sábado, 22 de julho de 2017

O Corpo de Dor

Eckhart Tolle
No caso da maioria das pessoas, quase todos os pensamentos costumam ser involuntários, automáticos, repetitivos. Num sentido estrito, não pensamos – o pensamento acontece em nós. Para essas pessoas, a afirmação “eu penso” é tão falsa quanto “eu faço a digestão” ou “eu faço meu sangue circular”. A digestão acontece, a circulação acontece, o pensamento acontece.

As pessoas vivem possuídas pelo pensamento, pela mente. E, uma vez que a mente é condicionada pelo passado, então somos forçados a reinterpretá-lo sem parar.

Embora o corpo seja muito inteligente, ele não consegue diferenciar uma situação real de um pensamento. Por isso, reage a todo pensamento como se fosse a realidade. Para o corpo, um pensamento preocupante, assustador, corresponde a “Eu estou em perigo”, e ele responde à altura, embora a pessoa que esteja pensando isso possa estar numa cama quente e confortável.

Por causa da tendência humana de perpetuar emoções antigas, quase todo mundo carrega no seu corpo energético um acúmulo de antigas dores emocionais, que eu chamo de “corpo de dor”. Toda emoção negativa que não é plenamente enfrentada nem considerada pelo que ela é, no momento em que se manifesta, não se dissipa por inteiro. Deixa atrás de si um traço remanescente de dor.

O ego não é apenas a mente não observada, a voz na cabeça que finge ser nós, mas também as emoções não observadas que constituem as reações do corpo ao que essa voz diz. A voz na cabeça (os pensamentos) conta ao corpo uma história em que ele acredita e à qual reage. Essas reações são as emoções. Estas, por sua vez, devolvem energia para os pensamentos que as criaram originalmente. Esse é o círculo vicioso entre emoções e pensamentos.

É nossa presença consciente que rompe a identificação com o corpo de dor. Assim que desfazemos sua ligação com nosso pensamento, ele começa a perder energia. A energia que estava presa no corpo de dor muda sua freqüência vibracional e é convertida em presença. Dessa maneira, o corpo de dor se torna combustível para a consciência. É por isso que muitas das pessoas mais sábias e iluminadas do planeta já tiveram um corpo de dor bastante pesado.

Uma pergunta que as pessoas costumam fazer é: “De quanto tempo precisamos para nos libertar do corpo de dor?”. Não é o corpo de dor, e sim a identificação com ele que causa o sofrimento. É essa identificação que nos leva a reviver o passado vezes sem conta e nos mantém no estado de inconsciência. Assim, uma pergunta mais importante a fazer seria esta: “De quanto tempo necessitamos para nos libertar da identificação com o corpo de dor?”.  A resposta a essa pergunta é: não demora tempo nenhum. Sempre que o corpo de dor estiver em atividade, temos que estar cientes de que o que estamos sentindo é o corpo de dor em nós. Esse reconhecimento é tudo que precisamos para interromper a identificação com ele. E quando essa identificação cessa, a transmutação tem início.

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