sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Enildes Corrêa
Tenho em mãos um livro de espiritualidade, escrito por Anne Bancroft e cujo título é “Femmes em quête d´absolu” –( Mulheres em busca do absoluto.) Consta do mesmo a vivência de uma série de mulheres notáveis, como Simone Weil, Elisabeth Kubler-Ross e várias outras. E pensei comigo mesmo: bem poderia constar também nesse elenco o nome de Enildes Corrêa.  Na índia, onde morou por algum tempo, ela teve a sorte de encontrar um mestre iluminado, chamado Kiran Kanakia.  Nenhuma  técnica terapêutica que Enildes conhecia lhe ensejara o estado de plenitude que ela então experienciou, na simples convivência com um “Ser Acordado.” Foi no decorrer dessa convivência que ela se tornou intima do silêncio interior.

Auto conhecimento - Caminho para o amor

Faz parte da natureza humana a busca do amor. Queremos ser aceitos, compreendidos, ser amados, enfim. Queremos sentir o calor humano, sem o qual é quase impossível sobrevivermos saudavelmente. O engano, porém, é concentrar essa busca de afeto somente fora de nós mesmos, o que faz prevalecer um constante desassossego interno.

Ao tomar consciência dessa intranquilidade, uns vão procurar se olhar e se compreender melhor através da busca do autoconhecimento. Optam por dar um mergulho nas profundezas do seu Ser, para emergir com mais paz, amor e sabedoria.

Outros, na ânsia de serem aceitos e amados, entram em caminhos distorcidos, feitos de atalhos, cheios de ilusões. E, quanto mais caminham, mais distantes ficam do que  buscam. Fogem do sentir a si mesmos, da verdade de suas vidas, através do sexo, da conquista do poder, do dinheiro, do status social, bem como do uso do álcool e de outras drogas.

Há, também, um outro tipo de amortecimento muito comum: a fuga da realidade através do fazer, do trabalho. As pessoas se mantêm muito ocupadas, fazendo algo o tempo inteiro, mesmo que o corpo não aguente.  Ao parar, vão entrar em contato com as emoções e sentimentos reprimidos que lhes causam dor e sofrimento. E, para não sentir, não param. No entanto, é olhando a dor de frente que ela se dissolve e as suas marcas podem ser apagadas de modo natural. A vida faz os ajustes necessários, no devido tempo.

Inquietações, desconfortos ou dores, cujas raízes são internas, não se eliminam com coisas do mundo externo. Acumulação de bens materiais, poder e status social não curam os problemas de ordem emocional de ninguém; ao contrário, camuflam a realidade, impedindo o processo de transformação.

Se não acordamos em tempo, corremos o risco de viver sempre isolados de nós mesmos, a procurar no mundo externo o que está dentro: a nossa fonte suprema de amor. Se não conseguimos voltar os olhos para dentro de nós mesmos, não obtemos o almejado sustento emocional e espiritual. Tornamo-nos adultos infantis, carentes e dependentes.

Quantas vezes desejamos e cobramos das pessoas com as quais nos relacionamos algo que não fomos capazes de nos dar, como atenção, amizade, aceitação, carinho, respeito, compreensão? Como querer que o outro nos dê aquilo que não nos damos?  É contraditório... 

Se nos aprofundamos no autoconhecimento, não ficamos carentes e necessitados o tempo todo de atenção externa; vamos descobrir que dentro de nós existe um tesouro, que nos acalenta eternamente, um bálsamo sagrado de silêncio e amor, que nos ampara em qualquer situação. O nosso valor não dependerá de nota dez ou zero de ninguém a nosso respeito. Ganhamos forças para encarar a realidade e deixamos as ilusões, imagens e fantasias caírem. Não ficamos à mercê do julgamento do outro. Vamos ser nós mesmos, mais livres, amorosos e espontâneos, com menos julgamentos e muito mais aceitação, conosco e com os outros. Existem pouquíssimas coisas que poder e dinheiro não compram, entre elas, a paz de espírito, a verdadeira autoestima e o amor sincero de alguém.

À medida que nos interiorizamos, expande-se em nós o sentimento de autoaceitação e  amadurecemos emocionalmente e, em consequência, aumentamos as nossas possibilidades de atrair pessoas com as quais podemos nos relacionar de forma mais consistente e amorosa, com base no respeito recíproco e com uma troca sincera de afeto, ao invés do apego e da dominação que “coisificam” as pessoas.

As potencialidades mais belas do ser humano ficam invisíveis, vistas da superfície. Se quisermos descobri-las e vivenciá-las, temos que perder o medo das águas profundas e dar um mergulho em nosso ser, de onde resgatamos o senso maior de dignidade, respeito e valorização da nossa expressão. Assim, abrimos passagem para o amor entrar e fluir em nossas vidas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário