domingo, 2 de novembro de 2014

Uma lenda hindu



Js.
Uma antiga lenda hindu conta que houve um tempo em que todos os homens eram deuses. Mas eles abusaram de tal maneira de sua divindade que Brahma, o mestre dos deuses, resolveu retirar-lhes o poder divino e de escondê-lo em um lugar impossível de alcançá-lo. Mas o grande problema era encontrar um lugar seguro para esse poder divino. 

Os deuses menores convocados para uma reunião, a fim de resolver o problema, propuseram o seguinte: “Enterremos a divindade nas profundezas da terra”. Mas Brahma respondeu: “Não, isto não é suficiente, pois o homem cavará a terra e a encontrará”. Então, os deuses replicaram: “Nesse caso, lancemos a divindade no mais profundo dos oceanos”. Mas Brahma não aceitou a nova proposta dizendo que, mais cedo ou mais tarde, o homem explorará as profundezas de todos os oceanos e certamente que um dia a encontrarão e tomarão posse do tesouro.  Então, os deuses menores concluíram: Sendo assim, não sabemos onde escondê-la, já que parece não existir na terra ou no mar um lugar que o homem não possa um dia descobrir. 

Então Brahma disse: "Eis o que faremos da divindade do homem; nós a esconderemos no mais profundo dele mesmo, em seu coração, pois este é o lugar que ele jamais pensará em encontrá-la." 

A lenda diz que, desde esse tempo, o homem percorreu a terra, explorou a lua, escalou as mais altas montanhas, mergulhou nas profundezas dos oceanos, penetrou na terra, sempre à procura de alguma coisa que se encontra nele.

Esta lenda contém lições de sabedoria. Em primeiro lugar, ela nos mostra como sempre foi difícil para o ser humano se voltar para dentro de si mesmo. Somos seduzidos desde cedo pelo progresso da tecnologia e nossa vida é quase toda dedicada ao fazer. Vivemos na periferia da vida e poucos são aqueles que descobrem a sua mais profunda essência: o Ser, que é a nossa verdadeira natureza.

O maior obstáculo para vivenciar essa realidade é a identificação com a mente. Os pensamentos nos tornam pessoas sempre ausentes, de modo que não encontramos a área de serenidade interior, que é inseparável do Ser.

Mas o “paraíso perdido” pode ser recuperado e isto é o que tem acontecido com milhares de pessoas, tanto no passado como nos tempos atuais.  

No século IV, Santo Agostinho conhecia esta verdade: “Os homens seguem-se maravilhados com as grandes alturas das montanhas, com as gigantescas ondas do mar, com as amplas corredeiras dos rios, os vastos limites dos oceanos, as trajetórias das estrelas, e passam por si próprios sem maravilhar-se.”
Essa maravilha de que fala Santo Agostinho é a centelha divina presente em cada ser humano, o tesouro escondido que precisa ser descoberto.

Ramana Maharshi, um grande sábio indiano, aconselhava às pessoas que anseiam por descobrir essa Realidade interior a fazerem a si mesmas, nos momentos de quietude, a seguinte pergunta: “Quem sou eu?”. Não vale a resposta que a mente possa lhe dar. Você não é sua história de vida, seu nome, sua profissão, suas posses. Tudo isso são agregados acumulados pelo tempo. A revelação deve acontecer quando a pessoa está num estado de tranquilidade e receptivo para receber a resposta que vem do seu próprio interior. Um requisito básico para essa experiência é a humildade, que nos mantém pacientes e persistentes. Devemos esperar humildemente por esta revelação do Infinito, que está dentro de cada um de nós.

Neste sentido é que devem ser compreendidas as palavras de Jesus: “Graças te dou, ó Pai, Senhor dos céus e da terra, pois escondeste estas coisas dos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos.”

Quando temos a sorte de descobrir a “boa nova” da presença divina em nós, percebemos quão alienados da verdade está o nosso mundo e compreendemos, então, a veracidade da lenda:  “Eis o que faremos da divindade do homem; nós a esconderemos no mais profundo dele mesmo, em seu coração, pois este é o lugar que ele jamais pensará em encontrá-la.”

2 comentários:

  1. Muito bom!
    Parabéns pela bela postagem!
    Que Deus o ilumine!

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  2. Às vezes se faz necessário parar um pouquinho e dar atenção a coisas interessantes. As respostas a perguntas feitas por fazer ...O longe perto infinito aberto e ao nosso alcance !

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