quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Trajetória de uma vida a outra

Paco Rabanne
As minhas excursões extra corporais tinham despertado a Kundalini, seguida de toda uma transformação interna. Na época, não conhecia nada dessa Kundalini e desses chacras, tal como dos segredos da sabedoria hindu, mas não tardei a experimentar os sinais do despertar dessa força interior.

Cada homem, cada mulher tem em si o seu duplo feminino ou masculino. A unidade está oculta no fundo de nós mesmos. É por isso que o Alquimista nos diz: “Desce às tuas entranhas, como Orfeu aos infernos, para encontrar Eurídice; como Dante em busca de Beatriz, e tornar-te-ás  um ser completo, um Jano, um rei-rainha coroado; tornar-te-ás o andrógino sagrado e não serás mais que Um com Deus.  “Visita interiora terrae et invenies ocultum lapidem”. Explora o interior da terra e encontra a pedra oculta.

Se eu tivesse uma mensagem, seria esta: “Atenção, o que vêem aqui em baixo não é tudo. E o resto vos é acessível, com esforço, se souberem encontrar as chaves. As chaves não são inacessíveis; trazemo-las dentro de nós mesmos. “Explora as tuas entranhas e encontrarás a pedra oculta”.

O Conhecimento está oculto, semelhante à deusa egípcia Isis, que aparecia com o rosto escondido por um véu. Este véu é, em primeiro lugar, o mundo material, cujas aparências enganosas nos escondem o essencial.

No momento de sua encarnação, o nosso ser foi bruscamente cindido em dois, na dor. Ele, que era andrógino num plano vibratório, tornou-se homem ou mulher sobre a terra.

Dito de outro modo, este outro nós mesmos, que por vezes passamos uma vida inteira a procurar, está enterrado em nossas entranhas. Suplicamos o acaso de o pôr no nosso caminho, enquanto que basta descer em nós, pois a nossa metade dorme em nós, escondida no fígado, este órgão essencial. Enquanto não tivermos tomado consciência disso, a busca amorosa continuará decepcionante.

Hoje, a minha oração é raramente formulada. Ela consiste principalmente em criar o vazio interior, em impôr-me o silêncio total.

A meditação permite-nos aceder diretamente a Deus. Não há nenhuma necessidade de intermediário. Pelo amor e pela oração, nós nos comunicamos com Deus.

A grande força do Corão é que ele é um hino de amor do homem em direção a Deus, sem intermediário. O sufismo, esse ascetismo do Islão, desenvolveu particularmente essa noção de amor sagrado que permite, durante o decorrer de nossa vida terrestre, unirmo-nos ao divino.

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