domingo, 18 de junho de 2017

O DESPERTAR DE UMA NOVA CONSCIÊNCIA

Eckhart Tolle
Sempre que não encobrimos o mundo com palavras e rótulos, retorna à nossa vida a sensação do milagre, que foi perdida muito tempo atrás, quando a humanidade, em vez de usar o pensamento, deixou-se possuir por ele.
                     
O Ser deve ser sentido. Não pode ser pensado. O ego não o conhece, porque ele se compõe apenas de pensamento. “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o Reino dos Céus”, disse Jesus. O que significa “humildes de espírito?”. Nenhuma bagagem interior, nenhuma identificação. Nenhuma relação com coisas e com conceitos mentais. E o que é o “Reino dos Céus?”. A simples, porém profunda alegria do Ser, que está presente quando abandonamos as identificações e nos tornamos “humildes de espírito”.

O ego é, invariavelmente, a identificação com a forma. As formas não são apenas objetos materiais e corpos físicos. Mais essenciais do que essas formas externas são as formas de pensamento que surgem de modo contínuo no campo da consciência. Elas são formações energéticas, mais sutis e menos densas do que a matéria física, porém são formas de qualquer maneira.

Descartes deu expressão a um erro fundamental (o esquecimento do Ser pela identificação com a forma), através da máxima: ”Penso, logo existo”. Essa foi a resposta que ele encontrou para a pergunta: “Há alguma coisa que eu possa saber com certeza absoluta?”. Descartes compreendeu que o fato de estar sempre pensando estava além de toda a dúvida; assim, igualou o pensamento ao Ser. Em vez da verdade suprema, ele havia detectado a origem do ego, mas não sabia disso.

Passaram-se quase 300 anos, antes que outro renomado filósofo francês visse algo naquela afirmação que Descartes não havia percebido. Seu nome era Jean-Paul Sartre. Ele refletiu muito sobre a afirmação de Descartes e, de repente, compreendeu algo. Em suas próprias palavras: “A consciência que afirma ‘eu sou’ não é a consciência que pensa”. O que ele quer dizer com isso?. Quando estamos conscientes de que estamos pensando, essa consciência não parte do pensamento. É uma dimensão diferente de consciência.

Se não houvesse nada além do pensamento em nós, nem sequer saberíamos que pensamos. Seríamos como alguém que está sonhando e não sabe que está fazendo isto. Estaríamos identificados com cada pensamento, assim como aquele que sonha está identificado com cada imagem do sonho.

A consciência é o poder oculto dentro do momento presente. É por isso que podemos chamá-la de presença. O propósito supremo da existência humana é trazer esse poder ao mundo.
              
Depois que compreendemos que todas as estruturas (formas) são efêmeras, a paz surge dentro de nós. Isso acontece porque o reconhecimento da impermanência de todas as formas nos desperta para a dimensão do que não tem forma no nosso interior, o que está além da morte. Jesus chama isso de “vida eterna”.

A causa primeira da infelicidade nunca é a situação, mas os pensamentos sobre ela. Portanto, tome consciência dos pensamentos que estão lhe ocorrendo. Separe-os da situação, que é sempre neutra – ela é como é.

Encarar os fatos é sempre fortalecedor. Tome consciência de que, na maioria das vezes, o que você pensa é o que cria suas emoções – observe a ligação entre eles. Em vez de ser seus pensamentos e suas emoções, seja a consciência por trás deles.

sábado, 10 de junho de 2017

Os Filhos

Kahlil Gibran
(Do livro "O Profeta")

Uma mulher que carregava o filho nos braços disse: "Fala-nos dos filhos."
E ele falou:
Vossos filhos não são vossos filhos.          
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.          
Vêm através de vós, mas não de vós.          
E embora vivam convosco, não vos pertencem.          
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,          
Porque eles têm seus próprios pensamentos.          
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas,          
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,          
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.          
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,          
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.          
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.          
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força,         
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.          
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:          
Pois assim como ele ama a flecha que voa,          
Ama também o arco que permanece estável.

domingo, 4 de junho de 2017

Maestria da Mente

J.s.
Havia certa vez um monge que estudava assiduamente todos os dias, mas não conseguia aprender todas as escrituras e preceitos. Ele se tornou muito ansioso e não conseguia dormir.      Finalmente, ele se aproximou de Buda. “Senhor, por favor, tome de volta meu manto. Existem muitos ensinamentos e eu não posso ter a maestria de todos eles. Eu não estou capacitado para ser um monge.”

O Buda respondeu: “Não se preocupe. Para ser livre, você deve ter a maestria de apenas uma coisa.”

“Por favor, ensine-a a mim”, implorou o monge. “Se o Senhor me der apenas uma prática, eu a exercitarei de todo o coração e estou certo de que serei bem sucedido.”

Assim o Buda disse a ele: “Adquira a maestria da mente. Quando você assim o fizer, saberá todas as coisas.”

Quando temos a maestria da mente, somos livres de todos os sofrimentos. Não há necessidade de nenhum outro ensinamento.