sábado, 28 de maio de 2022

YOGANANDA - Sussurros da Eternidade

Shankaracharya, uma grande autoridade espiritual da Índia, descreveu o grande valor de Yogananda para a humanidade nos seguintes termos:

“Uma luz que brilha na escuridão”, tal era a presença de Yogananda neste mundo. Almas tão grandes vêm muito raramente sobre a Terra, encarnam somente quando a humanidade está em um estado de extrema necessidade. A vida de Yogananda transformou a terra de maneira notável. Graças a ele, milhares de vidas foram transformadas e elevadas. Inúmeros corações se abriram para o Deus de Amor. Estudantes do mundo inteiro começaram a praticar a meditação. Seu livro "Autobiografia de um Iogue", publicado em 1946, provocou uma verdadeira revolução espiritual. Quero  compartilhar com  todos a promessa eterna que Yogananda fez a seus devotos através deste belo poema:

Sussurros da Eternidade 

Quero conduzir várias vezes meu barco
ao abismo além da morte
e da minha casa no céu
retornar às praias terrenas.
Eu quero encher meu barco com
aqueles que ficaram para trás e esperam sedentos
para levá-los ao lago opalino
de alegria iridescente,
onde meu Pai doa generosamente
a seiva de sua paz que acalma todos os desejos.
Oh, retornarei outra vez, e outra vez!
Entre um milhão de penhascos de sofrimento
com os pés sangrando, retornarei
Se necessário trilhões de vezes
Enquanto souber que um irmão
Ainda está perdido.

Eu Te quero meu Deus
para poder Te dar a todos
Eu quero a salvação
Para dá-la a todos.
Livra-me, pois, meu Deus
Das amarras do corpo
Para poder mostrar aos outros
como eles podem se tornar livres.
Eu quero a sua alegria eterna
apenas para compartilhar com os outros
para mostrar a todos os meus irmãos
o caminho da felicidade
sempre e para sempre em Ti.

sábado, 21 de maio de 2022

O fogo liberador

Pierre Lévy
   Quando eu tinha dez anos, levava para a escola a chave de casa, porque voltava antes de meus pais, que às vezes trabalhavam até tarde. Numa noite de inverno, quando cheguei na porta de casa, procurei a chave e não achei. A casa estava isolada. A noite caía. Estava sem a chave. Fiquei esperando na frente de casa. Uma hora, duas horas, três horas. Meus pais não chegavam. Achei que nunca mais fossem voltar. Pus-me a chorar. Sentia-me muito sozinho, abandonado, exilado, infeliz. 
Finalmente meus pais chegaram. “Por que você está chorando?”, perguntaram. “Como vimos que você tinha esquecido a chave, deixamos a porta aberta.” Empurrei a porta. Ela estava aberta. Não tinha nem sequer pensado em tentar abri-la sem chave.
Quis contar essa história antes de começar só para dizer que sei que você não tem a chave. Ninguém tem a chave. Ninguém nunca a teve. Não precisamos de chave. A porta está aberta. Entre em sua casa.

   O ódio de si dá a sensação de que o outro o odeia, pois projetamos nossos sentimentos e pensamentos no mundo. A crença de que o outro o odeia provoca fatalmente o ódio no outro. O outro, ao considerar que você o odeia, também irá odiá-lo, confirmando assim seus primeiros pensamentos e sustentando o ciclo. É assim que pensamentos odiosos, a começar pelo ódio de si, criam um mundo de ódio.

   A sabedoria consiste em parar de projetar, ficar efetivamente presente e aberto, em vez de fabricar e refabricar continuamente o mundo que corresponde a nosso pensamento, sofrendo assim suas conseqüências. Estamos sempre projetando nosso drama pessoal no mundo. O infeliz vive num mundo hostil, cheio de obstáculos. É estrangeiro num mundo que o agride e o frustra. O sábio, em compensação, tem a riqueza infinita de um mundo que lhe pertence. O mundo o ama. O mundo lhe devolve o amor que ele tem por si mesmo. Por sorte, a escolha entre ser prisioneiro dos pensamentos e vê-los pelo que são depende de nós. Mas para isso é preciso exercício, paciência e muita atenção. A meditação é a via principal do conhecimento e do domínio de si. "Podemos vencer um milhão de homens em uma só batalha. O maior guerreiro, porém, é aquele que vence a si mesmo". (Dhammapada)

   Quando os pensamentos me levam para além do instante presente, ponho-lhes a etiqueta “pensamentos” e volto à minha respiração. Relaxe. Relaxe. Relaxe continuamente, um segundo após o outro.
Exercite estar presente por muito tempo, sem se deixar tomar pelo que você pensa. Aprenderá, assim, a desenvolver o sexto sentido: o olho voltado para o interior. Achamos que nossos dois olhos nos permitem ver claramente o mundo externo quando, na verdade, eles só nos oferecem uma visão confusa. Só se desenvolvermos a acuidade do terceiro olho — aquele voltado para o mundo interior —, é que poderemos ver as coisas tais como são. 
   
   Eis a condição humana: somos sozinhos, perdidos, temos dor e uma imensa necessidade de amor. Todo o resto é construção artificial.  A violência é necessariamente cometida na inconsciência. É por essa razão que todas as sabedorias, todas as espiritualidades insistem na presença, na consciência, na vigilância.

   Se concluir não ter sido amado, inútil alimentar acusações, reprovações e ressentimentos sem fim. O único remédio, o remédio soberano, é amar a si mesmo. Quando Você passa a se amar, tem muito menos necessidade do amor dos outros, pois a partir de então você é amado(a). Amando-se, sendo amado(a), você não se jogará mais nos braços de qualquer um para fugir da solidão. Porque você se ama, sabe o quanto é precioso(a), e quer o seu próprio bem. Só assim será capaz de escolher, escolher de verdade, alguém que você ama e que o(a) ama. Quanto mais for capaz de se amar, mais será feliz e melhor poderá amar o próximo.  Você é o mais próximo de todos os seus próximos. Nossa felicidade só depende de nós, porque ser feliz é amar a si mesmo. No momento em que nos conhecemos como centelha do fogo divino, passamos a nos amar. 

   A raiz de todos os sofrimentos está na incapacidade de viver no presente, a cada segundo, e de nos maravilharmos com o fato de respirar, sentir, pensar, de nos relacionarmos com outros seres sensíveis. Cada instante é sagrado porque é um instante de vida. Porque a vida é esse instante. Portanto, tudo o que povoa o instante é sagrado, assim como tudo o que conduziu a esse instante, mesmo o sofrimento, mesmo as causas do sofrimento.

   Não se perca no corre-corre e na “seriedade” da vida. Não se extravie nas brumas do ego. Desfrute da simples respiração. Aprecie o presente maravilhoso da visão, o dom da audição, a afluência dos odores, a presença misteriosa dos seres. Mergulhe na poesia do mundo tal como ele se oferece continuamente. Neste exato segundo em que lhe falo, qual a sua atitude em relação ao dom extraordinário da vida humana? Deus nos dá tudo, absolutamente tudo, a cada segundo. Ele nos dá o dom do instante, porque só há o instante. O certo é que não possuímos nada. Tudo, porém, nos é oferecido a todo momento. Tudo o que fazemos deve ser bem feito. Quanto ao resultado de nossos atos, este não nos pertence.

   O que a vida tem de mais extraordinário está nos momentos mais banais. Em qualquer momento. Agora. Torne cada segundo de sua vida mais belo, mais poético, mais sagrado. Ao fugir daquilo que chama de sofrimento ou ao perseguir aquilo que imagina ser a felicidade, você não vive a única vida que está à sua disposição, a do instante. Você está tão ocupado pensando no que as coisas deveriam ou poderiam ser que não vive plena e conscientemente o segundo de vida que lhe foi dado agora, o único que conta, o único que existe de verdade. Você rouba de si mesmo a própria vida. A meditação é uma aprendizagem do instante. 

   O sofrimento nasce porque imaginamos, tememos ou esperamos uma situação diferente da situação presente. Se aderíssemos às coisas tais como são, só haveria energia. A disciplina do instante é uma aprendizagem da paz. O que aprendemos com o sofrimento? Que é inútil e vão. Que somos nós que o produzimos, sem poder nos queixar do que quer que seja.        

   Todo o dia não consagrado ao aperfeiçoamento da alma e à alegria profunda de tornar o mundo mais belo é um dia perdido. Cada dia é uma oportunidade que nos é dada e que não tem volta. A luz da sabedoria ilumina em todas as direções. Conheça a si mesmo, pois assim conhecerá tudo. Ame a si mesmo, pois assim amará tudo. Só podemos "ver" a maldade do outro se ela ecoa na nossa. Só assim podemos reconhecê-la.

   Você se evade no automatismo dos pensamentos e das associações mentais, na ocupação, na ação, no trabalho, nas paixões, no divertimento. Mas, na verdade, você só tem uma urgência, a de se conhecer. Para se conhecer é preciso se amar. Digo se amar e não admirar o ego que edificamos. Amar a nossa natureza profunda e insondável. Amar-se equivale exatamente a conhecer-se. Quanto mais transparentes somos para nós mesmos, mais transparente é o mundo. Quando nos conhecemos plenamente, tudo fica transparente. A liberdade é diretamente proporcional ao conhecimento de si. Um conhecimento atual, segundo após segundo, em plena consciência, vigilante.

    Deus é a razão de toda alegria no mundo. Cada vez que a beleza emerge, Deus se manifesta no mundo. É muito fácil encontrar Deus. Ele está no mais íntimo da alegria de existir, de respirar, de sentir. Não há outro projeto senão o da paz, do amor e da alegria. Todos os outros são fúteis e carecem do essencial, pois a única realidade é a da alma. Não existe nenhum meio de realizar esse projeto, pois a felicidade se atualiza aqui e agora e ele consiste em estar plenamente presente. 

   Não deposite sua felicidade nas coisas externas. É tornar a felicidade demasiado frágil e aleatória. Sua alma é a única posse que jamais lhe será roubada, desde seu nascimento até sua morte. É também seu bem mais precioso, uma vez que é a fonte de todas as verdadeiras riquezas, a começar pelo poder de gerar o seu próprio mundo. Por sorte, seu bem mais precioso está inteiramente em seu poder! Você acha que para ser feliz precisa disto ou daquilo... Mas você só precisa mesmo de uma coisa: apreciar plenamente a imensa sorte de viver. Cada respiração é um milagre.