domingo, 18 de março de 2018

A essência dos ensinamentos de Buda

Thich Nhat Hang
As coisas não continuam iguais durante dois momentos consecutivos; portanto, não existe nada que possa ser considerado como um eu permanente. Antes de você entrar na sala onde está agora, você era diferente tanto física como mentalmente. 

Ao saber que a pessoa que amamos é impermanente, daremos mais valor a ela. A impermanência nos ensina a valorizar cada momento de nossa vida, bem como todas as coisas que estão ao nosso redor e dentro de nós.

Buda, Jesus e todos os outros grandes Mestres não morreram. O Buda não pode estar confinado a 2.600 anos. A flor não está limitada à sua breve manifestação. Tudo se manifesta por meio de imagens. Se ficarmos presos às imagens, sempre teremos medo de perder as manifestações específicas.
 
Você não precisa morrer para entrar no Nirvana, nem no reino de Deus. Você só precisa ter um contato profundo com o momento presente, agora mesmo. Nossos conceitos sobre as coisas nos impedem de entrar em contato com as coisas. Um ser verdadeiro é uma coisa muito diferente de um conceito. Observe profundamente para ser capaz de vencer a distância que existe entre seu conceito da realidade e a realidade em si.

A meditação é uma ferramenta que nos ajuda a eliminar os conceitos. A atenção plena nos ajuda a resgatar o paraíso que julgávamos perdido. Um buda é alguém que vive em paz, alegria e liberdade; alguém que não tem medo nem está apegado a nada. 

Durante os últimos meses de vida do Buda, ele sempre ensinava “Refugiem-se em si mesmos e não em outras coisas. Não saiam buscando coisas que estão longe. Tudo o que precisam está em seus próprios corações. Sejam como ilhas em si mesmos”

Todas as vezes que damos um passo consciente, temos a oportunidade de sair da terra da tristeza para a terra da alegria. O Reino de Deus é uma semente dentro de nós. Pratiquem a travessia para a outra margem sempre que sentirem necessidade.

O primeiro e principal fator do despertar é a atenção plena, o que significa “recordar-se”, não esquecer onde estamos, o que estamos fazendo. A atenção plena sempre surge dentro do contexto do relacionamento com nós mesmos, com as outras pessoas e com as coisas. Quando estamos treinados pela prática, cada vez que inspiramos e expiramos, a atenção plena surge, o que transforma a respiração em causa e condição para o aparecimento da atenção plena.

O despertar está sempre disponível, ao nosso alcance. Só precisa de condições favoráveis. O sol está lá, mesmo quando escondido pelas nuvens. Para transformar o inferno no paraíso, precisamos mudar a mentalidade na qual nos baseamos. Imaginem mil pessoas que não tenham percepções errôneas, raiva nem inveja, mas que tenham amor, compreensão e felicidade. Se essas pessoas se juntam, formando uma comunidade, será um paraíso. As mentes das pessoas é que são a base do paraíso.  Com sua mente iludida, você transforma a sua vida em inferno, mas com a mente verdadeira, você cria o paraíso.

Precisamos de locais onde possamos nos sentar, respirar calmamente, olhar para dentro de nós e também escutar. Quando temos dificuldades em casa, precisamos de um quarto, onde possamos nos refugiar. Também necessitamos de parques e outros locais tranquilos para praticar a meditação andando, a sós ou em companhia de outras pessoas.

Precisamos do sofrimento para conseguir enxergar o caminho. A origem da dor, a cessação do sofrimento e o caminho que leva à cessação do sofrimento são todos encontrados no âmago do sofrimento. Se tivermos medo de entrar em contato com o nosso sofrimento, não conseguiremos percorrer o caminho da paz, da alegria e da liberação.

Não fuja. Entre em contato com o seu sofrimento e abrace-o. Faça as pazes com ele. O Buda disse: “No instante em que você sabe como o seu sofrimento surgiu, já está a caminho de se libertar dele”. Se você tem consciência do que acontece, e como isso chegou a acontecer, já está a caminho da libertação.

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