sábado, 25 de setembro de 2021

Antologia do Êxtase

Pierre Weil

Cerca de vinte anos atrás, uma experiência inusitada provocou uma reviravolta em minha vida, consagrada à pesquisa científica e ao ensino da psicologia na Universidade.


Sob a influência de uma iniciação recebida de Muktananda, tive a experiência da elevação da energia primordial da Kundalini. Fui inundado por uma alegria imensa e por uma irresistível disposição para auxiliar os outros a passarem por esse tipo de experiência. Um amor imenso por toda a humanidade tomou conta de mim. Permaneci nesse  estado de graça por vários dias.

Qual a vantagem para o homem contemporâneo, imerso nesta civilização científica e tecnológica que oferece tanto conforto, em tomar contato com testemunhos de uma experiência interior de natureza espiritual e mística? Não estaria tudo isso ultrapassado pela investigação científica?

Um exame mais atento dessa questão leva-nos a uma resposta mais do que evidente. Observando-se o que se passa no mais íntimo do coração daqueles que atingiram esse nível de conforto, é fácil comprovar que a felicidade que almejavam obter com tal conforto não foi alcançada. Além disso, uma certa nostalgia toma conta de sua alma: a nostalgia de um paraíso perdido que eles confundiram com esse conforto; continuam a buscar por um estado de consciência que se encontra neles mesmos.

"O Reino do Pai está em vós", já dizia Jesus e Buda insistia em que o fim do sofrimento humano se encontra na descoberta da verdadeira natureza do espírito que está em nós. Esta descoberta é acompanhada de um estado de paz e de uma plenitude indescritíveis.

Ora, é justamente desse estado de Sabedoria primordial e de Amor que o homem contemporâneo mais necessita. Sua neurose fundamental, à qual denominamos de "neurose do paraíso perdido", provém justamente dessa separação resultante de um véu - o véu de Ísis - que separa nosso estado de vigília do estado transpessoal. Da árvore do conhecimento do bem e do mal, isto é, da percepção dualista do real, ele é capaz de regressar à árvore da vida. O paraíso encontra-se em nós mesmos, em cada um de nós, sem exceção.

Uma vez tocado pelo transpessoal, não há retorno possível. Pouco a pouco percebemos que não estamos sós, que existe uma Presença que nos guia, através de um aprendizado nem sempre fácil e, por vezes, doloroso.

Quando algum dia, no 3º milênio, se indagar qual tenha sido a mais importante descoberta do século XX, a resposta será o estado transpessoal da consciência ou consciência cósmica.

Os estados místicos e as perspectivas das grandes tradições espirituais da humanidade atraíram a atenção de muitos físicos. Ao retornar da Lua, o astronauta Edgard Mitchell declarou: "Mais importante que a exploração dos espaços exteriores, é a investigação dos espaços interiores". Foi em conseqüência de uma experiência mística, ocorrida durante a viagem espacial, que ele abandonou sua profissão para se dedicar a pesquisas e criar um instituto de ciências noéticas.

A Declaração de Veneza, da Unesco, assinada por diversos prêmios Nobel, reconhece que a ciência atingiu os limites onde se revela a necessidade de sua aproximação com as tradições espirituais. Além disso, trata-se de um grito de alerta com respeito à aplicação unilateral da tecnologia científica, divorciada da sabedoria primordial.

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