domingo, 23 de abril de 2023

O Amor me acolheu

O Amor me acolheu, mas minha alma retrocedeu,

culpada de pó e de pecado.

Mas, clarividente, o Amor, vendo-me hesitar

desde o momento em que entrei,

aproximou-se de mim, com doçura, perguntando-me

se precisava de alguma coisa.

“Um convidado” – respondi- “digno de estar aqui”.

O Amor disse: “Tu serás o convidado”.

“Eu? mau, ingrato? Ah! meu amado,

não posso olhar para ti”.

O Amor pegou-me pela mão e, sorrindo, respondeu-me:

“Quem fez esses olhos, senão eu?”.

“É verdade, Senhor, mas eu os manchei;

que a minha vergonha me leve onde mereço”.

“E não sabes” - perguntou o Amor - “Quem tomou todas as culpas sobre si?”.

“Meu Amado, então servirei”.

“Senta-te”, disse o Amor, “e disfruta destes manjares”.

Então sentei-me e comi.

George Hebert (Séc. XVII)