êxtase de existir.

Para um bom número de tradições orientais, não existe um Deus exterior a nós mesmos. Só existem seres realizados, despertos e outros que não o são. Somos todos Budas ainda não realizados.

Todas as técnicas de meditação visam à mesma coisa: Despertar a pessoa, tirá-la da semiconsciência da vida ordinária. Como? Estando presente. Unicamente estar presente. Dia após dia. Estar presente. Sem interferir. Estar presente à sua respiração, sem modificá-la. Estar presente aos pensamentos, às emoções, às sensações, tornar-se a testemunha de si mesmo.

Uma das primeiras descobertas do meditante consiste em ver todo o funcionamento interno da formação dos pensamentos e imagens. Não de forma conceitual, mas pela simples observação.

Meditar é também entrar em contato com o que não muda em nós. Os sufis chamam isso o estado de hospedeiro. Há o hospedeiro e os convidados (os pensamentos, as emoções). Não confundir o que hospeda e os convidados. Não se identificar com os convidados. Eles não estão  aí para permanecerem.

Meditar não é nada mais do que regressar ao lar. Na realidade, não há nada a fazer na meditação. Meditar é simplesmente voltar para casa e repousar um pouco. Não há outro lugar para ir na meditação, mas tão só estar lá e ocupar todo o espaço em que se está. É isto a meditação.