terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Olhar para dentro

Sogyal Rinpoche
A diferença que essa leve mudança de orientação pode fazer é enorme, e pode reverter aqueles desastres que ameaçam o mundo. Quando um número muito maior de pessoas conhecer a natureza de sua mente, conhecerá, também, a gloriosa natureza do mundo em que vive e lutará com urgência e coragem para preservá-lo.

Olhar para dentro exige de nós grande sutileza e coragem – nada menos que uma mudança completa em nossa atitude com relação à vida e à mente.     Estamos de tal modo viciados em olhar para fora de nós mesmos que perdemos, quase por completo, o acesso ao nosso ser interior.

Ficamos apavorados com a idéia de olhar para dentro, porque nossa cultura não nos dá a mais vaga idéia do que encontraremos. Poderá até pensar que, se o fizermos, correremos o risco de enlouquecer. Esse é um dos últimos e mais engenhosos estratagemas de nosso ego para evitar que descubramos nossa verdadeira natureza.
  
Assim, tornamos nossas vidas tão febris, que eliminamos delas o mais ligeiro risco de olhar para dentro de nós. Mesmo a idéia de meditação pode assustar as pessoas. Quando ouvem falar nas palavras “ausência de ego” ou “vacuidade”, elas pensam que experimentar esses estados equivale a ser lançado da escotilha de uma nave espacial e flutuar para sempre no vazio escuro e gelado do espaço.

Nada poderia estar mais distante da realidade. Mas, num mundo dedicado à distração, o silêncio e a quietude nos atemorizam. Protegemo-nos, então, com o barulho e a atividade frenética. Observar a natureza de nossa mente é a última coisa que ousaríamos fazer.
  
Às vezes, penso que não queremos fazer perguntas verdadeiras para saber quem somos, por medo de descobrir que existe uma outra realidade diferente desta. O que esta descoberta faria da maneira como vivemos até agora? Como nossos amigos e colegas reagiriam ao que agora sabemos? Que faríamos com esse novo saber?

Com o conhecimento vem a responsabilidade. Às vezes, mesmo quando a porta da cela se abre, o prisioneiro prefere não sair.
              
                                           In: "O Livro Tibetano do Viver e do Morrer".

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