sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

A calma interior

Eckhart Tolle
O equivalente do barulho externo é o barulho interno do pensamento. O equivalente do  silêncio externo é a calma interior.

Sempre que houver silêncio à sua volta, ouça-o. Isso significa: apenas perceba-o. Preste  atenção nele. Ouvir o silêncio desperta a dimensão de calma que já existe dentro de você, porque é só através da calma que você pode perceber o silêncio.

Veja que, quando percebe o silêncio à sua volta, você não está pensando. Está consciente  do silêncio, mas não está pensando. Olhe para uma árvore, uma flor, uma planta. Note como estão calmas, profundamente enraizadas  no Ser. Deixe que a natureza lhe ensine o que é a calma.

Sempre que aceita profundamente o momento como ele é – qualquer que seja a sua forma – você experimenta a calma e fica em paz.

A verdadeira inteligência atua silenciosamente. A calma é o lugar onde a criatividade e a solução dos problemas são encontradas.

A calma é a única coisa no mundo que não tem forma. Na verdade, ela não é uma coisa nem pertence a este mundo.

A Bíblia diz que Deus criou o mundo e viu que era bom. É isso que você vê quando olha num estado de calma, sem pensar em nada.

Você precisa saber mais coisas do que já sabe? Você acha que o mundo será salvo se tiver mais informações, se os computadores se tornarem mais rápidos ou se forem feitas mais análises científicas?

O que a humanidade precisa hoje é de mais sabedoria para viver. Mas, o que é a sabedoria e onde pode ser encontrada? A sabedoria vem da capacidade de manter a calma e o silêncio interior. Veja e ouça apenas. Não é preciso nada, além disso. Manter a calma, olhando e ouvindo, ativa a inteligência que existe dentro de você. Deixe que a calma interior oriente suas palavras e ações.

sábado, 20 de janeiro de 2018

Uma experiência divina

Wayne Dyer
Wayne Dyer é um dos homens extraordinários com quem convivo, através de minhas leituras. Doutor em Psicologia, escreveu dezenas de livros, considerados best-sellers pelo New York Times. Eram livros sobre os mais variados temas no campo da psicologia. Mas Wayne sentia que estava lhe faltando algo de essencial. Marcado por um passado de abandono, tendo vivido em um orfanato por vários anos, buscou no álcool e nas drogas compensações para sua carência interior. Mas algo lhe dizia que sua vida precisava mudar. Passou a ler livros de mestres de sabedoria, como Krishnamurti, Muktananda e iniciou uma prática de meditação. Foi quando ele teve uma experiência, “um instante sagrado”, que lhe fez abandonar a ambição do lucro com a venda dos seus livros e dar início  a uma nova vida. Já publicou vários livros, tentando nos mostrar o real sentido da existência. Entre outros, destaco aqui os seguintes: "Seu Eu Sagrado", "Novas ideias para uma vida melhor" e "Crer para Ver".

Uma Experiência Divina
 
Em diferentes épocas do meu passado, tanto o álcool como outras substâncias desempenharam um papel na trilha de minha vida. Por meio da meditação, consegui deixar o álcool, e nunca mais toquei nele desde então. Já no caso das outras substâncias, eu as utilizava para usufruir de um acréscimo de energia e depois interrompia o uso durante longos períodos. Percebi, porém, que estava recorrendo mais frequentemente a essa fonte de energia externa.

Livrar-me desse vício virou o meu desafio pessoal. Tentei expulsá-lo do meu jeito, mas voltei. Tentei acupuntura, conversas com especialistas e curas pela fitoterapia. Mas voltei. Resolvi não mais brincar com essa substância. Mas voltei. Então, tive o que chamo um "instante sagrado", que foi para mim uma experiência divina.

Às 4h05 de uma madrugada de janeiro, eu meditava. Na quietude, na calma daquela meditação, o pensamento de nunca mais usar a substância tornou-se real. Foi a minha primeira experiência de Deus absolutamente imediata. Fiquei de “coração aberto”, como fala Lao-tsé.

Toda a minha tela consciente interior virou luminescência brilhante e ouvi uma voz a dizer: “Já tentaste tudo, por que não tentar comigo?” Nunca na minha vida conheci tal paz e certeza de que Deus estava em mim e ao meu redor. Senti-me dominado pela beatitude que estava a experimentar.

Pensei que talvez estivesse morrendo naquele momento e não me importei, porque a beatitude envolvia-me completamente. Pude ver meu corpo a certa distância, como algumas pessoas descreveram nas experiências próximas da morte.

Então vi uma janela que era a coisa mais clara que eu já vira. Era como se alguém tivesse limpado o vidro com uma poção mágica, que me permitia enxergar milhares e milhares de quilômetros na eternidade.

Nunca estivera tão seguro de nada na minha vida como naquela manhã. Senti que compreendia de verdade o significado de “Tendo o coração aberto, agirás com nobreza. Sendo nobre, atingirás o divino.” Soube que o meu desejo de apelar para algo exterior a mim ia desaparecer da minha vida. Nenhuma substância me deixara “alto” desse jeito.

Escutei aquela voz, senti a presença de Deus e desde então jamais experimentei o mais ligeiro desejo de recair no uso de qualquer substância. Isso foi o que trouxe comigo, vindo do silêncio interior.

A capacidade de libertar-me de um vício insidioso veio a mim depois que eu encerrara todo o diálogo e abandonara todos os demais métodos para expelir aquele monstro maligno da minha vida. É por isso que posso escrever com convicção e afirmar que a paz interior não é a única conquista que você terá ao encerrar o diálogo interior. Talvez seja mais significativo o que você traz dessa experiência.

Tenho debatido comigo a conveniência de incluir essa história pessoal neste livro. Isto é, o meu ego debateu com meu Eu superior. Foi por meu Eu superior – enquanto experimentava o meu divino instante sagrado, sentindo a beatitude de Deus como parte de mim - que eu soube. Soube que a minha experiência de envolvimento com substâncias químicas também envolvia a ajuda a outras pessoas, para que olhassem para dentro de si mesmas, ao invés de olharem para fora, à procura tanto da excitação quanto da paz que o Eu superior tem para lhes dar.

Milhões de pessoas estão brincando com fogo ao mexerem com essas substâncias, cuja incidência apresenta recordes estatísticos, ameaçando nossas crianças e o tecido da vida. Elas nos roubam nossa essência espiritual e “comem nossos ossos”. Se, ao ler minha história, uma só pessoa que estiver experimentando qualquer substância e souber que isso está fora do seu controle decidir encerrar o seu tumulto interior e procurar a ajuda da sua presença amorosa, então terá valido a pena.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

A principal causa da raiva

Thich Nhat Hanh


Thich Nhat Hanh,  monge budista,  vive hoje na França, onde fundou uma comunidade  dedicada à meditação e ao trabalho.
Em Plum Village, ele ensina, escreve e conduz retiros  sobre “a arte de viver consciente”. Viver o momento presente é a única maneira de instaurar  a paz em si mesmo e no mundo.
Deixo aqui um convite para a leitura de um, dentre os seus numerosos livros: “Para Viver em Paz - O Milagre da Mente Alerta”





 A principal causa da raiva é a sua semente que existe dentro de nós mesmos. Se não houver sementes de raiva em nossa consciência armazenadora, esse sentimento não pode surgir.

Quando as chamas da raiva se acendem, a tendência é atacarmos quem regou as sementes desse sentimento que temos dentro de nós. É como encontrarmos nossa casa incendiada e, em vez de procurarmos apagar as chamas, sairmos em busca da pessoa que acreditamos ter ateado o fogo.

Quando esse sentimento se manifesta, devemos nos voltar para dentro de nós mesmos e usar a energia da atenção plena para abraçá-lo, suavizá-lo, iluminá-lo.

De acordo com o que foi ensinado pelo Buda, quando a raiva surge, temos que fechar os olhos e ouvidos, retornar para nós mesmos e procurar a fonte interior desse sentimento. O essencial é regarmos a semente da atenção plena e deixá-la surgir na nossa mente consciente.
  
Nós geramos a atenção plena, não para brigar com a raiva ou expulsá-la, mas para cuidar bem dela. Esse método não é dualista nem violento. Não é dualista por reconhecer que ambas – atenção plena e raiva – são partes de nós mesmos. Uma energia abraça a outra. Não devemos ficar com raiva da nossa própria raiva. Não precisamos procurar enxotá-la nem reprimi-la. Basta tomarmos conhecimento de que ela surgiu e cuidarmos dela.

Quando nosso estômago dói, não ficamos com raiva dele. No momento em que a mãe escuta o bebê chorando, ela deixa o que está fazendo, toma a criança nos braços e a acalenta. Depois procura descobrir o motivo do choro, se ele se deve a um desconforto físico ou emocional.

Temos que examinar a raiva a fundo, como faríamos com nosso próprio filho. Não devemos rejeitá-la nem odiá-la. A respiração consciente abranda e acalma a raiva e a atenção plena a penetra.

No Anapanasati Sutta (discurso sobre a atenção plena na respiração), o Buda ensina: “Inspirando, acalmo as atividades da minha mente”. As atividades da mente correspondem a qualquer estado emocional ou psicológico, como raiva, tristeza, ciúme ou medo. À medida que inspiramos e expiramos com atenção plena, abraçamos e acalmamos esse estado mental.

“Inspirando, sei que estou com raiva. Expirando, sei que a raiva está em mim.” Com essa prática, a primeira coisa que descobriremos é que nosso sofrimento tem raízes na nossa consciência armazenadora, em sementes que já estão lá, sementes de raiva, ilusão... A outra pessoa é apenas uma causa secundária. Em seguida, veremos que ela está sofrendo também. Ao compreendermos isso, o amor brotará em nós e teremos vontade de ajudar. A chave é o entendimento.

Graças à prática da atenção plena, a raiva voltará para o depósito da nossa consciência. Essa é a prática de enfrentar a raiva e, como resultado da atenção plena, transformá-la em energia de amor e compreensão.

A meditação budista visa, em primeiro lugar, restabelecer a comunicação com nós mesmos. Raramente estamos presentes para nós mesmos. Fugimos de nós mesmos, porque é assustador voltar para casa e enfrentar o medo e o sofrimento da criança ferida que existe em nós e que vem sendo ignorada há tanto tempo. Mas é maravilhoso voltar para casa e dizer: “Menino, estou aqui para você. Não se preocupe. Cuidarei de você.”

Esse é o primeiro passo. Somos a criança profundamente ferida que espera voltar para casa. E somos também aquele que fugiu de casa, que negligenciou a sua criança.

Temos que voltar e cuidar de nós. Nosso corpo, nossos sentimentos e nossas percepções precisam de nós. Nossos sofrimentos e nossos bloqueios, causados pela dor, requerem nossa atenção. Vamos voltar para casa e estar lá para atender a todas essas solicitações.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Enildes Corrêa
Tenho em mãos um livro de espiritualidade, escrito por Anne Bancroft e cujo título é “Femmes em quête d´absolu” –( Mulheres em busca do absoluto.) Consta do mesmo a vivência de uma série de mulheres notáveis, como Simone Weil, Elisabeth Kubler-Ross e várias outras. E pensei comigo mesmo: bem poderia constar também nesse elenco o nome de Enildes Corrêa.  Na índia, onde morou por algum tempo, ela teve a sorte de encontrar um mestre iluminado, chamado Kiran Kanakia.  Nenhuma  técnica terapêutica que Enildes conhecia lhe ensejara o estado de plenitude que ela então experienciou, na simples convivência com um “Ser Acordado.” Foi no decorrer dessa convivência que ela se tornou intima do silêncio interior.

Auto conhecimento - Caminho para o amor

Faz parte da natureza humana a busca do amor. Queremos ser aceitos, compreendidos, ser amados, enfim. Queremos sentir o calor humano, sem o qual é quase impossível sobrevivermos saudavelmente. O engano, porém, é concentrar essa busca de afeto somente fora de nós mesmos, o que faz prevalecer um constante desassossego interno.

Ao tomar consciência dessa intranquilidade, uns vão procurar se olhar e se compreender melhor através da busca do autoconhecimento. Optam por dar um mergulho nas profundezas do seu Ser, para emergir com mais paz, amor e sabedoria.

Outros, na ânsia de serem aceitos e amados, entram em caminhos distorcidos, feitos de atalhos, cheios de ilusões. E, quanto mais caminham, mais distantes ficam do que  buscam. Fogem do sentir a si mesmos, da verdade de suas vidas, através do sexo, da conquista do poder, do dinheiro, do status social, bem como do uso do álcool e de outras drogas.

Há, também, um outro tipo de amortecimento muito comum: a fuga da realidade através do fazer, do trabalho. As pessoas se mantêm muito ocupadas, fazendo algo o tempo inteiro, mesmo que o corpo não aguente.  Ao parar, vão entrar em contato com as emoções e sentimentos reprimidos que lhes causam dor e sofrimento. E, para não sentir, não param. No entanto, é olhando a dor de frente que ela se dissolve e as suas marcas podem ser apagadas de modo natural. A vida faz os ajustes necessários, no devido tempo.

Inquietações, desconfortos ou dores, cujas raízes são internas, não se eliminam com coisas do mundo externo. Acumulação de bens materiais, poder e status social não curam os problemas de ordem emocional de ninguém; ao contrário, camuflam a realidade, impedindo o processo de transformação.

Se não acordamos em tempo, corremos o risco de viver sempre isolados de nós mesmos, a procurar no mundo externo o que está dentro: a nossa fonte suprema de amor. Se não conseguimos voltar os olhos para dentro de nós mesmos, não obtemos o almejado sustento emocional e espiritual. Tornamo-nos adultos infantis, carentes e dependentes.

Quantas vezes desejamos e cobramos das pessoas com as quais nos relacionamos algo que não fomos capazes de nos dar, como atenção, amizade, aceitação, carinho, respeito, compreensão? Como querer que o outro nos dê aquilo que não nos damos?  É contraditório... 

Se nos aprofundamos no autoconhecimento, não ficamos carentes e necessitados o tempo todo de atenção externa; vamos descobrir que dentro de nós existe um tesouro, que nos acalenta eternamente, um bálsamo sagrado de silêncio e amor, que nos ampara em qualquer situação. O nosso valor não dependerá de nota dez ou zero de ninguém a nosso respeito. Ganhamos forças para encarar a realidade e deixamos as ilusões, imagens e fantasias caírem. Não ficamos à mercê do julgamento do outro. Vamos ser nós mesmos, mais livres, amorosos e espontâneos, com menos julgamentos e muito mais aceitação, conosco e com os outros. Existem pouquíssimas coisas que poder e dinheiro não compram, entre elas, a paz de espírito, a verdadeira autoestima e o amor sincero de alguém.

À medida que nos interiorizamos, expande-se em nós o sentimento de autoaceitação e  amadurecemos emocionalmente e, em consequência, aumentamos as nossas possibilidades de atrair pessoas com as quais podemos nos relacionar de forma mais consistente e amorosa, com base no respeito recíproco e com uma troca sincera de afeto, ao invés do apego e da dominação que “coisificam” as pessoas.

As potencialidades mais belas do ser humano ficam invisíveis, vistas da superfície. Se quisermos descobri-las e vivenciá-las, temos que perder o medo das águas profundas e dar um mergulho em nosso ser, de onde resgatamos o senso maior de dignidade, respeito e valorização da nossa expressão. Assim, abrimos passagem para o amor entrar e fluir em nossas vidas.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Palavras de Sabedoria

Krishnamurti
Compete-lhes aprender por si mesmos e não em livros. Há muito que aprender acerca de sua própria pessoa. É uma coisa sem fim, uma coisa fascinante e desse aprendizado surgirá a Sabedoria. Então vivereis uma vida feliz e bela.
 
O autoconhecimento é essencial, mas não pode ser encontrado em livros; ele resulta do observarmos a nós mesmos no espelho das relações com as pessoas, o qual revela o funcionamento total da mente.
 
Só quando descobris os fatos, pode vos ser revelado um esplêndido tesouro e ser aberta a porta a maravilhas que nunca sonhastes.
 
A única coisa capaz de operar transformação é a vigilância cotidiana. Para descobrir o novo, o eterno, é necessário ter a mente extraordinariamente vigilante.
 
Quando observamos com clareza, a vida se nos vai revelando infinitamente. Então, já não estamos na dependência de ninguém - psicólogo, teólogo ou sacerdote - nem de nenhum dogma.
 
Quando todas as ilusões tiverem sido eliminadas, descobrireis o que é o Real. Não precisareis, então, de crer em Deus, pois estareis em presença do Sublime.
 
Aquilo que não tem começo nem fim surge quando a mente silencia.
 
Não existe medo de espécie alguma em face do momento real e vivo. Esta é uma coisa extraordinária para você descobrir. O pensamento no que aconteceu ou poderá acontecer é desatenção e a desatenção gera o medo.
 

Todos os nossos problemas são criados pelo pensamento e a mente é treinada para resolver os problemas com mais pensamentos.

A meditação é a chama que arde sem formar cinzas. As palavras, o sentimento, o pensamento, sempre deixam resíduos e o mundo vive das cinzas do passado.